Estamos agora em
junho e o poeta alude ao fato de que, na natureza – e o homem não deixa de
tomar parte nela –, é durante este ensejo que os pássaros fazem ninhos e buscam
parceiro(a)s para gerar rebentos: é a vida que providencia os próprios meios
para que ela perdure no tempo.
No que tange ao
projeto de Coppée, regressa ele à notícia de que sua amada já partira há alguns
meses e o seu bosquejo ficou incompleto, motivo pelo qual o compara à um ninho
que o tufão arrebatou, atirando à terra os ovos que eram fruto e promessa de
continuidade.
J.A.R. – H.C.
François Coppée
(1842-1908)
Juin
Dans cette vie ou
nous ne sommes
Que pour un temps si
tôt fini,
L’instinct des
oiseaux et des hommes
Sera toujours de
faire un nid;
Et d’un peu de paille
ou d’argile
Tous veulent se
construire, un jour,
Un humble toit, chaud
et fragile,
Pour la famille et
pour l’amour.
Par les yeux d’une
fille d’Ève
Mon coeur
profondément touché
Avait fait aussi ce
doux rêve
D'un bonheur étroit
et caché.
Rempli de joie et de
courage,
A fonder mon nid je
songeais;
Mais un furieux vent
d’orage
Vient d'emporter tous
mes projets;
Et sur mon chemin
solitaire
Je vois, triste et le
front courbé,
Tous mes espoirs
brisés à terre
Comme les oeufs d’un
nid tombé.
Junho Glorioso
(Gill Bustamante: pintora inglesa)
Junho
No curso ligeiro e
breve
Desta vida, o
passarinho
E o homem sempre o
instinto teve (*)
De fabricar o seu
ninho.
Um pouco de argila ou
palha
Buscam e fazem o
teto,
Que, humilde e quente
agasalha
Sua prole e seu
afeto.
Por um olhar feminino
Tocada, sonhou
minh’alma
No amor, embalar-se
no hino
Da ventura ignota e
calma.
De fabricar,
jubiloso,
Meu ninho tive o
desejo,
Mas um tufão
impetuoso
Varreu-me o tênue
bosquejo.
Sobre meu triste
caminho
Meus sonhos vejo
tombados,
Como os ovos que de
um ninho
Caem por terra
quebrados.
(10 de maio de 1881)
Nota:
(*). Percebe-se que a
regência do verbo neste verso, s.m.j., resultou falha, no momento em que a
ideia do original foi reescrita em português, quando o correto seria “No curso
ligeiro e breve desta vida, o passarinho e o homem sempre o
instinto tiveram de fabricar o seu ninho”, mantido o hipérbato, a
despeito da intenção explícita dos tradutores em forjar rima com o primeiro
verso da estrofe.
Note-se que a
tradução literal do original em francês conjuga o verbo na terceira pessoa do
singular, pois se reporta à palavra “instinto”, assim: “Nesta vida em que
apenas estamos por um tempo tão prontamente findo, o instinto dos pássaros e
dos homens sempre será fazer um ninho”.
Por conseguinte,
talvez os poetas brasileiros chegassem a um resultado menos duvidoso se
redigissem da seguinte maneira a versão: “No curso ligeiro e breve desta vida,
do passarinho e do homem sempre o instinto teve de fabricar-lhes o ninho”.
Referência:
COPPÉE, François.
Juin / Junho. Tradução de Raimundo Correia e Valentim Magalhães. In: __________. Poesias
completas de Raimundo Correia. Vol. II. Organização, prefácio e notas de
Múcio Leão. São Paulo, SP: Companhia Editora Nacional, 1948. Em francês: p.
452; em português: p. 377.
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