Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 26 de junho de 2018

E. E. Cummings - Impressão IX

São bastante dominantes as imagens que o poeta emprega em seu poema para deixarem de ser percebidas pelo leitor: as inversões nas duplas morte e vida, ascender e descender, luz natural do alvorecer e luz de vela ao anoitecer, sonhos do sono e os devaneios poéticos, a vida penosa da cidade e a vida melodiosa e estrelada da mente, e por aí vai.

 

Poemas são como estrelas que a presença ou não da luz natural sobre os céus ocultam ou ressaltam: nesse vai e vem sucessivo de dias e noites, a poesia ora se passa nos sonhos do poeta ora se decanta em poemas que rebrilham no firmamento durante a noite, pois durante o dia somente há espaço para o árduo transcorrer da lida.

 

J.A.R. – H.C.

 

E. E. Cummings

(1894-1962)

 

Impression IX

 

the hours rise up putting off stars and it is

dawn

into the street of the sky light walks scattering poems

 

on earth a candle is

extinguished         the city

wakes

with a song upon her

mouth having death in her eyes

 

and it is dawn

the world

goes forth to murder dreams...

 

i see in the street where strong

men are digging bread

and i see the brutal faces of

people contented hideous hopeless cruel happy

 

and it is day,

 

in the mirror

i see a frail

man

dreaming

dreams

dreams in the mirror

 

and it

is dusk on         earth

 

a candle is lighted

and it is dark.

the people are in their houses

the frail man is in his bed

the city

 

sleeps with death upon her mouth having a song

in her eyes

the hours descend,

putting on stars...

 

in the street of the sky night walks scattering poems

 

Homem na Noite

(Maria Karalyos: pintor romena)

 

Impressão IX

 

As horas emergem apagando as estrelas e é

madrugada

nas ruas do céu a luz caminha a entornar poemas

 

na terra uma vela

se extingue         a cidade

desperta

com uma canção em sua

boca e a morte nos olhos

 

e é madrugada

o mundo

sai para dizimar sonhos...

 

vejo na rua homens

fortes cavando em busca de pão

e observo os rostos brutais de

gente satisfeita medonha desesperançada cruel feliz

 

e já é dia,

 

no espelho

vejo um frágil

homem

a sonhar

sonhos

sonhos no espelho

 

e cai

o crepúsculo         sobre a terra

 

uma vela se acende

na escuridão.

as pessoas abrigam-se em suas casas

o homem frágil está sobre a cama

a cidade

 

adormece com a morte em sua boca e uma canção

nos olhos

as horas imergem,

assentando estrelas...

 

nas ruas do céu a luz caminha a entornar poemas

 

Referência:

 

CUMMINGS, E. E. Impression IX. In: __________. Complete poems: 1904-1962. Edited by George James Firmage. New York, NY: Liveright Publishing Corporation, 1991. p. 67.

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