São bastante
dominantes as imagens que o poeta emprega em seu poema para deixarem de ser
percebidas pelo leitor: as inversões nas duplas morte e vida, ascender e
descender, luz natural do alvorecer e luz de vela ao anoitecer, sonhos do sono
e os devaneios poéticos, a vida penosa da cidade e a vida melodiosa e estrelada
da mente, e por aí vai.
Poemas são como
estrelas que a presença ou não da luz natural sobre os céus ocultam ou
ressaltam: nesse vai e vem sucessivo de dias e noites, a poesia ora se passa
nos sonhos do poeta ora se decanta em poemas que rebrilham no firmamento
durante a noite, pois durante o dia somente há espaço para o árduo transcorrer
da lida.
J.A.R. – H.C.
E. E. Cummings
(1894-1962)
Impression IX
the hours rise up
putting off stars and it is
dawn
into the street of
the sky light walks scattering poems
on earth a candle is
extinguished the
city
wakes
with a song upon her
mouth having death in
her eyes
and it is dawn
the world
goes forth to murder
dreams...
i see in the street
where strong
men are digging bread
and i see the brutal
faces of
people contented
hideous hopeless cruel happy
and it is day,
in the mirror
i see a frail
man
dreaming
dreams
dreams in the mirror
and it
is dusk
on earth
a candle is lighted
and it is dark.
the people are in
their houses
the frail man is in
his bed
the city
sleeps with death
upon her mouth having a song
in her eyes
the hours descend,
putting on stars...
in the street of the
sky night walks scattering poems
Homem na Noite
(Maria Karalyos: pintor romena)
Impressão IX
As horas emergem
apagando as estrelas e é
madrugada
nas ruas do céu a luz
caminha a entornar poemas
na terra uma vela
se
extingue a cidade
desperta
com uma canção em sua
boca e a morte nos
olhos
e é madrugada
o mundo
sai para dizimar
sonhos...
vejo na rua homens
fortes cavando em
busca de pão
e observo os rostos
brutais de
gente satisfeita
medonha desesperançada cruel feliz
e já é dia,
no espelho
vejo um frágil
homem
a sonhar
sonhos
sonhos no espelho
e cai
o
crepúsculo sobre a terra
uma vela se acende
na escuridão.
as pessoas abrigam-se
em suas casas
o homem frágil está
sobre a cama
a cidade
adormece com a morte
em sua boca e uma canção
nos olhos
as horas imergem,
assentando
estrelas...
nas ruas do céu a luz
caminha a entornar poemas
Referência:
CUMMINGS, E. E.
Impression IX. In: __________. Complete poems: 1904-1962.
Edited by George James Firmage. New York, NY: Liveright Publishing Corporation,
1991. p. 67.
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