O poeta faz a exegese de sua própria obra neste poema – uma associação da
inquietude que lhe assola o espírito com a vida que é de todos –, ele que, médico
de formação, aprendeu a auscultar o ser humano, misto de luzes e sombras a
beirar a eternidade ou o desterro.
É para um livro futuro que Martínez escreveu tais versos, isto podendo
representar quer o propósito óbvio e imediato de levar os seus poemas a prelo
daí a pouco, quer ainda a hipotética pretensão de que o livro em apreço perdure
num porvir, por força de sua mensagem humana – profunda e tão estritamente
humana.
J.A.R. – H.C.
Enrique González Martínez
(1871-1952)
Para un libro
Quiero con mano firme
y con aliento puro,
escribir estos versos
para un libro futuro:
Este libro es mi
vida... No teme la mirada
aviesa de los
hombres; no hay en sus hojas nada
que no sea la frágil
urdimbre de otras vidas:
ímpetus y fervores,
flaquezas y caídas.
La frase salta a
veces palpitante y desnuda;
otras, con el ropaje
del símbolo se escuda
de viles suspicacias.
Aquel a quien extrañe
este pudor del
símbolo, que no lo desentrañe.
Este libro no enseña,
no conforta, ni guia,
y la inquietud que
esconde es solamente mía;
mas en mis versos
flota, diafanidad o arcano,
la vida que es de
todos. Quien lea, no se asombre
de hallar en mis
poemas la integridad de un hombre,
sin nada que no sea
profundamente humano.
Natureza-Morta com Livros
(Olga Vlasova:
pintora russa)
Para um livro
Com mão firme e com
ânimo puro, quero
escrever estes versos
para um livro futuro:
Este livro é minha
vida... Não teme o olhar
pravo dos homens; em
suas folhas nada há
que não seja a frágil
trama de outras vidas:
ímpetos e fervores,
fraquezas e prostrações.
A frase salta às
vezes palpitante e desnuda;
outras, com a roupa do
símbolo protege-se
de vis suspeitas. Aquele
a quem surpreenda
este pudor do
símbolo, que não o deslinde.
Este livro não ensina, nem conforta ou guia,
e a inquietude que esconde é minha apenas;
mas secreta ou à luz,
flutua em meus versos
a vida que é de todos.
Não se espante quem
o leia, ao deparar com
a integridade de um
homem em meus poemas,
sem relação com
nada que não seja
profundamente humano.
Referência:
MARTÍNEZ, Enrique González. Para un
libro. In: __________. Antología de su
obra poética. Selección y prólogo de Jaime Torres Bodet. 1. ed. México, DF:
Fondo de Cultura Económica, 1971. p. 94.
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