Baraka foi um dos poetas da geração “beat” nos anos cinquenta, embora,
algumas décadas depois, dela tenha se distanciado, quando se dedicou às questões
de ordem social e racial – sendo ele um negro –, motivo por que algumas linhas
deste seu poema tecem críticas ao falso comportamento da sociedade
norte-americana.
Observa-se certo paralelismo na mensagem de Baraka com a de alguns
versos de outro grande poeta da mesma geração – nominalmente Allen Ginsberg –, a
exemplo das linhas preambulares de “Howl”
(“Uivo”), a denotar a crise de uma geração inteira afogada em “sexo, drogas e
rock & roll”.
J.A.R. – H.C.
(1934-2014)
The New World
The sun is folding,
cars stall and rise
beyond the window.
The workmen leave
the street to the
bums and painters’ wives
pushing their babies
home. Those who realize
how fitful and
indecent consciousness is
stare solemnly out on
the emptying street.
The mourners and soft
singers. The liars,
and seekers after
ridiculous righteousness. All
my doubles, and
friends, whose mistakes cannot
be duplicated by
machines, and this is all of our
arrogance. Being
broke or broken, dribbling
at the eyes. Wasted
lyricists, and men
who have seen their
dreams come true, only seconds
after they knew those
dreams to be horrible conceits
and plastic fantasies
of gesture and extension,
shoulders, hair and
tongues distributing misinformation
about the nature of
understanding. No one is that simple
or priggish, to be
alone out of spite and grown strong
in its practice,
mystics in two-pants suits. Our style,
and discipline,
controlling the method of knowledge.
Beatniks, like
Bohemians, go calmly out of style. And boys
are dying in Mexico,
who did not get the word.
The lateness of their
fabrication: mark their holes
with filthy needles.
The lust of the world. This will not
be news. The simple
damning lust,
float flat magic in
low changing
evenings. Shiver your
hands
in dance. Empty all
of me for
knowing, and will the
danger
of identification,
Let me sit and go blind
in my dreaming
and be that dream in
purpose and device.
A fantasy of defeat,
a strong strong man
older, but no wiser
than the defect of love.
(1969)
efeitos da intemperança
(Jan Havickszoon
Steen: pintor holandês)
O Novo Mundo
O sol vai se pondo,
os carros congestionam e se insurgem
do outro lado da
janela. Os operários deixam
a rua aos mandriões e
as esposas dos pintores
empurram os seus
bebês para casa. Aqueles que se dão conta
de quão volúvel e
indecente é a consciência,
ficam a contemplar
solenemente a rua vazia.
Os dolentes e afáveis
cantores. Os embusteiros
e os que correm atrás
de uma justiça ridícula. Todos
os meus sósias e
amigos, cujos erros não podem
ser duplicados por
máquinas, e isso é toda a nossa
arrogância. Existências
falidas ou quebradas, ressumando
aos olhos. Letristas
desperdiçados e homens
que, vendo seus
sonhos tornar-se realidade, apenas alguns
segundos depois
souberam que tais sonhos eram conceitos
horríveis e fantasias
plásticas de gesto e extensão,
ombros, cabelos e
língua a distribuir desinformação
sobre a natureza do
entendimento. Ninguém é tão simples
ou pretensioso para
estar sozinho por despeito e tornar-se forte
em sua prática, feito
místicos em ternos completos. Eis nosso estilo
e disciplina a manter
sob controle o método do conhecimento.
Beatniks, como
Boêmios, saem da moda tranquilamente. E garotos
estão morrendo no
México, sem que tenham apreendido a palavra.
A demora na produção:
fique atento às suas picuras
com agulhas sujas. A
luxúria do mundo. Isso não
será notícia. A
simples e maldita luxúria,
flutue na monótona
magia em noites que pouco
se alteram. Desembarace
suas mãos
ao dançar. Esvazie
tudo de mim diante do
conhecimento, e
deseje o perigo da identificação.
Deixe-me sentar e
quedar-me cego em meu sonhar
e ser esse sonho em
intenção e programa.
Uma fantasia de
derrota, um homem bem mais forte,
mais velho, porém não
mais sábio que o defeito do amor.
(1969)
Referência:
BARAKA, Amiri. The new world. In:
HOOVER, Paul (Ed.). A postmodern
american poetry: a norton anthology.
New York, NY: W. W. Norton & Company Inc., 1994. p. 261-262.
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