Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 17 de junho de 2018

Amiri Baraka - O Novo Mundo ‎

Baraka foi um dos poetas da geração “beat” nos anos cinquenta, embora, algumas décadas depois, dela tenha se distanciado, quando se dedicou às questões de ordem social e racial – sendo ele um negro –, motivo por que algumas linhas deste seu poema tecem críticas ao falso comportamento da sociedade norte-americana.

Observa-se certo paralelismo na mensagem de Baraka com a de alguns versos de outro grande poeta da mesma geração – nominalmente Allen Ginsberg –, a exemplo das linhas preambulares de Howl” (“Uivo”), a denotar a crise de uma geração inteira afogada em “sexo, drogas e rock & roll”.

J.A.R. – H.C.

Amiri Baraka
(1934-2014)

The New World

The sun is folding, cars stall and rise
beyond the window. The workmen leave
the street to the bums and painters’ wives
pushing their babies home. Those who realize
how fitful and indecent consciousness is
stare solemnly out on the emptying street.
The mourners and soft singers. The liars,
and seekers after ridiculous righteousness. All
my doubles, and friends, whose mistakes cannot
be duplicated by machines, and this is all of our
arrogance. Being broke or broken, dribbling
at the eyes. Wasted lyricists, and men
who have seen their dreams come true, only seconds
after they knew those dreams to be horrible conceits
and plastic fantasies of gesture and extension,
shoulders, hair and tongues distributing misinformation
about the nature of understanding. No one is that simple
or priggish, to be alone out of spite and grown strong
in its practice, mystics in two-pants suits. Our style,
and discipline, controlling the method of knowledge.
Beatniks, like Bohemians, go calmly out of style. And boys
are dying in Mexico, who did not get the word.
The lateness of their fabrication: mark their holes
with filthy needles. The lust of the world. This will not
be news. The simple damning lust,
float flat magic in low changing
evenings. Shiver your hands
in dance. Empty all of me for
knowing, and will the danger
of identification,

Let me sit and go blind in my dreaming
and be that dream in purpose and device.

A fantasy of defeat, a strong strong man
older, but no wiser than the defect of love.

(1969)

A casa dissoluta ou os
efeitos da intemperança
(Jan Havickszoon Steen: pintor holandês)

O Novo Mundo

O sol vai se pondo, os carros congestionam e se insurgem
do outro lado da janela. Os operários deixam
a rua aos mandriões e as esposas dos pintores
empurram os seus bebês para casa. Aqueles que se dão conta
de quão volúvel e indecente é a consciência,
ficam a contemplar solenemente a rua vazia.
Os dolentes e afáveis cantores. Os embusteiros
e os que correm atrás de uma justiça ridícula. Todos
os meus sósias e amigos, cujos erros não podem
ser duplicados por máquinas, e isso é toda a nossa
arrogância. Existências falidas ou quebradas, ressumando
aos olhos. Letristas desperdiçados e homens
que, vendo seus sonhos tornar-se realidade, apenas alguns
segundos depois souberam que tais sonhos eram conceitos
horríveis e fantasias plásticas de gesto e extensão,
ombros, cabelos e língua a distribuir desinformação
sobre a natureza do entendimento. Ninguém é tão simples
ou pretensioso para estar sozinho por despeito e tornar-se forte
em sua prática, feito místicos em ternos completos. Eis nosso estilo
e disciplina a manter sob controle o método do conhecimento.
Beatniks, como Boêmios, saem da moda tranquilamente. E garotos
estão morrendo no México, sem que tenham apreendido a palavra.
A demora na produção: fique atento às suas picuras
com agulhas sujas. A luxúria do mundo. Isso não
será notícia. A simples e maldita luxúria,
flutue na monótona magia em noites que pouco
se alteram. Desembarace suas mãos
ao dançar. Esvazie tudo de mim diante do
conhecimento, e deseje o perigo da identificação.

Deixe-me sentar e quedar-me cego em meu sonhar
e ser esse sonho em intenção e programa.

Uma fantasia de derrota, um homem bem mais forte,
mais velho, porém não mais sábio que o defeito do amor.

(1969)

Referência:

BARAKA, Amiri. The new world. In: HOOVER, Paul (Ed.). A postmodern american poetry: a norton anthology. New York, NY: W. W. Norton & Company Inc., 1994. p. 261-262.

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