Extraído a um longo poema intitulado “L’Invention”, de 1787, este excerto contém passagem essencial da teoria estética defendida por Chénier – que sucumbiu guilhotinado no curso da Revolução Francesa –, por meio do qual pode-se ver como as palavras são conjugadas maravilhosamente para delas se extrair, nas linhas de cada verso, um efeito musical reiterado em rimas parelhas.
A imitação criativa – dizia-o Chénier – não é repetir indefinidamente as mesmas ideias de antigos poetas, senão usar a forma, estrutura e o estilo que eles empregavam para expressar, nos versos, novos pensamentos ou ideias, os quais, por óbvio, não teriam passado pela mente de um Virgílio ou de um Horácio, por exemplo.
J.A.R. – H.C.
La Poésie
Seule, et la lyre en main, et de fleurs couronnée,
De doux ravissements partout accompagnée,
Aux lieux les plus déserts, ses pas, ses jeunes pas,
Trouvent mille trésors qu’on ne soupçonnait pas.
Sur l’aride buisson que son regard se pose,
Le buisson à ses yeux rit et jette une rose.
Elle sait ne point voir, dans son juste dédain,
Les fleurs qui trop souvent, courant de main en main,
Ont perdu tout l’éclat de leurs fraîcheurs vermeilles;
Elle sait même encore, ô charmantes merveilles!
Sous ses doigts délicats réparer et cueillir
Celles qu’une autre main n’avait su que flétrir.
Elle seule connaît ces extases choisies,
D’un, esprit tout de feu mobiles fantaisies,
Ces rêves d’un moment, belles illusions,
D’un monde imaginaire aimables visions,
Qui ne frappent jamais, trop subtile lumière,
Des terrestres esprits l’oeil épais et vulgaire.
Seule, de mots heureux, faciles, transparents,
Elle sait revêtir ces fantômes errants...
A Poesia
Só, e a lira na mão, e de flores coroada,
De um doce enlevo a toda hora acompanhada,
Nos mais ermos confins, seus passos, jovens passos,
Vão tesouros achar, de que não vemos traços.
Quando na árida sarça ela repousa o olhar,
Ri a sarça e uma rosa atira-lhe, a brincar.
Com discreto desdém ela finge não ver
As flores que ali vão, já quase a fenecer,
De mão em mão passando, exânimes, pendidas;
Mas, doce inspiração! por seus dedos colhidas,
Essas que em outras mãos talvez emurchecessem
Renascem com vigor, e logo reflorescem.
Somente ela conhece os êxtases ardentes,
De um espírito em fogo os ideais moventes,
Os sonhos de um momento, as belas ilusões,
De um mundo imaginário alvas aparições
Que, como luz sutil, não podem alcançar
Do espírito terrestre o olho espesso e vulgar.
Só ela sabe, só, com felizes, clareantes
Palavras revestir essas visões errantes...
Brilhante poema muito bem traduzido, conservando a forma e as rimas. Parabéns!
ResponderExcluirPrezado Ialmar: Agradeço pelo tradutor do poema, José Jeronymo Rivera, tal como se identifica no campo de "Referência" (rs).
ResponderExcluirDe fato, as versões ao português, de minha autoria, são meramente referenciais, para que o internauta possa ter uma ideia do que vai no original, como forma de exercício para também aprimorar a minha interação com idiomas estrangeiros.
Você pode se orientar pela observação que apresento à esquerda do blog, intitulada "Nota Sobre as Traduções".
Um abraço,
João A. Rodrigues