Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 28 de junho de 2018

André Chénier - A Poesia

Extraído a um longo poema intitulado “L’Invention”, de 1787, este excerto contém passagem essencial da teoria estética defendida por Chénier – que sucumbiu guilhotinado no curso da Revolução Francesa –, por meio do qual pode-se ver como as palavras são conjugadas maravilhosamente para delas se extrair, nas linhas de cada verso, um efeito musical reiterado em rimas parelhas.

A imitação criativa – dizia-o Chénier – não é repetir indefinidamente as mesmas ideias de antigos poetas, senão usar a forma, estrutura e o estilo que eles empregavam para expressar, nos versos, novos pensamentos ou ideias, os quais, por óbvio, não teriam passado pela mente de um Virgílio ou de um Horácio, por exemplo.

J.A.R. – H.C.


André Chénier
(1762-1794)
Retrato de Joseph-Benoît Suvée

La Poésie

 

Seule, et la lyre en main, et de fleurs couronnée,

De doux ravissements partout accompagnée,

Aux lieux les plus déserts, ses pas, ses jeunes pas,

Trouvent mille trésors qu’on ne soupçonnait pas.

Sur l’aride buisson que son regard se pose,

Le buisson à ses yeux rit et jette une rose.

Elle sait ne point voir, dans son juste dédain,

Les fleurs qui trop souvent, courant de main en main,

Ont perdu tout l’éclat de leurs fraîcheurs vermeilles;

Elle sait même encore, ô charmantes merveilles!

Sous ses doigts délicats réparer et cueillir

Celles qu’une autre main n’avait su que flétrir.

Elle seule connaît ces extases choisies,

D’un, esprit tout de feu mobiles fantaisies,

Ces rêves d’un moment, belles illusions,

D’un monde imaginaire aimables visions,

Qui ne frappent jamais, trop subtile lumière,

Des terrestres esprits l’oeil épais et vulgaire.

Seule, de mots heureux, faciles, transparents,

Elle sait revêtir ces fantômes errants...


Alegoria da Poesia
(Carlo Dolci: pintor italiano)

A Poesia

 

Só, e a lira na mão, e de flores coroada,

De um doce enlevo a toda hora acompanhada,

Nos mais ermos confins, seus passos, jovens passos,

Vão tesouros achar, de que não vemos traços.

Quando na árida sarça ela repousa o olhar,

Ri a sarça e uma rosa atira-lhe, a brincar.

Com discreto desdém ela finge não ver

As flores que ali vão, já quase a fenecer,

De mão em mão passando, exânimes, pendidas;

Mas, doce inspiração! por seus dedos colhidas,

Essas que em outras mãos talvez emurchecessem

Renascem com vigor, e logo reflorescem.

Somente ela conhece os êxtases ardentes,

De um espírito em fogo os ideais moventes,

Os sonhos de um momento, as belas ilusões,

De um mundo imaginário alvas aparições

Que, como luz sutil, não podem alcançar

Do espírito terrestre o olho espesso e vulgar.

Só ela sabe, só, com felizes, clareantes

Palavras revestir essas visões errantes...


Referência:

CHÉNIER, André. La poésie / A poesia. Tradução de José Jeronymo Rivera. In: RIVERA, José Jeronymo (Organização e tradução). Poesia francesa: pequena antologia bilíngue. 2. ed., revista e aumentada. Brasília, DF: Thesaurus, 2005. Em francês: p. 54; em português: 55.

2 comentários:

  1. Brilhante poema muito bem traduzido, conservando a forma e as rimas. Parabéns!

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  2. Prezado Ialmar: Agradeço pelo tradutor do poema, José Jeronymo Rivera, tal como se identifica no campo de "Referência" (rs).
    De fato, as versões ao português, de minha autoria, são meramente referenciais, para que o internauta possa ter uma ideia do que vai no original, como forma de exercício para também aprimorar a minha interação com idiomas estrangeiros.
    Você pode se orientar pela observação que apresento à esquerda do blog, intitulada "Nota Sobre as Traduções".
    Um abraço,
    João A. Rodrigues

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