Este poema diz muito sobre Clarice Lispector, que em seus últimos anos
de vida transparecia certo cansaço e abatimento com alguns infortúnios que
então lhe alcançaram, como você, leitor, poderá constatar neste vídeo em que ela é entrevistada pelo jornalista Júlio
Lerner (1939-2007).
O desfecho insólito para uma conversa que começou com anedotas sobre a
morte, intercalada com assunto bem mais animado e impressivo – como lances de
uma partida de futebol –, parece ratificar o quando a escritora estava – como
diria? – presa ao domínio da deusa Libitina.
J.A.R. – H.C.
João Cabral de Melo Neto
(1920-1999)
Um dia, Clarice
Lispector
intercambiava com
amigos
dez mil anedotas de
morte,
e do que tem de sério
e circo.
Nisso, chegam outros
amigos,
vindos do último futebol,
comentando o jogo,
recontando-o,
refazendo-o, de gol a
gol.
Quando o futebol
esmorece,
abre a boca um
silêncio enorme
e ouve-se a voz de
Clarice:
Vamos
voltar a falar na morte?
Retrato de Clarice Lispector
(Giorgio
de Chirico: pintor italiano)
Referência:
MELO NETO, João Cabral de. Contam de
Clarice Lispector. In: __________. Agrestes:
poesia (1981-1985). Linguagens Alheias. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Nova
Fronteira, 1985. p. 96. (“Poesia Brasileira”)
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