Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 19 de junho de 2018

Walt Whitman - Quando ouvi o astrônomo erudito ‎

Num tom quase anedótico, Whitman nos coloca frente às distinções entre a aprendizagem acadêmica e aquela que decorre da experiência, pelo emprego de nossas faculdades sensitivas: o ouvinte – o próprio sujeito lírico – entende como tediosas as preleções de um astrônomo sobre as estrelas, eis que carregadas de fórmulas matemáticas.

Não há nada melhor do que ir até o ar livre e olhar para o céu noturno para se ter conexão mais plena com o assunto, circunstância que não se pode experimentar dentro da sala de aula, pouco importando o quanto entendido na matéria seja o mestre: experimentar as maravilhas que a vida nos oferece seria, para Whitman, a forma mais propícia para se aprender.

A atualizar o conteúdo do poema, diria que a desconexão de determinados assuntos que são ministrados em classe, relativamente à realidade empírica, torna-os menos apreensíveis pelos discentes, dificultando a aprendizagem: algo assim como as inferências trazidas a debate pelo educador pernambucano Paulo Freire.

J.A.R. – H.C.

Walt Whitman
(1819-1892)

When I heard the learn’d astronomer

When I heard the learn’d astronomer,
When the proofs, the figures, were ranged in columns before me.
When I was shown the charts and diagrams, to add, divide, and
measure them.
When I sitting heard the astronomer where he lectured with much
applause in the lecture-room,
How soon unaccountable I became tired and sick,
Till rising and gliding out I wander'd off by myself.
In the mystical moist night-air, and from time to time,
Look’d up in perfect silence at the stars.

In: “By the roadside”

O Astrônomo
(Johannes Vermeer: pintor holandês)

Quando ouvi o astrônomo erudito

Quando ouvi o astrônomo erudito,
Quando as provas, os números, foram listados em colunas diante
de mim,
Quando me foram apresentados os mapas e diagramas, para
somar, dividir e medi-los,
Quando eu, sentado, ouvi o astrônomo no auditório em que
apresentava sua palestra com grande aplauso,
Bem cedo e sem conta me senti cansado e enojado,
Até que, levantando-me e saindo silenciosamente, fui perambular
na solidão,
No místico ar úmido da noite e, de tempo em tempo,
Mirava no céu a perfeição silenciosa das estrelas.

Em: “À margem da estrada”

Referências:

Em Inglês

WHITMAN, Walt. When I heard the learn’d astronomer. In: __________. Leaves of grass. London, EN: G. P. Putnam’s Sons; Boston, MA: Small, Maynard & Company, 1903. p. 214

Em Português

WHITMAN, Walt. Quando ouvi o astrônomo erudito. Tradução de Luciano Alves Meira. In: __________. Folhas de relva. Texto integral. Tradução e introdução de Luciano Alves Meira. 2. ed. São Paulo (SP): Martin Claret, 2012. p. 275. (Série Ouro: Coleção A Obra-Prima de Cada Autor; n. 42)

2 comentários:

  1. Eu adoro esse poema. Faz-me lembrar de quando detesto estar numa sala de aula aprendendo o básico, e amo estar na internet e nos livros aprendendo o mais avançado dos conhecimentos.

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    1. Caro Matã,
      O seu comentário diz muito sobre a forma decadente pelas quais os discentes – de crianças a adultos – são ainda educados e instruídos no Brasil.
      Há muito a ser modificado no instrumental metodológico de ensino pátrio, para albergar técnicas e tecnologias que sejam capazes de levar o país até a vanguarda da ciência e do conhecimento. Sinto que, sobre tal missão, ficamos para trás...
      Muito grato pelo comentário.
      Um abraço,
      João A. Rodrigues

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