Num tom quase anedótico, Whitman nos
coloca frente às distinções entre a aprendizagem acadêmica e aquela que decorre
da experiência, pelo emprego de nossas faculdades sensitivas: o ouvinte – o
próprio sujeito lírico – entende como tediosas as preleções de um astrônomo
sobre as estrelas, eis que carregadas de fórmulas matemáticas.
Não há nada melhor do que ir até o ar
livre e olhar para o céu noturno para se ter conexão mais plena com o assunto,
circunstância que não se pode experimentar dentro da sala de aula, pouco
importando o quanto entendido na matéria seja o mestre: experimentar as
maravilhas que a vida nos oferece seria, para Whitman, a forma mais propícia
para se aprender.
A atualizar o conteúdo do poema, diria
que a desconexão de determinados assuntos que são ministrados em classe,
relativamente à realidade empírica, torna-os menos apreensíveis pelos
discentes, dificultando a aprendizagem: algo assim como as inferências trazidas
a debate pelo educador pernambucano Paulo Freire.
J.A.R. – H.C.
Walt Whitman
(1819-1892)
When I heard the learn’d astronomer
When I heard the
learn’d astronomer,
When the proofs, the
figures, were ranged in columns before me.
When I was shown the
charts and diagrams, to add, divide, and
measure them.
When I sitting heard
the astronomer where he lectured with much
applause in the lecture-room,
How soon
unaccountable I became tired and sick,
Till rising and
gliding out I wander'd off by myself.
In the mystical moist
night-air, and from time to time,
Look’d up in perfect
silence at the stars.
In: “By the roadside”
O Astrônomo
(Johannes
Vermeer: pintor holandês)
Quando ouvi o astrônomo erudito
Quando ouvi o
astrônomo erudito,
Quando as provas, os
números, foram listados em colunas diante
de mim,
Quando me foram
apresentados os mapas e diagramas, para
somar, dividir e
medi-los,
Quando eu, sentado,
ouvi o astrônomo no auditório em que
apresentava sua
palestra com grande aplauso,
Bem cedo e sem conta
me senti cansado e enojado,
Até que,
levantando-me e saindo silenciosamente, fui perambular
na solidão,
No místico ar úmido
da noite e, de tempo em tempo,
Mirava no céu a
perfeição silenciosa das estrelas.
Em: “À margem da estrada”
Referências:
Em Inglês
WHITMAN, Walt. When I heard the learn’d
astronomer. In: __________. Leaves of
grass. London, EN: G. P. Putnam’s Sons; Boston, MA: Small, Maynard &
Company, 1903. p. 214
Em Português
WHITMAN, Walt. Quando ouvi o astrônomo
erudito. Tradução de Luciano Alves Meira. In: __________. Folhas de relva. Texto integral. Tradução e introdução de Luciano
Alves Meira. 2. ed. São Paulo (SP): Martin Claret, 2012. p. 275. (Série Ouro:
Coleção A Obra-Prima de Cada Autor; n. 42)
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Eu adoro esse poema. Faz-me lembrar de quando detesto estar numa sala de aula aprendendo o básico, e amo estar na internet e nos livros aprendendo o mais avançado dos conhecimentos.
ResponderExcluirCaro Matã,
ExcluirO seu comentário diz muito sobre a forma decadente pelas quais os discentes – de crianças a adultos – são ainda educados e instruídos no Brasil.
Há muito a ser modificado no instrumental metodológico de ensino pátrio, para albergar técnicas e tecnologias que sejam capazes de levar o país até a vanguarda da ciência e do conhecimento. Sinto que, sobre tal missão, ficamos para trás...
Muito grato pelo comentário.
Um abraço,
João A. Rodrigues