Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Jack Kerouac - 113º Coro ‎

A voz lírica começa o dia como qualquer outro: levanta-se, veste-se e sai de casa. Faz então o que tem de fazer, fornicar inclusive, para cumprir o ensinamento do “carpe diem”, pois tal é o que a vida naturalmente degustada propõe aos seres sobre a terra: “crescei e multiplicai-vos!”

Contudo Kerouac afirma que há perfeição no vazio, o que significa que qualquer coisa que carreguemos perturba essa perfeição, e não conseguiremos chegar lá. Mas como alcançar esse primado de vacuidade em meio ao burburinho urbano que nos convoca, momento a momento, ao imediatismo e ao hedonismo? Para refletir...

J.A.R. – H.C.

Jack Kerouac
(1922-1969)

113th Chorus

Got up and dressed up
and went out & got laid
Then died and got buried
in a coffin in the grave,
Man –
Yet everything is perfect,
Because it is empty,
Because it is perfect
with emptiness,
Because it’s not even happening.

Everything
Is Ignorant of its own emptiness –
Anger
Doesn’t like to be reminded of fits –

You start with the Teaching
Inscrutable of the Diamond
And end with it, your goal
is your startingplace,
No race was run, no walk
of prophetic toenails
Across Arabies of hot
meaning – you just
numbly don’t get there.

In: “Mexico City Blues” (1959)

Esvazie os ossos de você
(Stefan Fiedorowicz: pintor canadense)

113º Coro

Levantou-se, vestiu-se
e saiu & acasalou
Então morreu e foi encerrado
em um ataúde no túmulo,
Homem –
Ainda assim tudo é perfeito,
Porque vazio,
Porque perfeito
na vacuidade,
Porque sequer está sucedendo.

O que quer que seja
Ignora o seu próprio vazio –
A raiva
Não gosta que lhe recordem os ataques –

Comece com o Ensinamento
Inescrutável e Diamantino
E termine com ele, seu objetivo
é o seu ponto de partida,
Não se percorre páreo algum, incursão
alguma de gadanhos proféticos
Em meio a Arábias de cálido
significado – trôpego assim
dificilmente você há de chegar lá.

Em: “Blues da Cidade do México” (1959)

Nota:

(*). Kerouac faz alusão ao ensinamento contido no texto budista da “Sutra do Diamante”, a que muito se dedicou, sob influência de outra grande figura da “Geração Beat”, a saber, Allen Ginsberg.

Referência:

KEROUAC, Jack. 113th chorus. In: ALLEN, Donald M. (Ed.). The new american poetry. 21st printing. New York, NY: Grove Press Inc.; London, EN: Evergreen Books Ltd., 1960. p. 168.

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