Alpes Literários

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Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Paul Auster - Viático ‎

Se o título muito contém da mensagem que o poema espera denotar, neste caso concreto, estaremos no limite da existência humana, frente a frente com a morte, já moribundos e à espera da extrema unção, esse sagra viático ao qual se atribui poderes para se empreender em estado de graça a última viagem.

 

O título não deve, obviamente, ser tomado em sua literalidade, senão em sua acepção simbólica, pois Auster encontra-se no sítio da representação semítica, onde borbulham as crônicas de um povo obstinado que, onde quer que se encontre, deixa-se levar pelas linhas de força orientadas às pedras e ao muro nesse “país de falta”, às voltas com o não dizível que emerge de um passado, remoto ou recente, de dor e de lamentações.

 

J.A.R. – H.C.

 

Paul Auster

(n. 1947)

 

Viaticum

 

You will not blame the stones,

or look to yourself

beyond the stones, and say

you did not long for them

before your face

had turned to stone.

In front of you

and behind you, in the darkness

that moves with day, you almost

will have breathed. And your eyes,

as though your life were nothing more

than a bitter pilgrimage

to this country of want, will open

on the walls

that shut you in your voice,

your other voice, leading you

to the distances of love,

where you lie, closer

to the second

and brighter terror

of living in your death, and speaking

the stone

you will become.

 

In: “Wall Writing” (1971-1975)

 

Mar e Rocas

(Vasilij Belikov: pintor russo)

 

Viático

 

Não culparás as pedras,

nem te verás

além das pedras, por dizer

que não esperaste por elas

antes que teu rosto

fosse pedra.

Diante de ti

e atrás, no escuro

que se move com o dia, terás

quase respirado. E teus olhos,

como se tua vida fosse nada mais

que amarga peregrinação

a este país de falta, vão se abrir

para os muros

que te trancam a voz,

tua outra voz, levando-te

às distâncias do amor,

onde restarás, mais perto

do segundo,

e mais claro, terror

de viver em tua morte, e dizendo

a pedra

em que te tornarás.

 

Em: “Escritos na Parede” (1971-1975)

 

Referência:

 

AUSTER, Paul. Viaticum / Viático. Tradução de Caetano W. Galindo. In: __________. Todos os poemas. Edição bilíngue. Tradução e prefácio de Caetano W. Galindo. Introdução de Norman Finkelstein. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2013. Em inglês: p. 144; em português: p. 145.

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