Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Robert Lowell - O Niilista como Herói

Viver a realidade deste mundo e, ainda assim, postular por sua destruição. Confrontar a imutabilidade da arte por meio de outros pressupostos assumidamente cambiantes, vívidos, impetuosos. Tal é o programa do niilista, sob o ponto de vista de Robert Lowell.

Lowell busca questionar o que significa ser humano em meio à destruição e aos danos que provocamos no mundo, numa prosa permeada por ironia e pessimismo: ele próprio se ressente de certa monotonia de visão, pelo que propõe a convulsão por meio de palavras substanciosas, capazes de promover um giro na visão de mundo.

J.A.R. – H.C.

Robert Lowell
(1917-1977)

The Nihilist as Hero

“All our French poets can turn an inspired line;
who has written six passable in sequence?”
said Valéry. That was a happy day for Satan...
I want words meat-hooked from the living steer,
but a cold flame of tinfoil licks the metal log,
beautiful unchanging fire of childhood
betraying a monotony of vision...
Life by definition breeds on change,
each season we scrap new cars and wars and women.
But sometimes when I am ill or delicate,
the pinched flame of my match turns unchanging green,
a cornstalk in green tails and seeded tassel...
A nihilist wants to live in the world as is,
and yet gaze the everlasting hills to rubble.

Desempacotamento
(Brandt Lewis: pintor australiano)

O Niilista como Herói

“Todos os poetas franceses podem verter uma linha inspirada;
contudo, quem terá escrito seis linhas aceitáveis em sequência?”
arguiu Valéry. Esse foi um dia jubiloso para Satã...
Sinto falta de palavras enganchadas da carne de boi vivo,
mas uma chama fria do papel de alumínio lambe o lenho metálico,
belo e imutável fogo da infância
a denunciar certa monotonia de visão...
A vida, por definição, se engendra na mudança,
em cada estação descartamos carros novos, guerras e mulheres.
Porém, às vezes, quando estou enfermo ou debilitado,
a chama constrita do meu fósforo assume um verde inalterável,
qual haste de milho em tranças verdes e borlas espigadas...
Um niilista pretende viver no mundo tal como ele é,
e, ainda assim, divisar as colinas eternas em escombros.

Referência:

LOWELL, Robert. The nihilist as hero. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 18.

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