Viver a realidade deste mundo e, ainda
assim, postular por sua destruição. Confrontar a imutabilidade da arte por meio
de outros pressupostos assumidamente cambiantes, vívidos, impetuosos. Tal é o
programa do niilista, sob o ponto de vista de Robert Lowell.
Lowell busca questionar o que significa
ser humano em meio à destruição e aos danos que provocamos no mundo, numa prosa
permeada por ironia e pessimismo: ele próprio se ressente de certa monotonia de
visão, pelo que propõe a convulsão por meio de palavras substanciosas, capazes
de promover um giro na visão de mundo.
J.A.R. – H.C.
Robert Lowell
(1917-1977)
The Nihilist as Hero
“All our French poets
can turn an inspired line;
who has written six
passable in sequence?”
said Valéry. That was
a happy day for Satan...
I want words
meat-hooked from the living steer,
but a cold flame of
tinfoil licks the metal log,
beautiful unchanging
fire of childhood
betraying a monotony
of vision...
Life by definition
breeds on change,
each season we scrap
new cars and wars and women.
But sometimes when I
am ill or delicate,
the pinched flame of
my match turns unchanging green,
a cornstalk in green
tails and seeded tassel...
A nihilist wants to
live in the world as is,
and yet gaze the
everlasting hills to rubble.
Desempacotamento
(Brandt Lewis: pintor
australiano)
O Niilista como Herói
“Todos os poetas
franceses podem verter uma linha inspirada;
contudo, quem terá
escrito seis linhas aceitáveis em sequência?”
arguiu Valéry. Esse
foi um dia jubiloso para Satã...
Sinto falta de
palavras enganchadas da carne de boi vivo,
mas uma chama fria do
papel de alumínio lambe o lenho metálico,
belo e imutável fogo
da infância
a denunciar certa
monotonia de visão...
A vida, por
definição, se engendra na mudança,
em cada estação
descartamos carros novos, guerras e mulheres.
Porém, às vezes,
quando estou enfermo ou debilitado,
a chama constrita do
meu fósforo assume um verde inalterável,
qual haste de milho
em tranças verdes e borlas espigadas...
Um niilista pretende
viver no mundo tal como ele é,
e, ainda assim, divisar
as colinas eternas em escombros.
Referência:
LOWELL, Robert. The nihilist as hero. In:
McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York,
NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p.
18.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário