Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 11 de abril de 2017

Frederico Barbosa - Desexistir

Num ponto para além do momento em que o poeta já havia disparado uma bala contra si próprio, desistiu ele de se matar, mas já era tarde. Sua existência, por conseguinte, tornou-se um “desexistir”, pois tudo fora lançado ao ar, ou melhor, dinamitado: pontes, estradas, memórias, cartas, quaisquer saídas!

Barbosa, claro, está de brincadeira: pois se houvesse, de fato, disparado uma “auto-bala”, não estaria nem aqui para nos propor o poema. No fundo, trata-se de uma metáfora a um ‘modus vivendi’ sob o qual se morre um pouco a cada dia, tão corriqueiro que se torna um hábito.

J.A.R. – H.C.

Frederico Barbosa
(p. 1961)

Desexistir

Quando eu desisti
de me matar
já era tarde.

Desexistir
já era um hábito.

Já disparara
a auto-bala:
cobra cega se comendo
como quem cava
a própria vala.

Já me queimara.

Pontes, estradas,
memórias, cartas,
toda saída dinamitada.

Quando eu desisti
não tinha volta.

Passara do ponto,
já não era mais
a hora exata.

(Contracorrente, 2000)

Fio de Vida
(Vladimir Kush: artista russo)

Referência:

BARBOSA, Frederico. Desexistir. In: ASCHER, Nelson et al. Poetas na biblioteca: antologia. São Paulo, SP: Fundação Memorial da América Latina, 2001. p. 25.

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