Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Mário de Andrade - Moda do Alegre Porto

Manuel Bandeira, que redigiu um poema dedicado a Belém do Pará – aqui postado –, recebeu, em missiva, o poema abaixo de Mário de Andrade, que também lá esteve a captou as particularidades da cidade: as mangueiras, o clima quente, comidas típicas, suas meninas atiçadas (rs)...

O título atribuído por Andrade pode induzir o leitor a pensar que se trata de peça cujo tema seja a capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Mas nada mais equivocado, quando se constata os evocativos e repetidos refrões ao longo do poema. Além das minúcias características da capital do Pará, é claro!

J.A.R. – H.C.

Mário de Andrade
(1893-1945)

Moda do Alegre Porto (1)
(23 de novembro de 1927)

Velas encarnadas de pescadores,
Velas coloridas de todas as cores,
Águas barrosas de rios-mares,
Mangueiras, mangueiras, palmares, palmares,
E a barbadianinha que ficou por lá!...

Que alegre porto,
Belém do Pará!

Que porto alegre, Belém do Pará!
Vamos no mercado, tem mungunzá!
Vamos na baía, tem barco veleiro!
Vamos nas estradas que têm mangueiras!
Vamos no terraço beber guaraná!

Oh alegre porto,
Belém do Pará!

O Sol molengo no pouso ameno,
Calorão batendo que nem um remo,
Que gostosura de dormir de dia!
Que luz! que alegria! que malinconia! (2)
É a barbadianinha que ficou por lá!

Que alegre porto,
Belém do Pará!

A barbadianinha que ficou por lá
Relando no branco dos moços de linho,
Passeando no Souza, que lindo caminho!
À sombra de enorme e frondosa mangueira,
Depois que choveu a chuva para-já!...

Ôh barbadianinha,
Belém do Pará!

Lá se goza mais que New York ou Viena!
Só cada olhar roxo de cada morena
De tipo mexido, cocktail brasileiro, (3)
Alimenta mais que um açaizeiro,
Nosso gosto doce de homem com mulher!
No Pará se para, nada mais se quer!
Prova tucupi! Prova tacacá!

Que alegre porto,
Belém do Pará!

Mercado do Ver-o-Peso
Belém do Pará
(Pintura do mineiro José Rosário)

Notas de Tatiana Longo Figueiredo e Telê Ancona Lopez:

(1) – Poema no manuscrito O Turista Aprendiz. Escrevendo a Manuel Bandeira, em 27 de novembro de 1927, MA conta a gênese do poema e oferece outra versão.

(2) – Na versão apresentada a Manuel Bandeira: “Que luz, que alegria, que monotonia”.

(3) – Na carta a Bandeira, este verso e o anterior são: “Só cada grelada de cada pequena / De tipo mexido ianque-brasileiro”.

Referência:

ANDRADE, Mário de. Moda do alegre porto. In: __________. Poesias completas. v. 2. Edição de texto apurado, anotada e acrescida de documentos por Tatiana Longo Figueiredo e Telê Ancona Lopez. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 2013. p. 258-259.

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