Manuel Bandeira, que redigiu um poema dedicado
a Belém do Pará – aqui postado –, recebeu,
em missiva, o poema abaixo de Mário de Andrade, que também lá esteve a captou
as particularidades da cidade: as mangueiras, o clima quente, comidas típicas, suas
meninas atiçadas (rs)...
O título atribuído por Andrade pode
induzir o leitor a pensar que se trata de peça cujo tema seja a capital do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre. Mas nada mais equivocado, quando se constata os
evocativos e repetidos refrões ao longo do poema. Além das minúcias
características da capital do Pará, é claro!
J.A.R. – H.C.
Mário de Andrade
(1893-1945)
Moda do Alegre Porto (1)
(23 de novembro de
1927)
Velas encarnadas de
pescadores,
Velas coloridas de
todas as cores,
Águas barrosas de
rios-mares,
Mangueiras,
mangueiras, palmares, palmares,
E a barbadianinha que
ficou por lá!...
Que alegre porto,
Belém do Pará!
Que porto alegre,
Belém do Pará!
Vamos no mercado, tem
mungunzá!
Vamos na baía, tem
barco veleiro!
Vamos nas estradas
que têm mangueiras!
Vamos no terraço
beber guaraná!
Oh alegre porto,
Belém do Pará!
O Sol molengo no
pouso ameno,
Calorão batendo que
nem um remo,
Que gostosura de
dormir de dia!
Que luz! que alegria!
que malinconia! (2)
É a barbadianinha que
ficou por lá!
Que alegre porto,
Belém do Pará!
A barbadianinha que
ficou por lá
Relando no branco dos
moços de linho,
Passeando no Souza,
que lindo caminho!
À sombra de enorme e
frondosa mangueira,
Depois que choveu a chuva
para-já!...
Ôh barbadianinha,
Belém do Pará!
Lá se goza mais que
New York ou Viena!
Só cada olhar roxo de
cada morena
De tipo mexido,
cocktail brasileiro, (3)
Alimenta mais que um
açaizeiro,
Nosso gosto doce de
homem com mulher!
No Pará se para, nada
mais se quer!
Prova tucupi! Prova
tacacá!
Que alegre porto,
Belém do Pará!
Mercado do Ver-o-Peso
Belém do Pará
(Pintura do mineiro
José Rosário)
Notas de Tatiana Longo Figueiredo e
Telê Ancona Lopez:
(1) – Poema no manuscrito O Turista
Aprendiz. Escrevendo a Manuel Bandeira, em 27 de novembro de 1927, MA conta
a gênese do poema e oferece outra versão.
(2) – Na versão apresentada a Manuel
Bandeira: “Que luz, que alegria, que monotonia”.
(3) – Na carta a Bandeira, este verso e o
anterior são: “Só cada grelada de cada pequena / De tipo mexido
ianque-brasileiro”.
Referência:
ANDRADE, Mário de. Moda do alegre porto.
In: __________. Poesias completas. v. 2. Edição de texto apurado,
anotada e acrescida de documentos por Tatiana Longo Figueiredo e Telê Ancona
Lopez. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 2013. p. 258-259.
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