Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 4 de abril de 2017

Mario Quintana - No silêncio terrível

O poeta confronta o silêncio da morte, desnorteado pela ausência das coisas transcendentes em sua vida, num ponto do binômio espaço-tempo em que só restam escassos fanais de luz, estando tudo o mais coberto pelo silêncio e pela opacidade.

Procura ele agora, avidamente, o pequeno crucifixo de prata que, outrora, alguém lhe dera, adjetivando-o como “milagroso”, ante o “terrível silêncio do Cosmos”. Esse silêncio que representa o fim de sua própria entidade, além da qual Quintana não lança quaisquer conjecturas existenciais.

J.A.R. – H.C.

Mario Quintana
(1906-1994)

No silêncio terrível

No silêncio terrível do Cosmos
Há de ficar uma última lâmpada acesa.
Mas tão baça
Tão pobre
Que eu procurarei, às cegas, por entre os papéis revoltos,
Pelo fundo dos armários,
Pelo assoalho, onde estarão fugindo imundas ratazanas,
O pequeno crucifixo de prata
– O pequenino, o milagroso crucifixo de prata que
tu me deste um dia
Preso a uma fita preta.
E por ele os meus lábios convulsos chorarão
Viciosos do divino contato da prata fria...
Da prata clara, silenciosa, divinamente fria – morta!
E então a derradeira luz se apagará de todo...

Sob um sol diferente
(Tyler Young: artista norte-americano)

Referência:

QUINTANA, Mario. No silêncio terrível. In: __________. O aprendiz de feiticeiro. 2. reimpressão. São Paulo, SP: Globo, 2005. p. 49. (Coleção Mario Quintana / organização, plano de edição, fixação de texto, cronologia e bibliografia de Tania Franco Carvalhal)

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