O poeta francês imagina-se a cavalo
sobre a sua própria casa, na metade dos seus dias, olhando para ambos os lados
do telhado, muito parecidos em suas representações, mas expostos a distintas
estações.
Cocteau reconhece que Vênus, deusa do
amor e da beleza, ainda o ama. E isso lhe dá forças para continuar a produzir a
sua relevante obra: “Se minha casa não fosse feita com meus poemas, /
Eu sentiria o vazio e tombaria do telhado”.
J.A.R. – H.C.
Jean Cocteau
(1889-1963)
Le Poète de Trente
Ans
Me voici maintenant
au milieu de mon âge,
Je me tiens à cheval
sur ma belle maison;
Des deux côtés je
vois le même paysage,
Mais il n’est pas
vêtu de la même saison.
Ici la terre rouge
est de vigne encornée
Comme un jeune
chevreuil. Le linge suspendu,
De rires, de signaux,
accueille la journée;
Là se montre l’hiver
et l’honneur qui m’est dû.
Je veux bien, tu me
dis encore que tu m’aimes,
Vénus. Si je n’avais
pourtant parlé de toi,
Si ma maison n’était
faite avec mes poèmes,
Je sentirais le vide
et tomberais du toit.
O Tema do Poeta
(John Callcott
Horsley: pintor inglês)
O Poeta de Trinta
Anos
Eis-me aqui, agora,
ao meio de minha vida,
Montado a cavalo
sobre minha bela casa;
Em ambos os lados
diviso a mesma paisagem,
Sem recobrir-se, porém,
da mesma estação.
Aqui a terra vermelha
é de vinha encornada
Como um jovem cervo.
A roupa pendurada,
Com risos e sinais,
dá boas-vindas ao dia;
Ali desponta o
inverno e a honra a mim devida.
Pouco importa, pois dizes
que ainda me amas,
Vênus. Contudo, se não
houvesse falado de ti,
Se minha casa não
fosse feita com meus poemas,
Eu sentiria o vazio e
tombaria do telhado.
Referência:
COCTEAU, Jean. Le poète de trente ans.
In: __________. Vocabulaire, Plain-Chant et autres poèmes. Paris, FR:
Gallimard, 1983. p. 63. (‘Poésie/NRF’)
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