Mais um poema bastante representativo
da obra do autor argentino, a descrever a poesia como um objeto estático e
definido, cuja ideia não se conecta ao autor, tampouco à realidade a que se
refere. Alguma dúvida? Basta dar uma olhada no título. Especifica ele ou não,
claramente, tal propósito?!
O poema se inicia com uma referência à
natureza das coisas, contudo não exatamente àquela associada a objetos, haja
vista que os parâmetros aportados por Girri estão atrelados à atividade
mental: ideias, impulsos, visões, reflexões.
Desse modo se revela o poder que o texto possui, ou por outra, a manifestação autossuficiente de suas linhas, enquanto entidade autônoma e íntegra em seus próprios termos. Mas, como se observa, trata-se de uma poesia sobre a poesia, e, desse modo, torna-se difícil conceber tal objeto como elemento imponderável da realidade. Por onde andaria o poeta?!
J.A.R. – H.C.
Alberto Girri
(1919-1991)
A la poesía entendida
como uma
manera de organizar
la realidad,
no de representarla
Lo que en ella place
place a Ia índole de
Ias cosas,
inicialmente sin ir
dirigidas a nadie,
y en esencia
visiones,
y Ia reflexión
determinando que
impulsos, ideas oscuras,
cobren análogo peso, homologadas
en sentencias que
otras
sentencias
transforman,
apremiadas
por lo que Ia poesía
exige,
lo que el poema
ha de ofrecer a Ia
vista,
afectar a los
sentidos,
lo que tendrá
de móvil ofrenda
en un mundo estático,
y lo que el paisaje,
los millones
de universales gestos
piden,
ser formulados
en tejidos de perenne
duración, claros
de diseño, vocês
modificando
hábitos de conceptos
y categorías,
y atendiendo
a que más allá de Ia
verdad
está el estilo,
perfeccionador de Ia
verdad
porque en si lleva
La prueba de su existencia.
Escríbela,
extrae de ese orden
tus objetos reales,
mayor miséria
que morir o Ia nada
es Io irreal, Io real
sin objetos.
(Envíos)
Pérola
(Vladimir Kush:
pintor russo)
À poesia entendida
como uma
maneira de organizar
a realidade,
não de representá-la
O que nela apraz,
apraz à índole das
coisas,
inicialmente sem ir
dirigidas a ninguém,
e em essência visões,
e a reflexão
determinando que
impulsos, ideias obscuras,
alcancem análogo
peso, homologadas
em sentenças que
outras
sentenças
transformam,
compelidas
pelo que a poesia
exige,
o que o poema
há de oferecer à
vista,
afetar os sentidos,
o que terá
de oferenda móvel,
em um mundo estático,
e o que a paisagem,
os milhões
de gestos universais
pedem,
ser formulados
em tecidos de duração
perene, claros
de desenho, vozes modificando
hábitos de conceitos
e categorias,
e observando
que mais além da
verdade
está o estilo
aperfeiçoador da
verdade
porque leva em si
a prova de sua
existência.
Escreve-a,
extrai dessa ordem
teus reais
propósitos,
maior miséria
que a morte ou o nada
é o irreal, o real
sem propósitos.
(Envios)
Referência:
GIRRI, Alberto. A la poesía
entendida... / À poesia entendida... Tradução de Bella
Jozef. In: JOZEF, Bella (Seleção, Prefácio e Tradução). Poesia argentina:
1940-1960. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Iluminuras, 1990. Em Espanhol: p. 86
e 88; em português: 87 e 89.
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