Alpes Literários

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Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 23 de abril de 2017

Alberto Girri - À poesia entendida como uma maneira de organizar a ‎realidade, não de representá-la

Mais um poema bastante representativo da obra do autor argentino, a descrever a poesia como um objeto estático e definido, cuja ideia não se conecta ao autor, tampouco à realidade a que se refere. Alguma dúvida? Basta dar uma olhada no título. Especifica ele ou não, claramente, tal propósito?!

O poema se inicia com uma referência à natureza das coisas, contudo não exatamente àquela associada a objetos, haja vista que os parâmetros aportados por Girri estão atrelados à atividade mental: ideias, impulsos, visões, reflexões.

Desse modo se revela o poder que o texto possui, ou por outra, a manifestação autossuficiente de suas linhas, enquanto entidade autônoma e íntegra em seus próprios termos. Mas, como se observa, trata-se de uma poesia sobre a poesia, e, desse modo, torna-se difícil conceber tal objeto como elemento imponderável da realidade. Por onde andaria o poeta?!

J.A.R. – H.C.

Alberto Girri
(1919-1991)

A la poesía entendida como uma
manera de organizar la realidad,
no de representarla

Lo que en ella place
place a Ia índole de Ias cosas,
inicialmente sin ir dirigidas a nadie,
y en esencia visiones,
y Ia reflexión
determinando que impulsos, ideas oscuras,
cobren análogo peso, homologadas
en sentencias que otras
sentencias transforman,
apremiadas
por lo que Ia poesía exige,
lo que el poema
ha de ofrecer a Ia vista,
afectar a los sentidos,
lo que tendrá
de móvil ofrenda
en un mundo estático,
y lo que el paisaje, los millones
de universales gestos piden,
ser formulados
en tejidos de perenne duración, claros
de diseño, vocês modificando
hábitos de conceptos y categorías,
y atendiendo
a que más allá de Ia verdad
está el estilo,
perfeccionador de Ia verdad
porque en si lleva
La prueba de su existencia.

Escríbela,
extrae de ese orden
tus objetos reales,
mayor miséria
que morir o Ia nada
es Io irreal, Io real sin objetos.

(Envíos)

Pérola
(Vladimir Kush: pintor russo)

À poesia entendida como uma
maneira de organizar a realidade,
não de representá-la

O que nela apraz,
apraz à índole das coisas,
inicialmente sem ir dirigidas a ninguém,
e em essência visões,
e a reflexão
determinando que impulsos, ideias obscuras,
alcancem análogo peso, homologadas
em sentenças que outras
sentenças transformam,
compelidas
pelo que a poesia exige,
o que o poema
há de oferecer à vista,
afetar os sentidos,
o que terá
de oferenda móvel,
em um mundo estático,
e o que a paisagem, os milhões
de gestos universais pedem,
ser formulados
em tecidos de duração perene, claros
de desenho, vozes modificando
hábitos de conceitos e categorias,
e observando
que mais além da verdade
está o estilo
aperfeiçoador da verdade
porque leva em si
a prova de sua existência.

Escreve-a,
extrai dessa ordem
teus reais propósitos,
maior miséria
que a morte ou o nada
é o irreal, o real sem propósitos.

(Envios)

Referência:

GIRRI, Alberto. A la poesía entendida... / À poesia entendida... Tradução de Bella Jozef. In: JOZEF, Bella (Seleção, Prefácio e Tradução). Poesia argentina: 1940-1960. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Iluminuras, 1990. Em Espanhol: p. 86 e 88; em português: 87 e 89.

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