Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Czeslaw Milosz - E, no Entanto, os Livros

Os livros, sempre eles, povoam a mente do poeta – Milosz imagina o mundo depois que dele houver partido: que estranho espetáculo continuará a ser representado pelos seres humanos e pela natureza! Mas tudo bem menos estável do que a permanência dos livros nas estantes...

Essas criações que irrompem em nossas vidas, oriundas das pessoas, do lampejo e das alturas, são capazes de mudar para sempre o nosso modo de ver as coisas, de avaliá-las, com o espírito aberto, ponderando sobre os aspectos contingentes de nossa frágil existência.

J.A.R. – H.C.

Czeslaw Milosz
(1911-2004)

Ale Książki

Ale książki będą na półkach, prawdziwe istoty,
Które zjawiły się raz, świeże, jeszcze wilgotne,
Niby lśniące kasztany pod drzewem w jesieni,
I dotykane, pieszczone trwać zaczęły
Mimo łun na horyzoncie, zamków wylatujących w powietrze,
Plemion w pochodzie, planet w ruchu.
Jesteśmy – mówiły, nawet kiedy
wydzierano z nich karty
Albo litery zlizywał buzujący płomień,
O ileż trwalsze od nas, których ułomne ciepło
Stygnie razem z pamięcią, rozprasza się, ginie.
Wyobrażam sobie ziemię kiedy mnie nie będzie
I nic, żadnego ubytku, dalej dziwowisko,
Suknie kobiet, mokry jaśmin, pieśń w dolinie.
Ale książki będą na półkach, dobrze urodzone,
Z ludzi, choć też z jasności, wysokości.

Natureza-Morta com Livros
(Fernando Botero: artista colombiano)

And Yet the Books

And yet the books will be there on the shelves, separate beings,
That appeared once, still wet
As shining chestnuts under a tree in autumn,
And, touched, coddled, began to live
In spite of fires on the horizon, castles blown up,
Tribes on the march, planets in motion.
“We are,” they said, even as their pages
Were being torn out, or a buzzing flame
Licked away their letters. So much more durable
Than we are, whose frail warmth
Cools down with memory, disperses, perishes.
I imagine the earth when I am no more:
Nothing happens, no loss, it’s still a strange pageant,
Women’s dresses, dewy lilacs, a song in the valley.
Yet the books will be there on the shelves, well born,
Derived from people, but also from radiance, heights.

Natureza-Morta com Livros e Vela
(Rudy Rusche: pintor alemão)

E, no Entanto, os Livros

E, no entanto, os livros estarão ali nas estantes, distintos seres
Que mais uma vez apareceram, frescos, ainda úmidos,
Como lustrosas castanhas sob uma árvore no outono,
E logo que tocados, acariciados, começaram a perdurar,
Apesar dos fogos no horizonte, castelos voando pelo ar,
Tribos em marcha, planetas em movimento.
“Existimos” – disseram eles, mesmo quando
Suas páginas eram arrancadas
Ou o silvo de uma chama lambia suas letras,
Mais perduráveis que nós, cujo frágil calor
Esfria com a memória, dispersa-se e perece.
Imagino a Terra quando eu já houver partido:
Nada ocorre, nenhuma perda, ainda mais assombro,
Vestidos de mulheres, lilases orvalhados, uma canção no vale.
E, no entanto, os livros continuarão ali nas estantes, bem nascidos,
Provindos das pessoas, mas também do lampejo, das alturas.

Referências:

Em Polonês:

MILOSZ, Czeslaw. Ale książki. In: __________. Kroniki. Wyd. 1 krajowe. Kraków, PL: Znak, 1988. s. 25.

Em Inglês:

MILOSZ, Czeslaw. And yet the books. Translated into English by Czeslaw Misloz and Robert Hass. In: BENSON, Gerard; CHERNAIK, Judith; HERBERT, Cicely (Eds.). Best poems on the underground. 1st. publ. London, EN: Weidenfeld & Nicolson, 2009. p. 192.

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