Os livros, sempre eles, povoam a mente
do poeta – Milosz imagina o mundo depois que
dele houver partido: que estranho espetáculo continuará a ser representado
pelos seres humanos e pela natureza! Mas tudo bem menos estável do que a
permanência dos livros nas estantes...
Essas criações que irrompem em nossas
vidas, oriundas das pessoas, do lampejo e das alturas, são capazes de mudar
para sempre o nosso modo de ver as coisas, de avaliá-las, com o espírito aberto,
ponderando sobre os aspectos contingentes de nossa frágil existência.
J.A.R. – H.C.
Czeslaw Milosz
(1911-2004)
Ale Książki
Ale książki będą na
półkach, prawdziwe istoty,
Które zjawiły się raz, świeże, jeszcze
wilgotne,
Niby lśniące kasztany pod drzewem w jesieni,
I dotykane,
pieszczone trwać zaczęły
Mimo łun na
horyzoncie, zamków wylatujących
w powietrze,
Plemion w pochodzie,
planet w ruchu.
Jesteśmy – mówiły, nawet kiedy
wydzierano z nich
karty
Albo litery zlizywał
buzujący płomień,
O ileż trwalsze od nas, których ułomne ciepło
Stygnie razem z pamięcią, rozprasza się, ginie.
Wyobrażam sobie ziemię kiedy mnie nie będzie
I nic, żadnego ubytku, dalej dziwowisko,
Suknie kobiet, mokry
jaśmin, pieśń w
dolinie.
Ale książki będą na
półkach, dobrze urodzone,
Z ludzi, choć też z jasności, wysokości.
Natureza-Morta com
Livros
(Fernando Botero:
artista colombiano)
And Yet the Books
And yet the books
will be there on the shelves, separate beings,
That appeared once,
still wet
As shining chestnuts
under a tree in autumn,
And, touched,
coddled, began to live
In spite of fires on
the horizon, castles blown up,
Tribes on the march,
planets in motion.
“We are,” they said,
even as their pages
Were being torn out,
or a buzzing flame
Licked away their
letters. So much more durable
Than we are, whose frail
warmth
Cools down with
memory, disperses, perishes.
I imagine the earth
when I am no more:
Nothing happens, no
loss, it’s still a strange pageant,
Women’s dresses, dewy
lilacs, a song in the valley.
Yet the books will be
there on the shelves, well born,
Derived from people,
but also from radiance, heights.
Natureza-Morta com
Livros e Vela
(Rudy Rusche: pintor
alemão)
E, no Entanto, os
Livros
E, no entanto, os
livros estarão ali nas estantes, distintos seres
Que mais uma vez apareceram, frescos, ainda úmidos,
Como lustrosas
castanhas sob uma árvore no outono,
E logo que tocados,
acariciados, começaram a perdurar,
Apesar dos fogos no
horizonte, castelos voando pelo ar,
Tribos em marcha,
planetas em movimento.
“Existimos” –
disseram eles, mesmo quando
Suas páginas eram
arrancadas
Ou o silvo de uma
chama lambia suas letras,
Mais perduráveis que
nós, cujo frágil calor
Esfria com a memória,
dispersa-se e perece.
Imagino a Terra
quando eu já houver partido:
Nada ocorre, nenhuma
perda, ainda mais assombro,
Vestidos de mulheres, lilases orvalhados, uma canção no vale.
E, no entanto, os
livros continuarão ali nas estantes, bem nascidos,
Provindos das
pessoas, mas também do lampejo, das alturas.
Referências:
Em Polonês:
MILOSZ, Czeslaw. Ale książki. In: __________. Kroniki. Wyd. 1 krajowe. Kraków, PL: Znak,
1988. s. 25.
Em Inglês:
MILOSZ, Czeslaw. And yet the books.
Translated into English by Czeslaw Misloz and Robert Hass. In: BENSON, Gerard;
CHERNAIK, Judith; HERBERT, Cicely (Eds.). Best poems on the underground.
1st. publ. London, EN: Weidenfeld & Nicolson, 2009. p. 192.
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