Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 9 de abril de 2017

Franz V. Werfel - Poema

Com um título que, de fato, significa “Ao Leitor”, o poeta austríaco nascido tcheco, professa, em discurso emocional, a sua rogativa pela fraternidade universal, num poema que se tornou um marco na história da poesia expressionista.

Como o internauta é capaz de constatar, o novo homem vislumbrado por Werfel está em nítida oposição aos estratos xenófobos da sociedade de seu tempo, ou mais bem, há nas palavras do poeta certa dose de fantasia, idealismo e utopia.

J.A.R. – H.C.

Franz V. Werfel
(1890-1945)

An den Leser

Mein einziger Wunsch ist, Dir, o Mensch, verwandt zu sein!
Bist Du Neger, Akrobat, oder ruhst Du noch in tiefer Mutterhut,
Klingt Dein Mädchenlied über den Hof, lenkst Du Dein Floß
im Abendschein,
Bist Du Soldat oder Aviatiker voll Ausdauer und Mut.

Trugst Du als Kind auch ein Gewehr in grüner Armschlinge?
Wenn es losging, entflog ein angebundener Stöpsel dem Lauf.
Mein Mensch, wenn ich Erinnerung singe,
Sei nicht hart und löse Dich mit mir in Tränen auf!

Denn ich habe aIle Schicksale durchgemacht:Ich weiß
Das Gefühl von einsamen Harfenstimmen in Kurkapellen,
Das Gefühl von schüchternen Gouvernanten im fremden
Familienkreis,
Das Gefühl von Debutanten, die sich zitternd vor den
Souffleurkasten stellen.

Ich lebte im Walde, hatte ein Bahnhofsamt,
Saß gebeugt über Kassabüchern und bediente ungeduldige Gäste.
Als Heizer stand ich vor Kesseln, das Antlitz grell überflammt,
Und als Kuli aß ich Abfall und Küchenreste.

So gehöre ich Dir und Allen.
Wolle mir, bitte, nicht widerstehn!
Oh könnte es einmal geschehn,
Daß wir uns, Bruder, in die Arme fallen!

Homem com uma Enxada
(Jean-François Millet: pintor francês)

Poema

Meu único desejo, Homem, é ser teu parente!
Sejas negro ou acrobata, repouses ainda nas profundezas
da guarda materna,
Vibre no pátio o teu canto de menina,
dirijas tua jangada ao fogo do crepúsculo,
Sejas soldado ou aviador de acirrada energia!

Não eras tu que, em criança , andavas de espingarda ao
suspensório verde?
E quando a arma escorregava, outro pedaço de gente se
esquivava.
Meu irmão Homem, se canto a tua lembrança,
Não me queiras mal, arrebenta em soluços comigo!

Pois eu vivi profundamente todos os destinos. Conheço bem
A angústia da harpista solitária nas orquestras das estações
de águas,
A da tímida governanta no seio da família estranha,
A do estreante, a tremer na frente do ponto.

Vivi nas florestas, fui um ferroviário,
Curvei-me sobre livros de contabilidade e servi fregueses
rabugentos.
Foguista, fiscalizei caldeiras, o rosto lambido pela chama crua;
Cule, comi os restos da cozinha.

Eu te pertenço como a qualquer homem!
Suplico-te: não te recuses!
Ah se isso pudesse acontecer, meu irmão,
Que caíssemos nos braços um do outro!

Referências:

Em Alemão:

WERFEL, Franz V. An den leser. In: PINTHUS, Kurt (Her.). Menschheitsdämmerung: ein dokument des expressionismus. Berlin, DE: Kurt Pinthus, 1920. s. 279.

Em Português:

WERFEL, Franz V. Poema. Tradução de Sérgio Milliet. In: MILLIET, Sérgio (Seleção e Notas). Obras-primas da poesia universal. 3. ed. São Paulo, SP: Livraria Martins Editora, 1957. p. 322-323.

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