Com um título que, de fato, significa
“Ao Leitor”, o poeta austríaco nascido tcheco, professa, em discurso emocional,
a sua rogativa pela fraternidade universal, num poema que se tornou um marco na
história da poesia expressionista.
Como o internauta é capaz de constatar,
o novo homem vislumbrado por Werfel está em nítida oposição aos estratos
xenófobos da sociedade de seu tempo, ou mais bem, há nas palavras do poeta
certa dose de fantasia, idealismo e utopia.
J.A.R. – H.C.
Franz V. Werfel
(1890-1945)
An den Leser
Mein einziger Wunsch
ist, Dir, o Mensch, verwandt zu sein!
Bist Du Neger,
Akrobat, oder ruhst Du noch in tiefer Mutterhut,
Klingt Dein
Mädchenlied über den Hof, lenkst Du Dein Floß
im Abendschein,
Bist Du Soldat oder
Aviatiker voll Ausdauer und Mut.
Trugst Du als Kind auch
ein Gewehr in grüner Armschlinge?
Wenn es losging,
entflog ein angebundener Stöpsel dem Lauf.
Mein Mensch, wenn ich
Erinnerung singe,
Sei nicht hart und
löse Dich mit mir in Tränen auf!
Denn ich habe aIle
Schicksale durchgemacht:Ich weiß
Das Gefühl von
einsamen Harfenstimmen in Kurkapellen,
Das Gefühl von
schüchternen Gouvernanten im fremden
Familienkreis,
Das Gefühl von
Debutanten, die sich zitternd vor den
Souffleurkasten
stellen.
Ich lebte im Walde,
hatte ein Bahnhofsamt,
Saß gebeugt über
Kassabüchern und bediente ungeduldige Gäste.
Als Heizer stand ich
vor Kesseln, das Antlitz grell überflammt,
Und als Kuli aß ich
Abfall und Küchenreste.
So gehöre ich Dir und
Allen.
Wolle mir, bitte,
nicht widerstehn!
Oh könnte es einmal
geschehn,
Daß wir uns, Bruder,
in die Arme fallen!
Homem com uma Enxada
(Jean-François Millet:
pintor francês)
Poema
Meu único desejo,
Homem, é ser teu parente!
Sejas negro ou
acrobata, repouses ainda nas profundezas
da guarda materna,
Vibre no pátio o teu
canto de menina,
dirijas tua jangada
ao fogo do crepúsculo,
Sejas soldado ou
aviador de acirrada energia!
Não eras tu que, em
criança , andavas de espingarda ao
suspensório verde?
E quando a arma
escorregava, outro pedaço de gente se
esquivava.
Meu irmão Homem, se
canto a tua lembrança,
Não me queiras mal,
arrebenta em soluços comigo!
Pois eu vivi
profundamente todos os destinos. Conheço bem
A angústia da
harpista solitária nas orquestras das estações
de águas,
A da tímida governanta
no seio da família estranha,
A do estreante, a
tremer na frente do ponto.
Vivi nas florestas,
fui um ferroviário,
Curvei-me sobre
livros de contabilidade e servi fregueses
rabugentos.
Foguista, fiscalizei
caldeiras, o rosto lambido pela chama crua;
Cule, comi os restos
da cozinha.
Eu te pertenço como a
qualquer homem!
Suplico-te: não te
recuses!
Ah se isso pudesse
acontecer, meu irmão,
Que caíssemos nos
braços um do outro!
Referências:
Em Alemão:
WERFEL, Franz V. An den leser. In:
PINTHUS, Kurt (Her.). Menschheitsdämmerung: ein dokument des expressionismus.
Berlin, DE: Kurt Pinthus, 1920. s. 279.
Em Português:
WERFEL, Franz V. Poema. Tradução de
Sérgio Milliet. In: MILLIET, Sérgio (Seleção e Notas). Obras-primas da
poesia universal. 3. ed. São Paulo, SP: Livraria Martins Editora, 1957. p.
322-323.
❁
Era judeu de língua alemã.
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