Muitas postagens já se foram neste blog
tendo o gato como tema, contudo,
pelo que me lembre, nenhuma específica sobre o cão, o fiel amigo do homem: para
saldar tal dívida, trago um poema bastante representativo da desolação que
atinge o dono, quando o seu perro vai-se.
Companheiro devotado, o cão não é capaz
de dissimular sentimentos, pois não sabe mentir. Sua honestidade é um atributo
natural. Afinal, o que se passa pela cabeça do animal pode ser compreendido
facilmente pelo dono, e vice-versa, como um comunicado telepático! Quem ousaria
dizer o contrário?! (rs).
J.A.R. – H.C.
Francis Jammes
(1868-1938)
Mon Humble Ami
Mon humble ami, mon
chien fidèle, tu es mort
de cette mort que tu fuyais
comme une guêpe
lorsque tu te cachais
sous la table. Ta tête
s’est dirigée vers
moi à l’heure brève et morne.
Ô compagnon banal de
l’homme: être béni!
toi que nourrit la
faim que ton maître partage,
toi qui accompagnas
dans leur pèlerinage
l’archange Raphaël et
le jeune Tobie...
Ô serviteur: que tu
me sois d’un grand exemple,
ô toi qui m’as aimé
ainsi qu’un saint son Dieu!
Le mystère de ton
obscure intelligence
vit dans un paradis
innocent et joyeux.
Ah! faites, mon Dieu,
si Vous me donnez la grâce
de Vous voir face à face
aux jours d’Éternité,
faites qu’un pauvre
chien contemple face à face
celui qui fut son
dieu parmi l’humanité.
Dans: “L’Église Habillée
de Feuilles” (1906)
O Homem e seu Cão
(Antonio Rotta:
pintor italiano)
Meu Humilde Amigo
Meu cão fiel, humilde
amigo, sucumbiste
Sob a mesa, fugindo à
morte como à vespa
Tu fugias em vida.
Ali tua cabeça
Voltaste para mim no
passo breve e triste.
Companheiro banal do
homem, tu que em teus dias
No que falta ao teu
dono achas o que te baste,
Ó ser bendito que a
jornada acompanhaste
Do arcanjo Rafael e
do jovem Tobias...
Tal como um santo ama
ao seu Deus, num grande exemplo
Amaste-me também, ó
servo verdadeiro!
O mistério de tua
obscura inteligência
Vive num paraíso
inocente e fagueiro.
Ah se de vós, meu
Deus, a graça eu alcançasse
De face a face vos
olhar na eternidade,
Fazei que um pobre
cão contemple face a face
Quem para ele foi um
deus na humanidade.
Em: “A Igreja Coberta
de Folhas” (1906)
Referências:
Em Francês
JAMMES, Francis. Mon humble ami. In:
__________. Oeuvres de Francis Jammes. Paris, FR: Mercure de France,
1921. p. 317-318.
Em Português
JAMMES, Francis. Meu humilde amigo. Tradução
de Manuel Bandeira. In: BANDEIRA, Manuel. Poemas traduzidos. 3. ed. Rio
de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1956. p. 47. (Coleção
‘Rubáiyát’)
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