Neste belo poema, Lowell condena o
horror que o envolve, caracterizado pela degradação progressiva do equilíbrio
ambiental, bem assim do estado precário da existência humana, às proximidades do
estuário do rio Hudson, em Nova Iorque (EUA).
O poema nos coloca ante a “censurável
paisagem”, coberta por um sol amarelo sulfúreo, onde se mesclam elementos
criados pela dita “civilização” – como os trens de carga nas imediações de uma
via de comutação –, com outros da própria natureza – como as placas de gelo –,
de forma a configurar uma realidade não ordenada, na qual o ornitólogo oscila à
deriva.
J.A.R. – H.C.
Robert Lowell
(1917-1977)
The Mouth of the
Hudson
for Esther Brooks
A single man stands
like a bird-watcher,
and scuffles the
pepper and salt snow
from a discarded,
gray
Westinghouse Electric
cable drum.
He cannot discover
America by counting
the chains of
condemned freight-trains
from thirty states.
They jolt and jar
and junk in the
siding below him.
He has trouble with
his balance.
His eyes drop,
and he drifts with
the wild ice
ticking seaward down
the Hudson
like the blank sides
of a jig-saw puzzle.
The ice ticks seaward
like a clock.
A negro toasts
wheat-seeds over the
coke-fumes
of a punctured
barrel.
Chemical air
sweeps in from New
Jersey,
and smells of coffee.
Across the river,
ledges of suburban
factories tan
in the sulphur-yellow
sun
of the unforgivable
landscape.
Hudson em Nova Iorque
(Fotografia de Jan Gorzynik)
O Estuário do Hudson
para Esther Brooks
Um homem sozinho detém-se
como que a
observar os pássaros,
e remove a neve
cáustica e salina
de uma cinzenta bobina
de cabo elétrico
Westinghouse
sucateada.
Não pode ele
descobrir a América contando
as fileiras de trens
de carga inutilizados,
oriundos de trinta
estados, que sacolejam, rilham
e se amontoam na via
de manobra a seus pés.
Tem dificuldade em
equilibrar-se.
Baixa os olhos
e flutua à deriva com
o gelo infrene
a estalejar em direção
ao mar, pelo Hudson,
como as seções vazias
de um quebra-cabeças.
O gelo tiquetaqueia
rumo ao mar, como um relógio.
Um negro tosta
sementes de trigo sobre
a fumaça de coque
que se desprende de
um barril perfurado.
Ar químico
precipita-se sobre
Nova Jersey,
cheirando a café.
Do outro lado do rio,
as cumeeiras das
fábricas suburbanas crestam
ao sol amarelo
sulfúreo
da censurável
paisagem.
Referência:
LOWELL, Robert. The mouth of the
Hudson. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary
american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random
House Inc.), march 2003. p. 12.
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