Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Robert Lowell - O Estuário do Hudson

Neste belo poema, Lowell condena o horror que o envolve, caracterizado pela degradação progressiva do equilíbrio ambiental, bem assim do estado precário da existência humana, às proximidades do estuário do rio Hudson, em Nova Iorque (EUA).

O poema nos coloca ante a “censurável paisagem”, coberta por um sol amarelo sulfúreo, onde se mesclam elementos criados pela dita “civilização” – como os trens de carga nas imediações de uma via de comutação –, com outros da própria natureza – como as placas de gelo –, de forma a configurar uma realidade não ordenada, na qual o ornitólogo oscila à deriva.

J.A.R. – H.C.

Robert Lowell
(1917-1977)

The Mouth of the Hudson

for Esther Brooks

A single man stands like a bird-watcher,
and scuffles the pepper and salt snow
from a discarded, gray
Westinghouse Electric cable drum.
He cannot discover America by counting
the chains of condemned freight-trains
from thirty states. They jolt and jar
and junk in the siding below him.
He has trouble with his balance.
His eyes drop,
and he drifts with the wild ice
ticking seaward down the Hudson
like the blank sides of a jig-saw puzzle.

The ice ticks seaward like a clock.
A negro toasts
wheat-seeds over the coke-fumes
of a punctured barrel.
Chemical air
sweeps in from New Jersey,
and smells of coffee.
Across the river,
ledges of suburban factories tan
in the sulphur-yellow sun
of the unforgivable landscape.

Hudson em Nova Iorque
(Fotografia de Jan Gorzynik)

O Estuário do Hudson

para Esther Brooks

Um homem sozinho detém-se como que a
observar os pássaros,
e remove a neve cáustica e salina
de uma cinzenta bobina de cabo elétrico
Westinghouse sucateada.
Não pode ele descobrir a América contando
as fileiras de trens de carga inutilizados,
oriundos de trinta estados, que sacolejam, rilham
e se amontoam na via de manobra a seus pés.
Tem dificuldade em equilibrar-se.
Baixa os olhos
e flutua à deriva com o gelo infrene
a estalejar em direção ao mar, pelo Hudson,
como as seções vazias de um quebra-cabeças.

O gelo tiquetaqueia rumo ao mar, como um relógio.
Um negro tosta
sementes de trigo sobre a fumaça de coque
que se desprende de um barril perfurado.
Ar químico
precipita-se sobre Nova Jersey,
cheirando a café.
Do outro lado do rio,
as cumeeiras das fábricas suburbanas crestam
ao sol amarelo sulfúreo
da censurável paisagem.

Referência:

LOWELL, Robert. The mouth of the Hudson. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 12.

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