Suardíaz, poeta cubano, põe-se a
elaborar uma fotografia a distância do reputado vate lusitano Fernando Pessoa, adotando
por referência, certamente, as suas muito reproduzidas imagens que, hoje com o
fenômeno da internet, estão em toda parte.
Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e
Ricardo Reis – os mais famosos heterônimos de Pessoa – não poderiam faltar nessa
moldura. Mas, a meu ver, são os elementos distintivos da figura de Pessoa que
se apresentam melhor caracterizados ao longo do poema de Suardíaz.
J.A.R. – H.C.
Luis Suardíaz
(1936-2005)
Fotografía Tomada a
Distancia
Fui como la hierba, y
no me
arrancaron.
Fernando Pessoa
A Raúl Luis
En Durban ya eras un estirado
proyecto de fracaso:
los largos botines,
el traje excepcional
y aquellas manos sin
oficio. En lo adelante
serás una caricatura
hecha sin compasión:
negro sombrero de muy
ancha cinta, espejuelos
que bajan por la
nariz ganchuda desde um cansancio
estrávico. Y los
bigotes dándose contra el suelo.
Ultimamente es ya más
ancha tu corbata
y se desplaza un
vacío específico en el centro mismo
de tu cabeza. Aqui me
sería dado concluir la descripción
de un animal sacado
al sol, no obstante sus prejuicios.
Ahora bien, ¿dónde archivar a Ricardo Reis y su fantasma?
¿Bajo qué sombra
enterrar el gran rostro de señor
de Alberto Caeiro? ¿Qué hacer cuando
pregunten
historiadores acuciosos
por las señas, claras y personales,
del poeta Álvaro de
Campos?
Se precisa saber, por
otra parte, qué rara hierba fuiste.
Fernando Pessoa,
este peso de máquinas
y combustibles
que tú aguantabas
como un nuevo Atlas,
esa angustia de
gastarse junto al Tajo
o en los cafés de
Lisboa, en el olvido,
esta evasión o este
enfrentamiento
que fue tu poesía,
llegada hasta nosotros
en forma de alaridos
o de lágrimas
o de nervios
golpeados hasta la desolación
tendrá un claro
propósito, un orden amoroso
alguna vez. Por ahora
anochece Portugal,
a la dolorosa luz de
las lámparas de las fábricas.
Fernando Pessoa na Baixa de Lisboa
(1888-1935)
Fotografia Tomada a Distância
Fui como ervas,
e não me
arrancaram. (1)
Fernando
Pessoa
A Raúl Luis
Em Durban(2)
já eras um ousado projeto de fracasso:
as longas
botinas, o traje excepcional
e aquelas
mãos sem ofício. Doravante
serás uma
caricatura feita sem compaixão:
chapéu negro
de fita muito larga, óculos
que caem pelo
nariz adunco desde um cansaço
estrábico. E
os bigodes voltados para o solo.
Ultimamente já é mais larga a tua gravata
e se desloca um vazio específico no centro mesmo
de tua cabeça. Aqui me seria dado concluir a descrição
de um animal exposto ao sol, não obstante seus preconceitos.
Pois bem, onde arquivar Ricardo Reis e seu fantasma?
Sob que sombra enterrar o grande rosto de senhor
de Alberto Caeiro? O que fazer quando pressurosos
historiadores perguntarem pelas senhas, claras e pessoais,
do poeta Álvaro de Campos?
Precisa-se saber, por outro lado, que rara erva foste.
Fernando Pessoa,
este peso de máquinas e combustíveis
que tu suportavas como um novo Atlas,
essa angústia de se gastar junto ao Tejo
ou nos cafés de Lisboa, no esquecimento,
esta evasão ou este enfrentamento
que foi tua poesia, chagada até nós
na forma de alaridos ou de lágrimas
ou de nervos golpeados até a desolação
terá um claro propósito, uma ordem amorosa
alguma vez. Por agora Portugal anoitece,
à dolorosa luz das lâmpadas das fábricas. (3)
Notas:
(1). Excerto de “Escrito num Livro Abandonado em Viagem”, de Álvaro
de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa.
(2). Cidade sul-africana onde Pessoa passou boa parte de sua juventude.
(3). Excerto de “Ode Triunfal”, também de Álvaro de Campos, cujo verso aparece logo na primeira linha
do poema, literalmente: “À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da
fábrica”.
Referência:
SUARDÍAZ, Luis. Fotografía tomada a
distancia. In: __________. Todo lo que tiene fin es breve. La Habana,
CU: Editorial Letras Cubanas, 1983. p. 88-89. (Colección ‘Giraldilla’)
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