Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Mario Quintana - O Gato

O poeta – como se diria? – mais parece uma criatura que pertence a outro planeta, tamanha a sua propensão a ver coisas para além das paisagens que, aos simples mortais, limitam-se àquelas lobrigadas pelo sentido da visão.

Assim, de um gato a cortar o caminho do vate, imagina este que, ante a incomunicabilidade e a solidão que a ambos singularizam, bem podem ter sido criados por deuses distintos. Passamos desse modo, ainda que por simples diversão, de um universo hipoteticamente criado por um único Deus, para outro no qual, sobre um mesmo solo, convivem seres gerados por múltiplas deidades...

J.A.R. – H.C.

Mario Quintana
(1906-1994)

O Gato

O gato chega à porta do quarto onde escrevo.
Entrepara... hesita... avança...

Fita-me.
Fitamo-nos.

Olhos nos olhos...
Quase com terror!

Como duas criaturas incomunicáveis e solitárias
Que fossem feitas cada uma por um Deus diferente.

Em: Preparativos de Viagem (1987)

Tarde de Domingo
(Edward Thompson Davis: pintor inglês)

Referência:

QUINTANA, Mario. O gato. In: __________. Quintana de bolso: rua dos cataventos & outros poemas. Seleção de Sergio Faraco. Porto Alegre, RS: L&PM, 2015. p. 125. (Coleção ‘L&PM Pocket’, v. 71)
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