Eis aqui alguns pensamentos do autor
inglês, ordenados sob a forma de poemas, selecionados e traduzidos pelo escritor
paulistano Sérgio Milliet: neles podemos constatar a sabedoria de um homem já
maduro, que ama a vida, mas amargurado pela maneira como a “civilização”
desanda.
Lawrence transmitiu-nos a sua
experiência com naturalidade, sutileza e inteligência, tendo-a coligido na obra
intitulada “Pansies” (1929), uma variante inglesa para a palavra de origem francesa
“Pensées”, a significar um punhado de pensamentos, reflexões, conjecturas.
J.A.R. – H.C.
D. H. Lawrence
(1885-1930)
Pansies
I (LAWRENCE, 2002, p.
553)
Whom the gods love,
die young.
How the gods must
hate most of the old, old men today,
the rancid old men
that don’t die
because the gods don’t
want them
won’t have them
leave them to stale
on earth.
Old people fixed in a
rancid resistance
to life, fixed to the
letter of the law.
The gods, who are
life, and the fluidity of living change
leave the old ones
fixed to their ugly, cogged self-will
which turns on and
on, the same, and is hell on earth.
II (LAWRENCE, 2002,
p. 503)
I never know what
people mean when they complain of loneliness.
To be alone is one of
life’s greatest delights, thinking one’s own
thoughts,
doing one’s own
little jobs, seeing the world beyond
and feeling oneself
uninterrupted in the rooted connection
with the centre of
all things.
III (LAWRENCE, 2002, p. 549)
There is nothing to
save, now all is lost,
but a tiny core of
stillness in the heart
like the eye of a
violet.
IV (LAWRENCE, 2002, p. 513)
I am not a mechanism,
an assembly of various sections.
and it is not because
the mechanism is working wrongly,
that I am ill.
I am ill because of
wounds to the soul, to the deep emotional self
and the wounds to the
soul take a long, long time, only
time can help
and patience, and a
certain difficult repentance
long, difficult
repentance, realization of life’s mistake, and the
freeing oneself
from the endless
repetition of the mistake
which mankind at
large has chosen to sanctify.
V (LAWRENCE, 2002, p. 519)
I have noticed that
people who talk a lot about loyalty
are always themselves
by nature disloyal
and they fear the
come-back.
VI (LAWRENCE, 2002, p. 614)
Do you think it is
easy to change?
Ah! It is very hard
to change and be different.
it means passing
through the waters os oblivion.
VIII (LAWRENCE, 2002, p. 500)
There are too many
people on earth
insipid, unsalted,
rabbity, endlessly hopping.
They nibble the face
of the earth to a desert.
Pensando
(Johann G. M. Von
Bremen: pintor alemão)
Pansies
I
Morrem moços os
amados dos deuses.
Os deuses devem odiar
quase todos os homens velhos de hoje;
os homens rançosos
que não morrem.
Porque não os querem
os deuses,
porque não os chamam
os deuses
e os deixam criar
ranço na terra?!
Todos esses velhos,
presos à recusa de viver,
obedientes à letra da
lei,
os deuses, que são
vida, fluidez e movimento,
deixam-nos entregues
à engrenagem suja do egoísmo
que gira sem parar
sobre si mesma.
O inferno sobre a
terra.
II
Não compreendo jamais
quem se queixa de solidão.
Estar só é uma das
maiores alegrias da vida.
Pensar por si, agir,
olhar o mundo,
não ser interrompido
nas relações com o fundo das coisas.
III
Nada resta por
salvar, agora que tudo se perdeu.
A não ser um núcleo
minúsculo de silêncio no coração,
como um olho de
violeta.
IV
Eu não sou um
mecanismo,
um conjunto de peças
isoladas.
E não é porque a
máquina não funciona que me sinto doente.
Se estou enfermo, as
feridas da alma são causa,
as chagas do eu emotivo
mais profundo.
E as feridas da alma
são lentas, lentas, somente o tempo as cura,
o tempo e a
paciência, e um certo arrependimento difícil,
um longo, difícil
arrependimento.
É preciso entender
que a vida se engana, e libertar-se
da eterna repetição
do erro
que a humanidade
inteira resolveu santificar.
V
Os que falam demais
em lealdade
são eles próprios
desleais
e se arreceiam do
contragolpe.
VI
Será a vida uma luta?
Será o longo combate?
Assim é. Luto sem
cessar
porque a isso sou
forçado.
No entanto, não me
interesso pela guerra, pela luta, pelo combate
sou levado de roldão.
VII
Vocês pensam que é
fácil mudar?
É muito difícil
mudar, ser diferente.
Há que transpor o rio
do esquecimento.
VIII
Há gente demais sobre
a terra,
gente insípida, sem
sal, proliferante...
E, sempre a saltitar,
roem o rosto do mundo
e dele fazem um
deserto.
Referências:
Em Inglês
LAWRENCE, D. H. The complete poems
of D. H. Lawrence. Introduction and note by David Ellis. Ware, EN: Wordsworth
Edtions, 2002. (‘Wordsworth Poetry Library’)
Em Português
LAWRENCE, D. H. Pansies. Tradução de
Sérgio Milliet. In: MILLIET, Sérgio (Seleção e Notas). Obras-primas da
poesia universal. 3. ed. São Paulo, SP: Livraria Martins Editora, 1957. p.
285-287.
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