Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 26 de abril de 2017

D. H. Lawrence - Pansies

Eis aqui alguns pensamentos do autor inglês, ordenados sob a forma de poemas, selecionados e traduzidos pelo escritor paulistano Sérgio Milliet: neles podemos constatar a sabedoria de um homem já maduro, que ama a vida, mas amargurado pela maneira como a “civilização” desanda.

Lawrence transmitiu-nos a sua experiência com naturalidade, sutileza e inteligência, tendo-a coligido na obra intitulada “Pansies” (1929), uma variante inglesa para a palavra de origem francesa “Pensées”, a significar um punhado de pensamentos, reflexões, conjecturas.

J.A.R. – H.C.

D. H. Lawrence
(1885-1930)

Pansies

I (LAWRENCE, 2002, p. 553)

Whom the gods love, die young.
How the gods must hate most of the old, old men today,
the rancid old men that don’t die
because the gods don’t want them
won’t have them
leave them to stale on earth.
Old people fixed in a rancid resistance
to life, fixed to the letter of the law.
The gods, who are life, and the fluidity of living change
leave the old ones fixed to their ugly, cogged self-will
which turns on and on, the same, and is hell on earth.

II (LAWRENCE, 2002, p. 503)

I never know what people mean when they complain of loneliness.
To be alone is one of life’s greatest delights, thinking one’s own
thoughts,
doing one’s own little jobs, seeing the world beyond
and feeling oneself uninterrupted in the rooted connection
with the centre of all things.

III (LAWRENCE, 2002, p. 549)

There is nothing to save, now all is lost,
but a tiny core of stillness in the heart
like the eye of a violet.

IV (LAWRENCE, 2002, p. 513)

I am not a mechanism, an assembly of various sections.
and it is not because the mechanism is working wrongly,
that I am ill.
I am ill because of wounds to the soul, to the deep emotional self
and the wounds to the soul take a long, long time, only
time can help
and patience, and a certain difficult repentance
long, difficult repentance, realization of life’s mistake, and the
freeing oneself
from the endless repetition of the mistake
which mankind at large has chosen to sanctify.

V (LAWRENCE, 2002, p. 519)

I have noticed that people who talk a lot about loyalty
are always themselves by nature disloyal
and they fear the come-back.

VI (LAWRENCE, 2002, p. 614)

Do you think it is easy to change?
Ah! It is very hard to change and be different.
it means passing through the waters os oblivion.

VIII (LAWRENCE, 2002, p. 500)

There are too many people on earth
insipid, unsalted, rabbity, endlessly hopping.
They nibble the face of the earth to a desert.

Pensando
(Johann G. M. Von Bremen: pintor alemão)

Pansies

I

Morrem moços os amados dos deuses.
Os deuses devem odiar quase todos os homens velhos de hoje;
os homens rançosos que não morrem.
Porque não os querem os deuses,
porque não os chamam os deuses
e os deixam criar ranço na terra?!
Todos esses velhos, presos à recusa de viver,
obedientes à letra da lei,
os deuses, que são vida, fluidez e movimento,
deixam-nos entregues à engrenagem suja do egoísmo
que gira sem parar sobre si mesma.
O inferno sobre a terra.

II

Não compreendo jamais quem se queixa de solidão.
Estar só é uma das maiores alegrias da vida.
Pensar por si, agir, olhar o mundo,
não ser interrompido nas relações com o fundo das coisas.

III

Nada resta por salvar, agora que tudo se perdeu.
A não ser um núcleo minúsculo de silêncio no coração,
como um olho de violeta.

IV

Eu não sou um mecanismo,
um conjunto de peças isoladas.
E não é porque a máquina não funciona que me sinto doente.
Se estou enfermo, as feridas da alma são causa,
as chagas do eu emotivo mais profundo.
E as feridas da alma são lentas, lentas, somente o tempo as cura,
o tempo e a paciência, e um certo arrependimento difícil,
um longo, difícil arrependimento.
É preciso entender que a vida se engana, e libertar-se
da eterna repetição do erro
que a humanidade inteira resolveu santificar.

V

Os que falam demais em lealdade
são eles próprios desleais
e se arreceiam do contragolpe.

VI

Será a vida uma luta? Será o longo combate?
Assim é. Luto sem cessar
porque a isso sou forçado.
No entanto, não me interesso pela guerra, pela luta, pelo combate
sou levado de roldão.

VII

Vocês pensam que é fácil mudar?
É muito difícil mudar, ser diferente.
Há que transpor o rio do esquecimento.

VIII

Há gente demais sobre a terra,
gente insípida, sem sal, proliferante...
E, sempre a saltitar,
roem o rosto do mundo
e dele fazem um deserto.

Referências:

Em Inglês

LAWRENCE, D. H. The complete poems of D. H. Lawrence. Introduction and note by David Ellis. Ware, EN: Wordsworth Edtions, 2002. (‘Wordsworth Poetry Library’)

Em Português

LAWRENCE, D. H. Pansies. Tradução de Sérgio Milliet. In: MILLIET, Sérgio (Seleção e Notas). Obras-primas da poesia universal. 3. ed. São Paulo, SP: Livraria Martins Editora, 1957. p. 285-287.

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