Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Pablo Neruda - Gatos Noturnos

O poeta, estando em Paris, contemplou o céu e se lembrou de Antofagasta, cidade ao norte do Chile natal. E mais: com sua prodigiosa imaginação, concebeu as estrelas como os olhos espreitantes de um gato ou duas centelhas no tigre, lídimas palpitações divinas.

Como se nota, o trânsito do poeta por Antofagasta não se parece com um deslocamento físico até os logradouros da cidade, senão a regiões não mapeadas pela cartografia, ou mais bem, aos seus próprios estados mentais – muito embora as referências transitem pela história e pelos recursos da região.

J.A.R. – H.C.

Pablo Neruda
(1904-1973)

Gatos Nocturnos

Cuántas estrellas tiene un gato
me preguntaron en Paris
y comencé tigre por tigre
a acechar Ias constelaciones:
porque dos ojos acechantes
son palpitaciones de Dios
en los ojos frios del gato
y dos centellas en el tigre.

Pero es una estrella Ia cola
de un gato erizado en el cielo
y es un tigre de piedra azul
Ia noche azul de Antofagasta.

La noche gris de Antofagasta
se eleva sobre Ias esquinas
como una derrota elevada
sobre Ia fatiga terrestre
y se sabe que es el desierto
el otro rostro de Ia noche
tan infinita, inexplorada
como el no ser de Ias estrellas.

Y entre Ias dos copas del alma
los minerales centellean.

Nunca vi un gato en el desierto:
La verdade es que nunca tuve
para dormir más compañia
que Ias arenas de Ia noche,
Ias circunstancias del desierto
o Ias estrellas del espacio.

Porque así no son y así son
mis pobres averiguaciones.

Noturno em ouro e negro:
o rojão que se precipita
(James M. Whistler: pintor norte-americano)

Gatos Noturnos

Quantas estrelas tem um gato
me perguntaram em Paris
e comecei tigre por tigre
a espreitar as constelações:
porque dois olhos espreitantes
são palpitações de Deus
nos olhos frios do gato
e duas centelhas no tigre.

Mas é uma estrela a cauda
de um gato eriçado no céu
e é um tigre de pedra azul
a noite azul de Antofagasta.

A noite gris de Antofagasta
se eleva sobre as esquinas
como uma derrota elevada
sobre a fadiga terrestre
e sabe-se que é o deserto
o outro rosto da noite
tão infinita, inexplorada
como o não ser das estrelas.

E entre as duas taças da alma
cintilam os minerais.

Nunca vi um gato no deserto:
a verdade é que nunca tive
para dormir mais companhia
que as areias da noite,
as circunstâncias do deserto
ou as estrelas do espaço.

Porque assim não são e assim são
minhas pobres averiguações.

Referência:

NERUDA, Pablo. Gatos nocturnos / Gatos Noturnos. Tradução de Olga Savary. In: __________. O coração amarelo. Tradução de Olga Savary. Edição bilíngue. Porto Alegre, RS: L&PM, 2004. Em espanhol: p. 50 e 52; em português: p. 51 e 53. (Coleção ‘L&PM Pocket’; v. 359)
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