Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 18 de abril de 2017

Hector de Saint-Denys Garneau - Gaiola de Pássaro

Solidão e morte são temas recorrentes na obra de Garneau – aliás, falecido prematuramente aos 31 anos –, como se o poeta pressentisse em seu âmago o arrulhar pressagioso que haveria de lhe suprimir a vida.

Fato é que há nos versos do autor franco-canadense certa obsessão ou fascínio pela morte, circunstância que nos faz lembrar determinadas passagens, do mesmo modo soturnas, contidas nos escritos de outro escritor francófono: Paul Verlaine.

J.A.R. – H.C.

Hector de Saint-Denys Garneau
(1912-1943)

Cage d’Oiseau

Je suis une cage d’oiseau
Une cage d’os
Avec un oiseau

L’oiseau dans ma cage d’os
C’est la mort qui fait son nid

Lorsque rien n’arrive
On entend froisser ses ailes

Et quand on a ri beaucoup
Si l’on cesse tout à coup
On l’entend qui roucoule
Au fond
Comme un grelot

C’est un oiseau tenu captif
La mort dans ma cage d’os

Voudrait-il pas s’envoler
Est-ce vous qui le retiendrez
Est-ce moi
Qu’est-ce que c’est

Il ne pourra s’en aller
Qu’après avoir tout mangé
Mon cœur
La source de sang
Avec la vie dedans

Il aura mon âme au bec.

Dans: “Regards et jeux dans l’espace” (1937)

O Passarinheiro
(Jean Henri de Coene: pintor belga)

Gaiola de Pássaro

Sou uma gaiola de pássaro
Uma gaiola de ossos
Com um pássaro

O pássaro em minha gaiola de ossos
É a morte entretecendo seu ninho

Quando nada acontece
Ouve-se o agitar de suas asas

E se alguém rindo às escâncaras
Susta de repente o riso
Escuta-o a arrulhar
Ao fundo
Como uma campânula

A morte em minha gaiola de ossos
É um pássaro em cativeiro

Não desejaria ele escapar
Será você que o irá reter
Serei eu
O que haverá de ser

Ele não será capaz de ir-se
Sem antes haver comido tudo
Meu coração
A fonte de sangue
Com a vida dentro

No bico carregará minh’alma.

Em: “Saudações e jogos no espaço” (1937)

Referência:

GARNEAU, Hector de Saint-Denys. Cage d’oiseau. In: DÉCAUDIN, Michel (Éd.). Anthologie de la poésie française du XXe siècle. Préface de Claude Roy. Édition revue et augmentée. Paris, FR: Gallimard, 2000. p. 489. (Collection ‘Poésie’)

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