Solidão e morte são temas recorrentes
na obra de Garneau – aliás, falecido prematuramente aos 31 anos –, como se o poeta
pressentisse em seu âmago o arrulhar pressagioso que haveria de lhe suprimir a
vida.
Fato é que há nos versos do autor
franco-canadense certa obsessão ou fascínio pela morte, circunstância que nos faz
lembrar determinadas passagens, do mesmo modo soturnas, contidas nos escritos
de outro escritor francófono: Paul Verlaine.
J.A.R. – H.C.
Hector de Saint-Denys
Garneau
(1912-1943)
Cage d’Oiseau
Je suis une cage d’oiseau
Une cage d’os
Avec un oiseau
L’oiseau dans ma cage
d’os
C’est la mort qui
fait son nid
Lorsque rien n’arrive
On entend froisser
ses ailes
Et quand on a ri
beaucoup
Si l’on cesse tout à
coup
On l’entend qui
roucoule
Au fond
Comme un grelot
C’est un oiseau tenu captif
La mort dans ma cage
d’os
Voudrait-il pas s’envoler
Est-ce vous qui le
retiendrez
Est-ce moi
Qu’est-ce que c’est
Il ne pourra s’en
aller
Qu’après avoir tout
mangé
Mon cœur
La source de sang
Avec la vie dedans
Il aura mon âme au
bec.
Dans: “Regards et
jeux dans l’espace” (1937)
O Passarinheiro
(Jean Henri de Coene:
pintor belga)
Gaiola de Pássaro
Sou uma gaiola de pássaro
Uma gaiola de ossos
Com um pássaro
O pássaro em minha gaiola de ossos
É a morte entretecendo seu ninho
Quando nada acontece
Ouve-se o agitar de suas asas
E se alguém rindo às escâncaras
Susta de repente o riso
Escuta-o a arrulhar
Ao fundo
Como uma campânula
A morte em minha gaiola de ossos
É um pássaro em cativeiro
Não desejaria ele escapar
Será você que o irá reter
Serei eu
O que haverá de ser
Ele não será capaz de ir-se
Sem antes haver comido tudo
Meu coração
A fonte de sangue
Com a vida dentro
No bico carregará minh’alma.
Em: “Saudações e
jogos no espaço” (1937)
Referência:
GARNEAU, Hector de Saint-Denys. Cage
d’oiseau. In: DÉCAUDIN, Michel (Éd.). Anthologie de la poésie française du
XXe siècle. Préface de Claude Roy. Édition revue et augmentée.
Paris, FR: Gallimard, 2000. p. 489. (Collection ‘Poésie’)
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