Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 2 de abril de 2017

Jorge Luis Borges - Pátio

Um grande poeta, Bandeira, retraduz outra figura estelar da literatura mundial, Borges. Digo “retraduz” porque a tradução de Bandeira vai além da simples versão ao português do original do poeta argentino, ultrapassando qualquer literalidade.

É o sentimento que faz extravasar a pena sobre as coisas que nos rodeiam, em sua circunstancial configuração: se não fosse de um jeito, seria de outro, mas qualquer que seja a forma que se nos apresente, a beleza do mundo, em sua transitoriedade, nos impacta e nos leva o sabor absintado até a boca.

J.A.R. – H.C.

Jorge Luis Borges
(1899-1986)

Un Patio

Con la tarde
se cansaron los dos o tres colores del patio.
Esta noche, la luna, el claro círculo,
no domina su espacio.
Patio, cielo encauzado.
El patio es el declive
por el cual se derrama el cielo en la casa.
Serena,
la eternidad espera en la encrucijada de estrellas.
Grato es vivir en la amistad oscura
de un zaguán, de una parra y de un aljibe.

En: “Fervor de Buenos Aires” (1923) 

Pátio do Café de Josefina
(Lisa Matta: pintora norte-americana)

Pátio

Com a tarde
Cansaram-se as duas ou três cores do pátio.
A grande franqueza da lua cheia
Já não entusiasma o seu habitual firmamento.
Hoje que o céu está frisado,
Dirá a crendice que morreu um anjinho.
Pátio, céu canalizado.
O pátio é a janela
Por onde Deus olha as almas.
O pátio é o declive
Por onde se derrama o céu na casa.
Serena
A eternidade espera na encruzilhada das estrelas.
Lindo é viver na amizade obscura
De um saguão, de uma aba de telhado e de uma cisterna.

Em: “Fervor de Buenos Aires” (1923)

Referências:

Em Espanhol

BORGES, Jorge Luis. Un patio. In: __________. Obras completas: 1923-1949. Fervor de Buenos Aires. Tomo I. 12. impresión. Buenos Aires, AR: Emecé, octubre de 2001. p. 23.

Em Português

BORGES, Jorge Luis. Pátio. Tradução de Manuel Bandeira. In: BANDEIRA, Manuel. Poemas traduzidos. 3. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1956. p. 28. (Coleção ‘Rubáiyát’)

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