Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Ezra Pound - Envoi (1919)‎

Tudo o que importava para Pound era a beleza. Ainda que saibamos que haveremos de morrer um dia, devemos zelar pela beleza da grande arte, ela que é como uma rosa selada em âmbar, preservada para sempre.

Percebamos que o poeta grafa a palavra beleza com a letra “B” assim, maiúscula, para sublinhar a transcendência da beleza artística, demarcando desse modo a reserva de seu poema em relação à balada romântica “Go, lovely Rose”, de Edmund Waller, seja como réplica seja como simples paródia.

J.A.R. – H.C.

Ezra Pound
(1885-1972)

Envoi* (1919)

Go, dumb-born book,
Tell her that sang me once that song of Lawes:
Hadst thou but song
As thou hast subjects known,
Then were there cause in thee that should condone
Even my faults that heavy upon me lie
And build her glories their longevity.

Tell her that sheds
Such treasure in the air,
Recking naught else but that her graces give
Life to the moment,
I would bid them live
As roses might, in magic amber laid,
Red overwrought with orange and all made
One substance and one colour
Braving time.

Tell her that goes
With song upon her lips
But sings not out the song, nor knows
The maker of it, some other mouth,
May be as fair as hers,
Might, in new ages, gain her worshippers,
When our two dusts with Waller’s shall be laid,
Siftings on siftings in oblivion,
Till change hath broken down
All things save Beauty alone.

Orquídea da Selva
(Carol Cavalaris: pintora norte-americana)

Envoi (1919)

Vai, livro natimudo,
E diz a ela
Que um dia me cantou essa canção de Lawes:
Houvesse em nós
Mais canção, menos temas,
Então se acabariam minhas penas,
Meus defeitos sanados em poemas
Para fazê-la eterna em minha voz.

Diz a ela que espalha
Tais tesouros no ar,
Sem querer nada mais além de dar
Vida ao momento,
Que eu lhes ordenaria: vivam,
Quais rosas, no âmbar mágico, a compor,
Rubribordadas de ouro, só
Uma substância e cor
Desafiando o tempo.

Diz a ela que vai
Com a canção nos lábios
Mas não canta a canção e ignora
Quem a fez, que talvez uma outra boca
Tão bela quanto a dela
Em novas eras há de ter aos pés
Os que a adoram agora,
Quando os nossos dois pós
Com o de Waller se deponham, mudos,
No olvido que refina a todos nós,
Até que a mutação apague tudo
Salvo a Beleza, a sós.

Nota:

“Envoi” são observações derradeiras, normalmente de cunho explicativo ou distintivo, apostas ao final de um poema, ensaio ou livro; mais especificamente, refere-se a uma estrofe curta ao final de uma balada, de forma a sintetizá-la ou dedicá-la.

Referências:

Em Inglês

POUND, Ezra. Envoi (1919). In: FREER; Allen; ANDREW, John (Eds.). Book of english verse: 1900-1939. Cambridge, EN: Cambridge University Press, 1970. p. 96.

Em Português

POUND, Ezra. Envoi (1919). Tradução de Augusto de Campos. In: __________. Poesia. Traduções de Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari, J. L. Grünewald e Mário Faustino. 3. ed. São Paulo, SP: Hucitec; Brasília, DF: Edunb; 1993. p. 127.

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