Victor Hugo quase se parece ao redator do Eclesiastes – vaidade de
vaidades, tudo é vaidade! –, nesta poesia datada de 5 de janeiro de 1849, recolhida
em “Les quatre vents de l’esprit” (“Os quatro ventos do espírito”), de 1881.
De 1885 é a tradução de Fontoura Xavier, que, por vezes, para manter a
métrica e o esquema de rimas emparelhadas, se afasta um pouco do texto original,
sem no entanto comprometer, a meu ver, o belo resultado final.
J.A.R. – H.C.
Victor Hugo
(1802-1885)
Ô misérable amas de vanités humaines
Ô misérable amas de
vanités humaines,
Rêves! Au premier vent qui souffle dans les
plaines,
Comme tout se disperse et tout s’évanouit!
Puissance, amour,
douleur qui brûle dans la nuit,
Orgueils et voluptés,
colères enflammées,
Comme cela se mêle à
toutes les fumées!
À quoi bon tant d’ardeur et tant d’emportement
Pour arriver si vite à tant d’abattement!
Hommes! Pourquoi ce bruit, et pourquoi faire
attendre
Des colosses au
monde? On croit, à vous entendre
Rugir dans le brasier
des sombres passions,
Au milieu des fureurs
et des ambitions,
Autour de ce que
l’âme embrasse, craint, désire,
Que vous êtes de
bronze, et vous êtes de cire!
5 janvier 1849
Alegoria da Vaidade
(Trophime Bigot:
pintor francês)
Misérrimo montão de vaidades do homem
Misérrimo montão de
vaidades do homem,
Sonhos! que o menor
vento e o menor sopro somem
Como se acaba tudo e
tudo se dispersa!
O poderio, a dor, a
dor na noite imersa,
Cólera, orgulho,
amor, tudo, tudo, em resumo,
Não é mais do que pó,
não é mais do que fumo!
Para que tanto afã,
por que tanta esperança,
Se em vão se corre
atrás de um bem que não se alcança?
Dizei, homens! por quê?
Por que sempre rugindo
Ameaçais mar e céu?
Dir-se-ia, em vos ouvindo
Soprar nesse braseiro
aceso de paixões,
No meio do furor das
vossas ambições,
Em torno do que a
alma abraça, crê e espera,
Que sois feitos de
bronze, e entanto sois de cera!
5 janeiro 1849
Referências:
Em Francês
HUGO, Victor. Ô misérable amas de
vanités humaines. Disponível neste
endereço. Acesso em: 30 ago. 2016.
Em Português
HUGO, Victor. Misérrimo montão de
vaidades do homem. Tradução de Fontoura Xavier. In: TEIXEIRA, Múcio (Org.). Hugonianas: poesias de Victor Hugo
traduzidas por poetas brasileiros. 2. ed. Rio de Janeiro: Imprensa
Nacional, 1885. p. 271-272.
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