Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Augusto dos Anjos - A Ideia

Se Du Bellay vai às alturas para conceber e formular os atributos da ideia (vide postagem anterior), Augusto dos Anjos rasteja na mais árida materialidade, presente até mesmo nas alegorias que emprega para circunscrever o seu domínio de intervenção.

Dos Anjos concebe-a, como se poderia esperar, derivada da psicogenética e da química do cérebro, constringida no oculto encéfalo, até que, pelo mecanismo da linguagem, e ejetada por uma força centrípeta, venha a ser apregoada pelo aparelho fonador. Ou não!: pois como formula o poeta, é possível que a ideia, antes, venha a ser estancada pelo “mulambo da língua paralítica”.

J.A.R. – H.C.

Augusto dos Anjos
(1884-1914)

A Ideia

De onde ela vem? De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!

Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!

Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica...

Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No mulambo da língua paralítica!

Brainstorming
(Adel Al-Abbasi: artista bareinita)

Referência:

ANJOS, Augusto dos. A ideia. In: __________. Todos os sonetos. Porto Alegre, RS: L&PM, 2001. p. 12. (L&PM Pocket, nº 83)

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