Escrito em 1939, no exílio, este poema de Brecht revela o conflito entre
o horror da situação política ocasionada pelo nazismo e as manifestações belas
e tranquilas da natureza à volta: dividido entre as duas temáticas, contudo,
apenas sobre os compromissos políticos inadiáveis o autor se propõe a escrever.
Assim, as más condições do tempo histórico refletem-se em conjunturas
também adversas para a poesia. Mas será sempre assim? Talvez as dificuldades
configurem um tempo especial para o surgimento de obras primas – mesmo daquelas
a tratar de temas exclusivamente naturais: a literatura está aí para comprovar!
Tudo pode surgir da mente humana a qualquer tempo...
J.A.R. – H.C.
Bertolt Brecht
(1898-1956)
Schlechte Zeit
für Lyrik
Ich weiß doch: nur der Glückliche
Ist beliebt. Seine Stimme
Hört man gern. Sein Gesicht ist schön.
Der verkrüppelte Baum im Hof
Zeigt auf den schlechten Boden, aber
Die Vorübergehenden schimpfen ihn einen Krüppel
Doch mit Recht.
Die grünen Boote und die lustigen Segel des Sundes
Sehe ich nicht. Von allem
Sehe ich nur der Fischer rissiges Garnnetz.
Warum rede ich nur davon
Daß die vierzigjährige Häuslerin gekrümmt geht?
Die Brüste der Mädchen
Sind warm wie ehedem.
In meinem Lied ein Reim
Käme mir fast vor wie Übermut.
In mir streiten sich
Die Begeisterung über den blühenden Apfelbaum
Und das Entsetzen über die Reden des Anstreichers.
Aber nur das zweite
Drängt mich, zum
Schreibtisch.
A Paixão da Criação
(Leonid Pasternak:
pintor russo)
Mau Tempo para a Poesia
Sim, eu sei: só o
homem feliz
É querido. Sua voz
É ouvida com prazer.
Seu rosto é belo.
A árvore aleijada no
quintal
Indica o solo pobre,
mas
Os passantes a
maltratam por ser um aleijão
E estão certos.
Os barcos verdes e as
velas alegres da baía
Eu não enxergo. De
tudo
Vejo apenas a rede
partida dos pescadores.
Por que falo apenas
Da camponesa de
quarenta anos que anda curvada?
Os seios das meninas
São quentes como
sempre.
Em minha canção uma
rima
Me pareceria quase
uma insolência.
Em mim lutam
O entusiasmo pela
macieira que floresce;
E o horror pelos
discursos do pintor.
Mas apenas o segundo
Me conduz à
escrivaninha.
Referências:
Em Alemão
BRECHT, Bertolt. Schlechte zeit für lyrik. In: __________. Poetry and prose. Edited by Reinhold Grimm
& Caroline Molina y Vedia. Bilingual edition: German / English. New York,
NY: Continuum, 2003. p. 94.
Em Português
BRECHT, Bertolt. Mau tempo para a
poesia. Tradução de Paulo César de Souza. In: __________. Poemas: 1913-1956. 5. ed. Seleção e tradução de Paulo César de
Souza. São Paulo, SP: Editora 34, 2000. p. 226.
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