Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Bertolt Brecht - Mau Tempo para a Poesia

Escrito em 1939, no exílio, este poema de Brecht revela o conflito entre o horror da situação política ocasionada pelo nazismo e as manifestações belas e tranquilas da natureza à volta: dividido entre as duas temáticas, contudo, apenas sobre os compromissos políticos inadiáveis o autor se propõe a escrever.

Assim, as más condições do tempo histórico refletem-se em conjunturas também adversas para a poesia. Mas será sempre assim? Talvez as dificuldades configurem um tempo especial para o surgimento de obras primas – mesmo daquelas a tratar de temas exclusivamente naturais: a literatura está aí para comprovar! Tudo pode surgir da mente humana a qualquer tempo...

J.A.R. – H.C.

Bertolt Brecht
(1898-1956)

Schlechte Zeit für Lyrik

Ich weiß doch: nur der Glückliche
Ist beliebt. Seine Stimme
Hört man gern. Sein Gesicht ist schön.

Der verkrüppelte Baum im Hof
Zeigt auf den schlechten Boden, aber
Die Vorübergehenden schimpfen ihn einen Krüppel
Doch mit Recht.

Die grünen Boote und die lustigen Segel des Sundes
Sehe ich nicht. Von allem
Sehe ich nur der Fischer rissiges Garnnetz.
Warum rede ich nur davon
Daß die vierzigjährige Häuslerin gekrümmt geht?
Die Brüste der Mädchen
Sind warm wie ehedem.

In meinem Lied ein Reim
Käme mir fast vor wie Übermut.

In mir streiten sich
Die Begeisterung über den blühenden Apfelbaum
Und das Entsetzen über die Reden des Anstreichers.
Aber nur das zweite
Drängt mich, zum Schreibtisch.

A Paixão da Criação
(Leonid Pasternak: pintor russo)

Mau Tempo para a Poesia

Sim, eu sei: só o homem feliz
É querido. Sua voz
É ouvida com prazer. Seu rosto é belo.

A árvore aleijada no quintal
Indica o solo pobre, mas
Os passantes a maltratam por ser um aleijão
E estão certos.

Os barcos verdes e as velas alegres da baía
Eu não enxergo. De tudo
Vejo apenas a rede partida dos pescadores.
Por que falo apenas
Da camponesa de quarenta anos que anda curvada?
Os seios das meninas
São quentes como sempre.

Em minha canção uma rima
Me pareceria quase uma insolência.

Em mim lutam
O entusiasmo pela macieira que floresce;
E o horror pelos discursos do pintor.
Mas apenas o segundo
Me conduz à escrivaninha.

Referências:

Em Alemão

BRECHT, Bertolt. Schlechte zeit für lyrik. In: __________. Poetry and prose. Edited by Reinhold Grimm & Caroline Molina y Vedia. Bilingual edition: German / English. New York, NY: Continuum, 2003. p. 94.

Em Português

BRECHT, Bertolt. Mau tempo para a poesia. Tradução de Paulo César de Souza. In: __________. Poemas: 1913-1956. 5. ed. Seleção e tradução de Paulo César de Souza. São Paulo, SP: Editora 34, 2000. p. 226.

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