Este interessante poema do argentino Lugones retrata idas e vindas de
uma conversa galante entre o poeta e uma dama, com título similar ao da renomada
obra do filósofo alemão Friedrich Nietzsche.
Mas a comparação para por aí: “gaia ciência” porque assim também é
conhecida a arte ou ciência da poesia, ofício que, no transcurso do tempo, se popularizou
francamente entre os menestréis e jograis, hábeis nas réplicas espirituosas.
J.A.R. – H.C.
Leopoldo Lugones
(1874-1938)
Gaya Ciencia
Dijo la dama al
poeta:
– Habéis cantado tan
bien
al ruiseñor amoroso,
que con dulce
placidez,
en vuestros versos
oía
sus propias perlas
caer.
– Señora, dijo el
poeta,
ruiseñor fui yo una
vez.
– Habéis celebrado al
lirio
con tan noble
sencillez
y comprendido su
gracia
con un acierto tan
fiel,
que en vuestros
versos parece
duplicarse su
esbeltez.
– Señora, dijo el
poeta,
yo he sido lirio
también.
– La pompa de los
palacios,
la gallardía y la
prez
de monarcas y
princesas
dar con tal brillo
sabéis,
que en vuestros
versos el oro
parece resplandecer.
El poeta le repuso:
– Señora, yo he sido
rey.
– Dolores que habéis
cantado,
sin padecerlos tal
vez,
tan hondo el alma me
hirieron,
que sin comprender
por qué,
bajo el peso de la
angustia
me sentí palidecer.
– Señora, dijo el
poeta.
yo fui aquella
palidez.
Que el secreto de las
cosas
y de las almas lo sé,
y las canto por
sabidas
sin saberlas a la
vez.
Pues para que bien
cantase,
mi hada madrina al
nacer,
del gozo y pena de
todos
me hizo la dura
merced.
– Entonces, dijo la
dama,
decirme, acaso,
podréis,
si es verdad que de
amor mueren
los que bien saben
querer.
Así el triste ha
respondido,
quebrados acento y
tez:
– ¿A qué preguntáis,
señora,
lo que a la vista
tenéis?…
Dividido entre a Ciência e o Matrimônio
(Georg Melchior Kraus:
pintor alemão)
Gaia Ciência
Disse a dama ao poeta:
– Haveis cantado tão
bem
o rouxinol amoroso,
que com doce
placidez,
em vossos versos
ouvia
suas próprias pérolas
cair.
– Senhora, disse o
poeta,
rouxinol fui eu uma
vez.
– Haveis celebrado o
lírio
com tão nobre
simplicidade
e compreendido sua
graça
com um acerto tão
fiel,
que em vossos versos
parece
duplicar-se sua
esbelteza.
– Senhora, disse o
poeta,
lírio também tenho
sido.
– A pompa dos
palácios,
a galhardia e a honra
de monarcas e
princesas
dar com tal brilho
sabeis,
que em vossos versos
o ouro
parece resplandecer.
O poeta lhe respondeu:
– Senhora, tenho sido
rei.
– Dores que haveis
cantado,
sem padecê-las
talvez,
tão fundo a alma me
feriram,
que sem compreender
por quê,
sob o peso da
angústia
me senti empalidecer.
– Senhora, disse o
poeta,
eu fui aquela palidez.
Que o segredo das
coisas
e das almas o sei,
e as canto por
sabidas
sem sabê-las por sua
vez.
Pois para que bem
cantasse
minha fada madrinha
ao nascer,
do gozo e da pena de
todos
me fez a dura mercê.
– Então, falou-lhe a
dama,
dizer-me, acaso,
podereis,
se é verdade que de
amor morrem
os que bem sabem
querer.
Assim respondeu o
triste poeta:
– Sobre o que
perguntais, senhora,
o que tendes em
vista?
Referência:
LUGONES, Leopoldo. Gaya ciencia. In:
__________. Romancero. Buenos Aires,
AR: Editorial Babel, 1924. p. 9-12. (‘Biblioteca Argentina de Buenas Ediciones
Literarias’)
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