Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 11 de setembro de 2016

Leopoldo Lugones - Gaia Ciência

Este interessante poema do argentino Lugones retrata idas e vindas de uma conversa galante entre o poeta e uma dama, com título similar ao da renomada obra do filósofo alemão Friedrich Nietzsche.

Mas a comparação para por aí: “gaia ciência” porque assim também é conhecida a arte ou ciência da poesia, ofício que, no transcurso do tempo, se popularizou francamente entre os menestréis e jograis, hábeis nas réplicas espirituosas.

J.A.R. – H.C.

Leopoldo Lugones
(1874-1938)

Gaya Ciencia

Dijo la dama al poeta:
– Habéis cantado tan bien
al ruiseñor amoroso,
que con dulce placidez,
en vuestros versos oía
sus propias perlas caer.
– Señora, dijo el poeta,
ruiseñor fui yo una vez.

– Habéis celebrado al lirio
con tan noble sencillez
y comprendido su gracia
con un acierto tan fiel,
que en vuestros versos parece
duplicarse su esbeltez.
– Señora, dijo el poeta,
yo he sido lirio también.

– La pompa de los palacios,
la gallardía y la prez
de monarcas y princesas
dar con tal brillo sabéis,
que en vuestros versos el oro
parece resplandecer.
El poeta le repuso:
– Señora, yo he sido rey.

– Dolores que habéis cantado,
sin padecerlos tal vez,
tan hondo el alma me hirieron,
que sin comprender por qué,
bajo el peso de la angustia
me sentí palidecer.
– Señora, dijo el poeta.
yo fui aquella palidez.

Que el secreto de las cosas
y de las almas lo sé,
y las canto por sabidas
sin saberlas a la vez.
Pues para que bien cantase,
mi hada madrina al nacer,
del gozo y pena de todos
me hizo la dura merced.

– Entonces, dijo la dama,
decirme, acaso, podréis,
si es verdad que de amor mueren
los que bien saben querer.
Así el triste ha respondido,
quebrados acento y tez:
¿A qué preguntáis, señora,
lo que a la vista tenéis?…

Dividido entre a Ciência e o Matrimônio
(Georg Melchior Kraus: pintor alemão)

Gaia Ciência

Disse a dama ao poeta:
– Haveis cantado tão bem
o rouxinol amoroso,
que com doce placidez,
em vossos versos ouvia
suas próprias pérolas cair.
– Senhora, disse o poeta,
rouxinol fui eu uma vez.

– Haveis celebrado o lírio
com tão nobre simplicidade
e compreendido sua graça
com um acerto tão fiel,
que em vossos versos parece
duplicar-se sua esbelteza.
– Senhora, disse o poeta,
lírio também tenho sido.

– A pompa dos palácios,
a galhardia e a honra
de monarcas e princesas
dar com tal brilho sabeis,
que em vossos versos o ouro
parece resplandecer.
O poeta lhe respondeu:
– Senhora, tenho sido rei.

– Dores que haveis cantado,
sem padecê-las talvez,
tão fundo a alma me feriram,
que sem compreender por quê,
sob o peso da angústia
me senti empalidecer.
– Senhora, disse o poeta,
eu fui aquela palidez.

Que o segredo das coisas
e das almas o sei,
e as canto por sabidas
sem sabê-las por sua vez.
Pois para que bem cantasse
minha fada madrinha ao nascer,
do gozo e da pena de todos
me fez a dura mercê.

– Então, falou-lhe a dama,
dizer-me, acaso, podereis,
se é verdade que de amor morrem
os que bem sabem querer.
Assim respondeu o triste poeta:
– Sobre o que perguntais, senhora,
o que tendes em vista?

Referência:

LUGONES, Leopoldo. Gaya ciencia. In: __________. Romancero. Buenos Aires, AR: Editorial Babel, 1924. p. 9-12. (‘Biblioteca Argentina de Buenas Ediciones Literarias’)

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