Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Carlos Drummond de Andrade - Tristeza no Céu

Drummond expõe a sua própria tristeza com as coisas deste mundo na mente do Criador. Há uma dúvida profunda que o assola, quando lhe sobrevêm questionamentos sobre o que lhe teria levado a criar tudo quanto existe.

Parece-lhe que mesmo as boas ideias, como a graça, a eternidade e o amor, não são suficientes para justificar a eclosão do gênero humano: não fosse tal motivo, qual seria então a explicação para tamanha aflição divina?!

J.A.R. – H.C.

Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)

Tristeza no Céu

No céu também há uma hora melancólica.
Hora difícil, em que a dúvida penetra as almas.
Por que fiz o mundo? Deus se pergunta
e se responde: Não sei.

Os anjos olham-no com reprovação,
e plumas caem.

Todas as hipóteses: a graça, a eternidade, o amor
caem, são plumas.

Outra pluma, o céu se desfaz.
Tão manso, nenhum fragor denuncia
o momento entre tudo e nada,
ou seja, a tristeza de Deus

Tristeza
(Elizabeth Dobbs: pintora norte-americana)

Referência:

ANDRADE, Carlos Drummond de. Tristeza no céu. In: __________. Antologia poética: organizada pelo autor. 48. ed. Rio de Janeiro, RJ: Record, 2001. p. 275.

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