Drummond expõe a sua própria tristeza com as coisas deste mundo na mente
do Criador. Há uma dúvida profunda que o assola, quando lhe sobrevêm
questionamentos sobre o que lhe teria levado a criar tudo quanto existe.
Parece-lhe que mesmo as boas ideias, como a graça, a eternidade e o
amor, não são suficientes para justificar a eclosão do gênero humano: não fosse
tal motivo, qual seria então a explicação para tamanha aflição divina?!
J.A.R. – H.C.
Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)
Tristeza no Céu
No céu também há uma
hora melancólica.
Hora difícil, em que
a dúvida penetra as almas.
Por que fiz o mundo? Deus
se pergunta
e se responde: Não
sei.
Os anjos olham-no com
reprovação,
e plumas caem.
Todas as hipóteses: a
graça, a eternidade, o amor
caem, são plumas.
Outra pluma, o céu se
desfaz.
Tão manso, nenhum
fragor denuncia
o momento entre tudo
e nada,
ou seja, a tristeza
de Deus
Tristeza
(Elizabeth Dobbs:
pintora norte-americana)
Referência:
ANDRADE, Carlos Drummond de. Tristeza
no céu. In: __________. Antologia
poética: organizada pelo autor. 48. ed. Rio de Janeiro, RJ: Record, 2001. p.
275.
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