Moore atém-se, nesta sua breve criação, essencialmente à forma como se
deve finalizar um poema: dado que o caracol não possui pés, paradoxalmente, largá-lo inconcluso não deixa de ser uma forma de concluí-lo! E mais: por trás dos “chifres
do caracol” podem-se perceber os princípios subjacentes do estilo empregado,
ainda que tal não seja a sua qualidade precípua.
Por conseguinte, há muitos modos, não apenas um, para se escrever poemas
e expressar ideias poéticas. Em vez de manter-se sob uma única forma ou padrão
adotado, Moore nos dá um exemplo de como pode ser altamente gratificante
experimentar novos giros de linguagem.
J.A.R. – H.C.
Marianne Moore
(1887-1972)
To a Snail
If “compression is the first grace of style”,
you have it.
Contractility is a virtue
as modesty is a virtue.
It is not the acquisition of any one thing
that is able to adorn,
or the incidental quality that occurs
as a concomitant of something well said,
that we value in style,
but the principle that is hid:
in the absence of feet, “a method of conclusions”;
“a knowledge of
principles”,
in the curious phenomenon of your occipital horn.
In: “Observations”
(1924)
Cidade dos Caracóis
(Valentina Plishchina:
artista norte-americana)
A um Caracol
Se a “compreensão é a
primeira qualidade do estilo”,
tu a possuis. Ser
contráctil é uma virtude
como a modéstia.
Não é uma aquisição
capaz de se tornar um
ornamento,
nem a qualidade
acidental
que acompanha alguma
coisa bem dita,
e que valorizamos no
estilo,
mas o princípio que
está oculto:
na ausência de pés, “um
método para concluir”;
“um conhecimento de
princípios”,
no curioso fenômeno
de teus chifres occipitais.
Em: “Observações” (1924)
Referências:
Em Inglês
MOORE, Marianne. To a snail. In: __________. Becoming Marianne Moore: the early poems, 1907-1924. Edited by
Robin G. Schulze. Berkeley, CA: University of California Press, 2002. p. 65.
Em Português
MOORE, Marianne. A um caracol. Tradução
de Ferreira Gullar. In: GULLAR, Ferreira (Org.). O prazer do poema: uma antologia pessoal. Rio de Janeiro, RJ:
Edições de Janeiro, 2014. p. 111.
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