Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Saint-Germain - Entre as Árvores...

Pietro de Castellamare era pseudônimo de Joaquim Maria Serra Sobrinho, jornalista, professor, político e teatrólogo maranhense, autor da tradução do poema abaixo, atribuído a Saint-Germain.

Como não logrei obter o poema em seu idioma original – afinal, a obra em que se encontra a versão ao português não é bilíngue – ignoro se o autor com o nome de Saint-Germain seria o conde conterrâneo do Drácula (rs) – nascido na Transilvânia –, território atual da Romênia.

J.A.R. – H.C. 

Joaquim Serra
(1838-1888)

Entre as Árvores...

Há palavras que são mágicas senhas,
Que recordam um passado misterioso,
Quando escuto-as, eu sinto que se exaltam
As lembranças de um tempo mais ditoso!

Há dias que ninguém jamais esquece,
Dias cheios de luz, de aroma e vida,
Que debalde se busca um semelhante,
Quando corre a existência dolorida.

Há lugares por onde eu nunca passo
Sem supor que ali vejo o meu passado,
Onde busco uma imagem, que me foge
Como a sombra impalpável a meu lado!

Há cantares, que sendo modulados
Vão despertar um eco adormecido,
E parece-me ouvir um som longínquo,
Cuja voz lembra um anjo bem querido!

Era uma tarde. Eu fui com ela ao bosque,
Perfumada corria a primavera;
Ai, entre aquela sombra do arvoredo
Outra tarde como essa quem me dera!

As florinhas mais frescas e cheirosas
Não lutavam com ela em mimo e graça,
Se inclinavam a seu lado murmurando
Em voz baixa e contente: ei-la que passa!

Repousemos aqui, disse ela entrando
Em singela casinha, porém franca;
Ofertou-me com a mão pura e nevada
Branco leite e a mão era mais branca!

Tão formosa com o seu chapéu de palha,
Com a loura madeixa solta, à toa!
E com o talho flexível, dobradiço
Como o débil caniço da lagoa!

Que banquete divino num só prato!
O pão e o leite um néctar parecia!
Tão velozes passaram esses instantes,
Que trememos ao dar de Ave-Maria!

Sereno estava o céu quando saímos
Desse rústico albergue hospitaleiro,
Asilo onde gozamos enlevados
Um prazer inocente e verdadeiro!

Em silêncio voltamos lentamente,
Querendo demorar a despedida;
“Ai que tempo veloz!” ambos dissemos,
“Que passeio! que bosque! que guarida!”

Feliz tarde! passaste como um sonho,
Dera a vida por ter-te novamente!
Só sei, desde esse dia, qu’inda vivo
Porque trago esse dia em minha mente!

Vejo agora meu céu anuviado,
O coração no peito trago morto!
Mas, se memoro a cena do arvoredo,
Ele palpita e eu sinto algum conforto!

Que há palavras que são mágicas senhas,
Que recordam um passado misterioso,
Quando alguém as profere, em sobressalto
Procura a mente a um tempo mais ditoso!

O Jardim de Rosas
(Lee Bogle: artista norte-americano)

Referência:

SAINT-GERMAIN. Entre as árvores... Tradução de Pietro de Castellamari. In: CASTELLAMARI, Pietro de. Versos. São Luís, MA: Typ. de B. de Mattos, 1868. p. 45-48.

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