Pietro
de Castellamare era pseudônimo de Joaquim
Maria Serra Sobrinho, jornalista, professor, político e teatrólogo maranhense,
autor da tradução do poema abaixo, atribuído a Saint-Germain.
Como não logrei obter o poema em seu idioma original – afinal, a obra em
que se encontra a versão ao português não é bilíngue – ignoro se o autor com o
nome de Saint-Germain seria o conde conterrâneo do Drácula (rs) – nascido na
Transilvânia –, território atual da Romênia.
J.A.R. – H.C.
Joaquim Serra
(1838-1888)
Entre as Árvores...
Há palavras que são
mágicas senhas,
Que recordam um
passado misterioso,
Quando escuto-as, eu
sinto que se exaltam
As lembranças de um
tempo mais ditoso!
Há dias que ninguém
jamais esquece,
Dias cheios de luz,
de aroma e vida,
Que debalde se busca
um semelhante,
Quando corre a
existência dolorida.
Há lugares por onde
eu nunca passo
Sem supor que ali
vejo o meu passado,
Onde busco uma
imagem, que me foge
Como a sombra impalpável
a meu lado!
Há cantares, que
sendo modulados
Vão despertar um eco
adormecido,
E parece-me ouvir um
som longínquo,
Cuja voz lembra um
anjo bem querido!
Era uma tarde. Eu fui
com ela ao bosque,
Perfumada corria a primavera;
Ai, entre aquela
sombra do arvoredo
Outra tarde como essa
quem me dera!
As florinhas mais
frescas e cheirosas
Não lutavam com ela
em mimo e graça,
Se inclinavam a seu
lado murmurando
Em voz baixa e
contente: ei-la que passa!
Repousemos aqui,
disse ela entrando
Em singela casinha,
porém franca;
Ofertou-me com a mão
pura e nevada
Branco leite e a mão
era mais branca!
Tão formosa com o seu
chapéu de palha,
Com a loura madeixa
solta, à toa!
E com o talho
flexível, dobradiço
Como o débil caniço
da lagoa!
Que banquete divino num
só prato!
O pão e o leite um néctar
parecia!
Tão velozes passaram
esses instantes,
Que trememos ao dar
de Ave-Maria!
Sereno estava o céu
quando saímos
Desse rústico albergue
hospitaleiro,
Asilo onde gozamos
enlevados
Um prazer inocente e
verdadeiro!
Em silêncio voltamos
lentamente,
Querendo demorar a
despedida;
“Ai que tempo veloz!”
ambos dissemos,
“Que passeio! que
bosque! que guarida!”
Feliz tarde! passaste
como um sonho,
Dera a vida por
ter-te novamente!
Só sei, desde esse
dia, qu’inda vivo
Porque trago esse dia
em minha mente!
Vejo agora meu céu
anuviado,
O coração no peito
trago morto!
Mas, se memoro a cena
do arvoredo,
Ele palpita e eu
sinto algum conforto!
Que há palavras que
são mágicas senhas,
Que recordam um
passado misterioso,
Quando alguém as
profere, em sobressalto
Procura a mente a um
tempo mais ditoso!
O Jardim de Rosas
(Lee Bogle: artista
norte-americano)
Referência:
SAINT-GERMAIN. Entre as árvores... Tradução de Pietro de Castellamari. In:
CASTELLAMARI, Pietro de. Versos. São Luís, MA: Typ. de B. de Mattos, 1868. p. 45-48.
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