Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 4 de setembro de 2016

Adolfo Casais Monteiro - Unidade

Nascido no Porto (PT) e falecido em São Paulo (BR), Casais Monteiro evidencia, neste seu poema de quatro estrofes alternadas com cinco ou seis versos livres, tendência a um modo mais desamarrado de labor poético.

O poeta afirma não haver rotas de engano em sua vida: tudo são escolhas deliberadas que, se vertidas em ocasional perda de tempo, por outro lado, trouxeram-lhe a sabedoria para, agora, reconhecê-las proveitosas, com vistas a perseverar em busca do bem a que sempre aspirou.

J.A.R. – H.C.

Adolfo Casais Monteiro
(1908-1972)

Unidade

Tudo na vida é caminho
nalgum sentido traçado
e não há passos em falso
até esses têm sentido
num amanhã ainda opaco.

Os ziguezagues que fiz
não os dou por incidentes
a desviar o meu rumo;
enquanto perdi o tempo
ganhei ciência de amá-lo
agora que vale a pena.

Nenhum poder que disperse
esta profunda constância
de ser em cada momento
aquele que sempre teve
um só rosto verdadeiro.

E sempre nas minhas veias
o mesmo calor do sangue
e sempre o mesmo horizonte
ainda que vago na bruma
e esta sede sempre viva
dum bem que sempre ansiei.

Chuva em Floresta de Carvalhos
(Ivan Shishkin: pintor russo)

Referência:

MONTEIRO, Casais. Unidade. In: AMORA, Antônio Soares; MOISÉS, Massaud; SPINA, Segismundo (Orgs.). Presença da literatura portuguesa: história e antologia. III. Simbolismo e Modernismo. São Paulo, SP: Difusão Europeia do Livro, 1961. p. 281-282.

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