Nascido no Porto (PT) e falecido em São Paulo (BR), Casais Monteiro
evidencia, neste seu poema de quatro estrofes alternadas com cinco ou seis
versos livres, tendência a um modo mais desamarrado de labor poético.
O poeta afirma não haver rotas de engano em sua vida: tudo são escolhas
deliberadas que, se vertidas em ocasional perda de tempo, por outro lado,
trouxeram-lhe a sabedoria para, agora, reconhecê-las proveitosas, com vistas a perseverar
em busca do bem a que sempre aspirou.
J.A.R. – H.C.
Adolfo Casais Monteiro
(1908-1972)
Unidade
Tudo na vida é
caminho
nalgum sentido
traçado
e não há passos em
falso
até esses têm sentido
num amanhã ainda
opaco.
Os ziguezagues que
fiz
não os dou por
incidentes
a desviar o meu rumo;
enquanto perdi o
tempo
ganhei ciência de
amá-lo
agora que vale a
pena.
Nenhum poder que
disperse
esta profunda
constância
de ser em cada
momento
aquele que sempre
teve
um só rosto verdadeiro.
E sempre nas minhas
veias
o mesmo calor do
sangue
e sempre o mesmo
horizonte
ainda que vago na
bruma
e esta sede sempre
viva
dum bem que sempre
ansiei.
Chuva em Floresta de Carvalhos
(Ivan Shishkin:
pintor russo)
Referência:
MONTEIRO, Casais. Unidade. In: AMORA,
Antônio Soares; MOISÉS, Massaud; SPINA, Segismundo (Orgs.). Presença da literatura portuguesa: história
e antologia. III. Simbolismo e Modernismo. São Paulo, SP: Difusão Europeia do
Livro, 1961. p. 281-282.
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