Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Basil Bunting - O que o diretor disse a Tom

Para o diretor presente no diálogo humorístico de Bunting, a poesia não passaria de um rematado desperdício de tempo e esforço, uma espécie de justificativa para não se ir em busca de efetivo trabalho.

Tem-se no poema uma hipotética cena em que o poeta se acha na posição de requisitar que o seu labor seja reconhecido como o trabalho de sua vida. Mas, ao fim, acaba por ser menosprezado pelo interlocutor, um contador, para quem o que Tom escreve é “lixo”, e um garoto de dez anos poderia fazer melhor.

Apesar de se pressupor, como já dito, que se trata de um diálogo, o poema não contém réplicas do poeta, que, como resposta, nos oferece o próprio poema, com sua temática a confrontar o mundo das finanças ao mundo das artes.

J.A.R. – H.C.

Basil Bunting
(1900-1985)

What the chairman told Tom

Poetry? It’s a hobby.
I run model trains.
Mr. Shaw there breeds pigeons.

It’s not work. You don’t sweat.
Nobody pays for it.
You could advertise soap.

Art, that’s opera; or repertory –
The Desert Song.
Nancy was in the chorus.

But to ask for twelve pounds a week –
married, aren’t you? –
you’ve got a nerve.

How could I look a bus conductor
in the face
if I paid you twelve pounds?

Who says it’s poetry, anyhow?
My ten year old
can do it and rhyme.

I get three thousand and expenses,
a car, vouchers,
but I’m an accountant.

They do what I tell them,
my company.
What do you do?

Nasty little words, nasty long words,
it’s unhealthy.
I want to wash when I meet a poet.

They’re Reds, addicts,
all delinquents.
What you write is rot.

Mr. Hines says so, and he’s a schoolteacher,
he ought to know.
Go and find work.

(1967)

Dois Jovens à Mesa
(Diego Velázquez: pintor espanhol)

O que o diretor disse a Tom
 
Poesia? É um hobby.
O meu são trens elétricos.
O sr. Shaw ali cria pombos.

Não é trabalho. Você não sua
a camisa. Ninguém paga.
Tente anunciar sabão.

Ópera é que é arte; ou o teatro.
A Canção do Deserto.
Nancy era do coro.

Mas pedir doze libras por semana
– casado, não? –
isso sim é ter peito.

Como vou encarar um cobrador
de ônibus
se lhe pagar doze libras?

Quem me garante, aliás, que é poesia?
Meu garoto de dez
pode fazer igual, e com rimas.

Tiro três mil mais despesas,
carro, benefícios,
mas sou um contador.

Fazem o que mando,
é minha firma.
Você, o que faz?

Palavrõezinhos, palavrõezinhos,
isso não faz bem.
Vejo um poeta e já quero me lavar.

Tudo comuna e viciado,
bando de delinquentes.
O que você escreve é lixo.

O sr. Hynes que me disse, ele entende
disso, é professor.
Anda, arruma trabalho.
 
Referência:

BUNTING, Basil. What the chairman told Tom / O que o diretor disse a Tom. In: ASCHER, Nelson (Tradução e Organização). Poesia alheia: 124 poemas traduzidos. Edição bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1998. Em inglês: p. 124 e 126; em português: p. 125-127 (Coleção ‘Lazuli’)

Nenhum comentário:

Postar um comentário