Para o diretor presente no diálogo humorístico de Bunting, a poesia não
passaria de um rematado desperdício de tempo e esforço, uma espécie de
justificativa para não se ir em busca de efetivo trabalho.
Tem-se no poema uma hipotética cena em que o poeta se acha na posição de
requisitar que o seu labor seja reconhecido como o trabalho de sua vida. Mas,
ao fim, acaba por ser menosprezado pelo interlocutor, um contador, para quem o
que Tom escreve é “lixo”, e um garoto de dez anos poderia fazer melhor.
Apesar de se pressupor, como já dito, que se trata de um diálogo, o
poema não contém réplicas do poeta, que, como resposta, nos oferece o próprio
poema, com sua temática a confrontar o mundo das finanças ao mundo das artes.
J.A.R. – H.C.
Basil Bunting
(1900-1985)
What the
chairman told Tom
Poetry? It’s a hobby.
I run model trains.
Mr. Shaw there breeds pigeons.
It’s not work. You don’t sweat.
Nobody pays for it.
You could advertise soap.
Art, that’s opera; or repertory –
The Desert Song.
Nancy was in the chorus.
But to ask for twelve pounds a week –
married, aren’t you? –
you’ve got a nerve.
How could I look a bus conductor
in the face
if I paid you twelve pounds?
Who says it’s poetry, anyhow?
My ten year old
can do it and rhyme.
I get three thousand and expenses,
a car, vouchers,
but I’m an accountant.
They do what I tell them,
my company.
What do you do?
Nasty little words, nasty long words,
it’s unhealthy.
I want to wash when I meet a poet.
They’re Reds, addicts,
all delinquents.
What you write is rot.
Mr. Hines says so, and he’s a schoolteacher,
he ought to know.
Go and find work.
(1967)
Dois Jovens à Mesa
(Diego Velázquez:
pintor espanhol)
O que o diretor disse a Tom
Poesia? É um hobby.
O meu são trens
elétricos.
O sr. Shaw ali cria
pombos.
Não é trabalho. Você
não sua
a camisa. Ninguém
paga.
Tente anunciar sabão.
Ópera é que é arte;
ou o teatro.
A Canção do Deserto.
Nancy era do coro.
Mas pedir doze libras
por semana
– casado, não? –
isso sim é ter peito.
Como vou encarar um
cobrador
de ônibus
se lhe pagar doze
libras?
Quem me garante,
aliás, que é poesia?
Meu garoto de dez
pode fazer igual, e
com rimas.
Tiro três mil mais
despesas,
carro, benefícios,
mas sou um contador.
Fazem o que mando,
é minha firma.
Você, o que faz?
Palavrõezinhos,
palavrõezinhos,
isso não faz bem.
Vejo um poeta e já
quero me lavar.
Tudo comuna e
viciado,
bando de delinquentes.
O que você escreve é
lixo.
O sr. Hynes que me
disse, ele entende
disso, é professor.
Anda, arruma
trabalho.
Referência:
BUNTING, Basil. What the chairman told Tom / O que o diretor disse a Tom. In: ASCHER,
Nelson (Tradução e Organização). Poesia
alheia: 124 poemas traduzidos. Edição bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: Imago,
1998. Em inglês: p. 124 e 126; em português: p. 125-127 (Coleção ‘Lazuli’)
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