Um breve poema chinês, que é uma sensibilidade só: em interação com a
natureza, o poeta percebe o fenecimento da beleza nas pétalas das flores que
caem e, para atenuar a tristeza que lhe sobrevém, traga um pouco de vinho,
porque é preciso se dar um pouco de prazer.
Du Fu deplora a fama, ao argumento de que ela imobiliza o corpo, ou
melhor, faz o ser humano nela confiar e deixar de cumprir até o fim a sua
missão. Não é mais possível viver de ilusões, poder-se-ia inferir de suas
palavras.
J.A.R. – H.C.
Du Fu
(712 d.C. - 770 d.C.)
曲江二首(其一)
一片花飞减却春,
风飘万点正愁人。
且看欲尽花经眼,
莫厌伤多酒入唇。
江上小堂巢翡翠,
苑边高冢卧麒麟。
细推物理须行乐,
何用浮名绊此身。
Rio Sinuoso
(Margy Foertsch:
pintora norte-americana)
O Rio Sinuoso
Uma pétala ao cair
encurta um pouco a beleza.
No vento, milhares
delas flutuam,
e consternado fico.
Em vez de olhar as
flores
que murcham diante de
meus olhos,
prefiro levar o vinho
aos lábios,
quando vem a tristeza
Em um pequeno
quiosque
na beira do rio
aninham-se
martins-pescadores.
Ao longo do parque,
diante dos altos
túmulos,
desabaram os
unicórnios.
Se observamos a lei
das coisas,
sabemos que é preciso
se dar prazer.
Por que o desejo de
ser famoso
se a fama apenas imobiliza
o corpo?
Referência:
FU, Du. 曲江二首(其一)/ O rio sinuoso (1). In: __________. Poemas
clássicos chineses: Li Bai, Du Fu e Wang Wei. Edição bilíngue. Tradução e
organização de Sérgio Capparelli e Sun Yuqi. Prefácio de Leonardo Fróes. Porto
Alegre, RS: L&PM, 2012. Em chinês: p. 124; em português: p. 125. (Coleção ‘L&PM
Pocket’; v. 1.048)
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário