Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Joachim Du Bellay - A Ideia

Um soneto permeado de petrarquismo – pela dose de amor inacessível a este mundo – e platonismo – firmado na concepção de beleza idealizada, da qual temos apenas reminiscências de sua ideia mais pura: Du Bellay, sob tais influências, se esmera em elucubrações sobre a passagem do tempo e o “memento mori”.

O plano do soneto retrata clara progressão de imagens em oposição, dos quartetos aos tercetos: os primeiros concentram-se nas desafortunadas experiências terrenas; já os últimos avançam às perfeições do mundo ideal.

J.A.R. – H.C.

Joachim Du Bellay
(1522-15560)

L’Idée

Si nostre vie est moins qu’une journée
Dans l’éterne, si l’an qui faict le tour
Chasse nos jours sans espoir de retour,
Si perissable est toute chose née,

Que songes-tu, mon ame emprisonée?
Pourquoy te plaist l’obscur de nostre jour,
Si pour voler en un plus cler sejour,
Tu as au dos l’aele bien empanée?

La est le bien que tout esprit desire,
La, le repos ou tout le monde aspire.
La est l’amour, la, le plaisir encor.

La, ô mon ame, au plus hault ciel guidée,
Tu y pourras recongnoistre l’Idée
De la Beauté, qu’en ce monde j’adore.

Mulher à beira d’água
(Charles James Theriat: pintor norte-americano)

A Ideia

Se é, no eterno, menor que uma jornada
A vida, se o ano que ora principia
Nos rouba inexorável cada dia,
Se é perecível cada coisa nada,

Com que tu sonhas, alma aprisionada?
Por que te apraz a nossa luz sombria,
Se para voar à proteção sadia
Tens em teu dorso uma asa afeiçoada?

Lá mora o bem que o espírito deseja,
Lá, o repouso que o universo almeja,
Lá está o amor, e lá o prazer demora.

Lá poderás, ao céu mais alto erguida,
A Ideia ver por fim reconhecida
Do Belo que no mundo, ó alma, adoro.

Referência:

BELLAY, Joachim Du. L’idée / A ideia. In: RIVERA, José Jeronymo (Organização e Tradução). Poesia francesa: pequena antologia bilíngue. 2. ed. Brasília, DF: Thesaurus, 2005. Em francês: p. 32; em português: p. 33.

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