Um soneto permeado de petrarquismo – pela dose de amor inacessível a
este mundo – e platonismo – firmado na concepção de beleza idealizada, da qual
temos apenas reminiscências de sua ideia mais pura: Du Bellay, sob tais
influências, se esmera em elucubrações sobre a passagem do tempo e o “memento
mori”.
O plano do soneto retrata clara progressão de imagens em oposição, dos
quartetos aos tercetos: os primeiros concentram-se nas desafortunadas
experiências terrenas; já os últimos avançam às perfeições do mundo ideal.
J.A.R. – H.C.
Joachim Du Bellay
(1522-15560)
L’Idée
Si nostre vie est
moins qu’une journée
Dans l’éterne, si l’an qui faict le tour
Chasse nos jours sans
espoir de retour,
Si perissable est
toute chose née,
Que songes-tu, mon
ame emprisonée?
Pourquoy te plaist l’obscur
de nostre jour,
Si pour voler en un
plus cler sejour,
Tu as au dos l’aele
bien empanée?
La est le bien que tout esprit desire,
La, le repos ou tout
le monde aspire.
La est l’amour, la,
le plaisir encor.
La, ô mon ame, au plus hault ciel guidée,
Tu y pourras
recongnoistre l’Idée
De la Beauté, qu’en
ce monde j’adore.
Mulher à beira d’água
(Charles James
Theriat: pintor norte-americano)
A Ideia
Se é, no eterno,
menor que uma jornada
A vida, se o ano que
ora principia
Nos rouba inexorável
cada dia,
Se é perecível cada
coisa nada,
Com que tu sonhas,
alma aprisionada?
Por que te apraz a
nossa luz sombria,
Se para voar à
proteção sadia
Tens em teu dorso uma
asa afeiçoada?
Lá mora o bem que o
espírito deseja,
Lá, o repouso que o
universo almeja,
Lá está o amor, e lá
o prazer demora.
Lá poderás, ao céu
mais alto erguida,
A Ideia ver por fim
reconhecida
Do Belo que no mundo,
ó alma, adoro.
Referência:
BELLAY, Joachim Du. L’idée / A ideia. In:
RIVERA, José Jeronymo (Organização e Tradução). Poesia francesa: pequena antologia bilíngue. 2. ed. Brasília, DF:
Thesaurus, 2005. Em francês: p. 32; em português: p. 33.
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