A obra “El motivo es el poema” (1976), de Girri, constitui um acervo
completo sobre as suas concepções de como a poesia há de ser encarada, vale
dizer, qual testemunho subjacente da emoção e, em paralelo, expressivo modo de
se refletir sobre o próprio processo de criação estética: “que o poema se
conduza na mente como um experimento em uma ciência natural”.
Vê-se no poema abaixo, que Girri deplora da concepção de que o poema
assoma à mente do poeta como consequência dos favores das musas do Parnaso, as
quais proveriam a imprescindível inspiração para as manifestações da arte da
palavra.
J.A.R. – H.C.
Alberto Girri
(1919-1991)
El poema como idea de la poesía
Que la finalidad
sea provocar el
sentimiento
de las palabras,
y alcanzar
el desafío de la
expresión,
perseguir objetos
que se ajustan al
sentimiento,
hundirse en objetos
hasta la emoción
adecuada,
está probado,
y tanto, probado y
probado,
como no lo está
el que en esos
tránsitos
la tendencia madre
sea
por dónde va la
inspiración,
“si en frío o en
caliente”, (*)
y no lo está
que haya que seguir a
Homero
entre las Musas, su
rogar que lo asistan,
y a Platón
saludando hermosos
versos
más en mediocres pero
iluminados
que en sagaces y
hábiles exclusivamente
al amparo de sus
propias fuerzas,
y a Dante, el
reclamar
la intervención de
dioses
acaso sin creer en ellos:
O buono Apollo,
all’ultimo lavoro
fammi del tuo valor... (**)
Pero tampoco ninguna
terminante prueba
hacia lo opuesto,
que el poema
se conduzca en la
mente como un
experimento en una
ciencia natural,
y que la aptitud
combinatoria de la
mente sea
la solo inspiración
reconocible.
De: “El motivo es el poema” (1976)
Inspiração da Beleza
(Leonid Afremov:
pintor israelense)
O poema como ideia da poesia
Que a finalidade
seja provocar o
sentimento
das palavras,
e alcançar
o desafio da
expressão,
perseguir propósitos
que se ajustam ao
sentimento,
afundar-se em
propósitos
até a emoção
adequada,
está provado,
e tanto, provado e
provado,
como não está
que nesses trânsitos
a pendência mãe seja
por onde vai a
inspiração,
“se em desalento ou em entusiasmo”,
e não o está
que haja que seguir
Homero
entre as Musas, sua
prece para ser assistido
e Platão
saudando belos versos
mais para medíocres
embora iluminados
e sagazes e hábeis
exclusivamente
graças às suas
próprias forças,
e Dante, ao exigir
a intervenção de
deuses
talvez sem acreditar
neles:
O buono Apollo, all’ultimo
lavoro
fammi del tuo valor...
Mas também nenhuma
terminante prova em
relação ao contrário,
que o poema
se conduza na mente
como um
experimento em uma
ciência natural,
e que a aptidão
combinatória da mente
seja
a única inspiração
reconhecível.
De: “O motivo é o poema” (1976)
Notas:
(*) Provável
referência ao poema “La Poesia”, de Eugenio Montale, que traduzimos nesta
postagem.
(**) Trecho
extraído ao Canto I da Terceira Parte (“Paraíso”) da “Divina Comédia”: “Nesta
última parte do meu trabalho, ó Apolo, nesta derradeira tarefa faze-me pleno de
virtude poética! Que meus versos mereçam tua preciosa aprovação”, invoca ali
Dante Alighieri (2002, p. 289).
Referências:
ALIGHIERI, Dante. A divina comédia. Tradução de Fábio M. Alberti. São Paulo, SP: Nova
Cultural, 2002.
GIRRI, Alberto. El poema como idea de
la poesía / O poema como ideia da poesia. Tradução de Bella Jozef. In: JOZEF, Bella (Seleção, Prefácio e
Tradução). Poesia argentina:
1940-1960. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Iluminuras, 1990. Em Espanhol: p. 90
e 92; em português: 91 e 93.
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