Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Alberto Girri - O poema como ideia da poesia

A obra “El motivo es el poema” (1976), de Girri, constitui um acervo completo sobre as suas concepções de como a poesia há de ser encarada, vale dizer, qual testemunho subjacente da emoção e, em paralelo, expressivo modo de se refletir sobre o próprio processo de criação estética: “que o poema se conduza na mente como um experimento em uma ciência natural”.

Vê-se no poema abaixo, que Girri deplora da concepção de que o poema assoma à mente do poeta como consequência dos favores das musas do Parnaso, as quais proveriam a imprescindível inspiração para as manifestações da arte da palavra.

J.A.R. – H.C.

Alberto Girri
(1919-1991)

El poema como idea de la poesía

Que la finalidad
sea provocar el sentimiento
de las palabras,
y alcanzar
el desafío de la expresión,
perseguir objetos
que se ajustan al sentimiento,
hundirse en objetos
hasta la emoción adecuada,
está probado,
y tanto, probado y probado,
como no lo está
el que en esos tránsitos
la tendencia madre sea
por dónde va la inspiración,
“si en frío o en caliente”, (*)
y no lo está
que haya que seguir a Homero
entre las Musas, su rogar que lo asistan,
y a Platón
saludando hermosos versos
más en mediocres pero iluminados
que en sagaces y hábiles exclusivamente
al amparo de sus propias fuerzas,
y a Dante, el reclamar
la intervención de dioses
acaso sin creer en ellos:
O buono Apollo, all’ultimo lavoro
fammi del tuo valor... (**)

Pero tampoco ninguna
terminante prueba hacia lo opuesto,
que el poema
se conduzca en la mente como un
experimento en una ciencia natural,
y que la aptitud
combinatoria de la mente sea
la solo inspiración reconocible.

De: “El motivo es el poema” (1976)

Inspiração da Beleza
(Leonid Afremov: pintor israelense)

O poema como ideia da poesia

Que a finalidade
seja provocar o sentimento
das palavras,
e alcançar
o desafio da expressão,
perseguir propósitos
que se ajustam ao sentimento,
afundar-se em propósitos
até a emoção adequada,
está provado,
e tanto, provado e provado,
como não está
que nesses trânsitos
a pendência mãe seja
por onde vai a inspiração,
“se em desalento ou em entusiasmo”,
e não o está
que haja que seguir Homero
entre as Musas, sua prece para ser assistido
e Platão
saudando belos versos
mais para medíocres embora iluminados
e sagazes e hábeis exclusivamente
graças às suas próprias forças,
e Dante, ao exigir
a intervenção de deuses
talvez sem acreditar neles:
O buono Apollo, all’ultimo lavoro
fammi del tuo valor...

Mas também nenhuma
terminante prova em relação ao contrário,
que o poema
se conduza na mente como um
experimento em uma ciência natural,
e que a aptidão
combinatória da mente seja
a única inspiração reconhecível.

De: “O motivo é o poema” (1976)

Notas:

(*) Provável referência ao poema “La Poesia”, de Eugenio Montale, que traduzimos nesta postagem.

(**) Trecho extraído ao Canto I da Terceira Parte (“Paraíso”) da “Divina Comédia”: “Nesta última parte do meu trabalho, ó Apolo, nesta derradeira tarefa faze-me pleno de virtude poética! Que meus versos mereçam tua preciosa aprovação”, invoca ali Dante Alighieri (2002, p. 289).

Referências:

ALIGHIERI, Dante. A divina comédia. Tradução de Fábio M. Alberti. São Paulo, SP: Nova Cultural, 2002.

GIRRI, Alberto. El poema como idea de la poesía / O poema como ideia da poesia. Tradução de Bella Jozef. In: JOZEF, Bella (Seleção, Prefácio e Tradução). Poesia argentina: 1940-1960. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Iluminuras, 1990. Em Espanhol: p. 90 e 92; em português: 91 e 93.

Nenhum comentário:

Postar um comentário