O poeta distingue uma forma palpável de silêncio, cremoso, tipo látex,
como uma espécie de luxo experimentado em sonhos. Um silêncio que se mescla
moderadamente com porções de verde, advindas das árvores frequentadas por
pássaros.
Sobressai no poema de Ryan a mistura iniludível de elementos sonoros –
ou melhor, de sua postulada ausência –, com outros visuais, de forte impacto,
pois quando o lemos, ficamos com a sensação remanente das cores em nossas
retinas.
J.A.R. – H.C.
Kay Ryan
(n. 1945)
A Palpable
Silence
What is as delightful
as a palpable silence,
a creamy latex of a
silence, stirrable
with a long stick. Such
a silence is particularly
thick at the bottom, a
very smooth lotion, like
good paint by the gallon.
This is a base silence,
colored only by addition,
say a small squeeze of
green when the bird sings
idly of trees he has
seen. It is a clean
silence, the kind that
does not divide us,
like dreams it is
viscous but like good dreams
where sweet things last and
last past credibility.
Even in the dream we know
it is a luxury.
A Casa Ensolarada
(Raynald Leclerc:
pintor canadense)
Um Silêncio Palpável
O que é tão delicioso
quanto um palpável
silêncio,
um látex cremoso de
silêncio, que se
mescla
com uma haste longa?!
Tal
silêncio é
particularmente
espesso no fundo, uma
loção muito suave, como
boa tinta
comercializada por galão.
Trata-se de um
silêncio base,
apenas colorido pela
adição,
digamos, de um pequeno
gotejo de
verde quando um
pássaro canta
indolentemente no
alto das árvores
com que depara. É um
silêncio
limpo, do tipo que
não nos divide,
viscoso como
os sonhos, mas como
bons sonhos
nos quais as coisas
doces subsistem
muito além da
credibilidade.
Inclusive no sonho reconhecemos
que ele é um luxo.
Referência:
RYAN, Kay. A palpable silence. In: LINDNER, April (Ed.). Líneas conectadas: nueva poesía de los
Estados Unidos. Edición
bilingüe: Inglés - Español. 1st. ed. Louisville, KY: Sarabande Books, 2006. p.
2.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário