Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 10 de setembro de 2016

Ribeiro Couto - Surdina

O poeta reconhece que sua poesia não se estabelece por meio de sobressaltos ou de arroubos de eloquência, senão pela via da discrição e do comedimento, de forma a cativar o leitor pelo equilíbrio de suas linhas.

Se a quietude for uma tendência de espírito do escritor, refletida em suas poesias, nos parece algo invulgar que tenha se tornado também diplomata, porquanto de um representante com tal estirpe, o mínimo que se exige é extroversão e habilidades com a palavra escrita e falada. Ou será que conjecturamos falsamente?

J.A.R. – H.C.

Ribeiro Couto
(1898-1963)

Surdina

Minha poesia é toda mansa.
Não gesticulo, não me exalto...
Meu tormento sem esperança
tem o pudor de falar alto.

No entanto, de olhos sorridentes,
assisto, pela vida em fora,
à coroação dos eloquentes.
É natural: a voz sonora
inflama as multidões contentes.

Eu, porém, sou da minoria.
Ao ver as multidões contentes
penso, quase sem ironia:
“Abençoados os eloquentes
que vos dão toda essa alegria.”

Para não ferir a lembrança
minha poesia tem cuidados...
E assim é tão mansa, tão mansa,
que pousa em corações magoados
como um beijo numa criança.

De: “Poemetos de ternura e de melancolia” (1924)

Crepúsculo Calmo
(Darrell Bush: pintor norte-americano)

Referência:

COUTO, Ribeiro. Surdina. In: MILLIET, Sérgio (Seleção e Notas). Obras-primas da poesia universal. 3. ed. São Paulo, SP: Livraria Martins Editora, ago.1957. p. 367.

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