Na competente tradução de Augusto de Campos, o galês Dylan Thomas aparece
vertido neste poema à nossa “língua mátria”, para nos advertir sobre o absurdo
que representa um homem poderoso ser capaz de desencadear desastres para todo
um país ou à sua população.
A política contemporânea, com efeito, prodigaliza a guerra, mesmo a
despeito de todos os tratados e acordos internacionais visando preveni-la. Sob
tal ótica, o tema do poema parece não haver assomado de forma gratuita à mente
do poeta, se o apreciarmos do ponto de vista de quem, de perto, presenciou as
duas grandes guerras do séc. XX.
J.A.R. – H.C.
(1914-1953)
The hand that signed the paper felled a city;
Five sovereign fingers taxed the breath,
Doubled the globe of dead and halved a country;
These five kings did a king to death.
The mighty hand leads to a sloping shoulder,
The finger joints are cramped with chalk;
A gooses quill has put an end to murder
That put an end to talk.
The hand that signed the treaty bred a fever,
And famine grew, and locusts carne;
Great is the hand the holds dominion over
Man by a scribbled name.
The five kings count the dead but do not soften
The crusted wound nor pat the brow;
A hand rules pity as a hand rules heaven;
Hands have no tears to flow.
(1933)
(John Christen Johansen: pintor dinamarquês)
A mão que assina o ato assassina a
cidade
A mão que assina o
ato assassina a cidade.
Cinco dedos reais
taxam o ar – é a lei.
Cevam o morticínio e
ceifam um país;
Os cinco reis que dão
cabo de um rei.
A mão que manda mana
de um ombro em declínio,
Cãibras deduram nós
nos dedos que a cal cala.
Penas de ganso firmam
o assassínio
Que pôs fim a uma
fala.
A mão que assina o
pacto traz a peste,
Praga e devastação, o
gafanhoto e a fome;
Grande é a mão que
pesa sobre o homem
Ao rabisco de um
nome.
Os cinco reis contam
os mortos mas não curam
A crosta da ferida e
o rosto já sem cor.
A mão rege a
clemência como a outra os céus.
Mãos não têm lágrimas
a expor.
(1933)
Referência:
THOMAS, Dylan. The hand that signed the paper felled a city / A mão que assina o ato
assassina a cidade. Tradução de Augusto de Campos. In: CAMPOS, Augusto (Seleção
e Tradução). Poesia da recusa. São
Paulo, SP: Perspectiva, 2006. Em inglês: p. 332; em português: p. 333. (‘Signos’;
v. 42)
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