Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Dylan Thomas - A mão que assina o ato assassina a cidade

Na competente tradução de Augusto de Campos, o galês Dylan Thomas aparece vertido neste poema à nossa “língua mátria”, para nos advertir sobre o absurdo que representa um homem poderoso ser capaz de desencadear desastres para todo um país ou à sua população.

A política contemporânea, com efeito, prodigaliza a guerra, mesmo a despeito de todos os tratados e acordos internacionais visando preveni-la. Sob tal ótica, o tema do poema parece não haver assomado de forma gratuita à mente do poeta, se o apreciarmos do ponto de vista de quem, de perto, presenciou as duas grandes guerras do séc. XX.

J.A.R. – H.C.

Dylan Thomas
(1914-1953)

The hand that signed the paper felled a city

The hand that signed the paper felled a city;
Five sovereign fingers taxed the breath,
Doubled the globe of dead and halved a country;
These five kings did a king to death.

The mighty hand leads to a sloping shoulder,
The finger joints are cramped with chalk;
A gooses quill has put an end to murder
That put an end to talk.

The hand that signed the treaty bred a fever,
And famine grew, and locusts carne;
Great is the hand the holds dominion over
Man by a scribbled name.

The five kings count the dead but do not soften
The crusted wound nor pat the brow;
A hand rules pity as a hand rules heaven;
Hands have no tears to flow.

(1933)

Assinatura do Tratado de Versalhes
(John Christen Johansen: pintor dinamarquês)

A mão que assina o ato assassina a cidade

A mão que assina o ato assassina a cidade.
Cinco dedos reais taxam o ar – é a lei.
Cevam o morticínio e ceifam um país;
Os cinco reis que dão cabo de um rei.

A mão que manda mana de um ombro em declínio,
Cãibras deduram nós nos dedos que a cal cala.
Penas de ganso firmam o assassínio
Que pôs fim a uma fala.

A mão que assina o pacto traz a peste,
Praga e devastação, o gafanhoto e a fome;
Grande é a mão que pesa sobre o homem
Ao rabisco de um nome.

Os cinco reis contam os mortos mas não curam
A crosta da ferida e o rosto já sem cor.
A mão rege a clemência como a outra os céus.
Mãos não têm lágrimas a expor.

(1933)
  
Referência:

THOMAS, Dylan. The hand that signed the paper felled a city / A mão que assina o ato assassina a cidade. Tradução de Augusto de Campos. In: CAMPOS, Augusto (Seleção e Tradução). Poesia da recusa. São Paulo, SP: Perspectiva, 2006. Em inglês: p. 332; em português: p. 333. (‘Signos’; v. 42)

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