Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Witter Bynner - Fantasma

Todos somos, de vez em quando, assaltados pelos espectros, quer de parentes, quer de pessoas conhecidas, próximas ou não, que já não pertencem à realidade desde mundo.

Há mesmo quem experimente vívidas sensações, como se os fantasmas estivessem sempre ao seu lado, conversando, exprimindo sentimentos, resgatando fatos de uma vida pregressa.

Histórias fantásticas, atravessadas pelas mais tormentosas fantasmagorias, existem aos montes: lembremo-nos desde já de “A Volta do Parafuso”, de Henry James, em cujo enredo se baseou o filme “Os Outros”, de 2001, de Alejandro Amenábar, com Nicole Kidman.

Ou mesmo, “Os Mortos”, conto de James Joyce, adaptado ao cinema em 1987, como “Os Vivos e os Mortos”, por ninguém menos que o grande cineasta norte-americano John Huston. E por aí vai.

Mas bem aqui, no centro desta postagem, o que temos é um intrigante poema sobre os fantasmas e o poder que manifestam ao “se fundir aos usos da vida que deixam para trás”. Todos eles em volta da mesa de jantar, para marcar presença entre os vivos que teimam em ignorá-los...

J.A.R. – H.C.

Witter Bynner
(1881-1968)

Ghost

He rises from his guests, abruptly leaves,
Because of memory that long moons ago
Others now dead had dined with him, and grieves
Because these newer persons he must know
Might not have loved his ghosts, his unknown dead.
There are new smiles, new answers to his quips;
But there are intervals when, having said
His dinner-table say, he hears dead lips...
The dead have ways of mingling in the uses
Of life they leave behind, the dead can rise
When dinner’s done. But one of them refuses
To go away and gazes with dead eyes
Piercing him deeper than a rain can reach,
Leaving him only motion, only speech.

Fantasmas de Desejos Passados
(Philip Sugden: artista inglês)

Fantasma

Ele se ergue de seus hóspedes, abruptamente parte,
Por causa da memória de outros que, longas luas atrás,
Haviam com ele ceado, e se aflige
Porque essas novas pessoas, ele deve saber,
Podem não ter amado seus fantasmas, seus mortos desconhecidos.
Há novos sorrisos, novas respostas para seus gracejos;
Mas há intervalos nos quais, ao enunciar
O mesmo que sua mesa de jantar afirma, ele ouve lábios defuntos...
Os mortos têm meios de se fundir aos usos
Da vida que deixam para trás, os mortos até podem
Levantar-se quando o jantar está pronto. Mas um deles se nega
A ir embora e o fita com olhos inertes
Penetrando-o mais agudamente do que uma chuva é capaz de o fazer,
Deixando-lhe somente o movimento, apenas a fala.

Referência:

BYNNER, Witter. Ghost. In: AIKEN, Conrad (Ed.). Twentieth-century american poetry. New York (NY): The Modern Library - Random House Inc., 1944. p. 112.

Nenhum comentário:

Postar um comentário