Este poema é um desconcerto: os poetas, não sei ao certo com quais
poderes, capacitam-se a nos desorientar com as suas metáforas! E a metáfora
aqui se relaciona ao mito de que o avestruz enterra a cabeça no solo quando pressente
algum perigo. Pura balela: ele sai mesmo em disparada, como a maioria dos
animais em idênticas situações!
Mas pouco importa: o poeta, imitando a ave, procura se esconder na
própria poesia, na perspectiva de que ninguém a lê. Será mesmo? Penso que não,
até pela boa audiência deste blog, que aponta pra a direção contrária (rs).
J.A.R. – H.C.
António Manuel Couto Viana
(n. 1923)
O Avestruz Lírico
Avestruz:
O sarcasmo de duas
asas breves
(Ânsia frustrada de
espaço e luz,
De coisas frágeis,
líricas, leves);
Patas afeitas ao chão;
Voar? Até onde o
pescoço dá.
Bicho sem
classificação:
Nem cá, nem lá.
Isto sou (Dói-me a
ironia
– Pudor nem eu sei de
quê).
Daí a absurda
fantasia
De me esconder na
poesia,
Por crer que ninguém
a lê.
Em: “O Avestruz Lírico”
Conversa de Avestruzes
(Steve Morvell:
artista australiano)
Referência:
VIANA, António Manuel Couto. O avestruz
lírico. In: COSTA E SILVA, Alberto da; BUENO, Alexei (orgs.). Antologia da poesia portuguesa
contemporânea: um panorama. Rio de Janeiro: Lacerda, 1999. p. 143.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário