Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 27 de outubro de 2015

António Manuel Couto Viana - O Avestruz Lírico

Este poema é um desconcerto: os poetas, não sei ao certo com quais poderes, capacitam-se a nos desorientar com as suas metáforas! E a metáfora aqui se relaciona ao mito de que o avestruz enterra a cabeça no solo quando pressente algum perigo. Pura balela: ele sai mesmo em disparada, como a maioria dos animais em idênticas situações!

Mas pouco importa: o poeta, imitando a ave, procura se esconder na própria poesia, na perspectiva de que ninguém a lê. Será mesmo? Penso que não, até pela boa audiência deste blog, que aponta pra a direção contrária (rs).

J.A.R. – H.C.

António Manuel Couto Viana
(n. 1923)

O Avestruz Lírico

Avestruz:
O sarcasmo de duas asas breves
(Ânsia frustrada de espaço e luz,
De coisas frágeis, líricas, leves);

Patas afeitas ao chão;
Voar? Até onde o pescoço dá.
Bicho sem classificação:
Nem cá, nem lá.

Isto sou (Dói-me a ironia
– Pudor nem eu sei de quê).
Daí a absurda fantasia
De me esconder na poesia,
Por crer que ninguém a lê.

Em: “O Avestruz Lírico”

Conversa de Avestruzes
(Steve Morvell: artista australiano)

Referência:

VIANA, António Manuel Couto. O avestruz lírico. In: COSTA E SILVA, Alberto da; BUENO, Alexei (orgs.). Antologia da poesia portuguesa contemporânea: um panorama. Rio de Janeiro: Lacerda, 1999.  p. 143.

Nenhum comentário:

Postar um comentário