Sob a forma de soneto, o lusitano Anthero de Quental tece loas à razão.
Ela mesma que, segundo Pascal, desconhece as razões do coração. Ela mesma que é
refém de si própria, quando passamos a vida a procurar razões capazes de
justificar atos e fatos inexplicáveis.
Anthero vislumbra a permanência da própria poesia nos fundamentos da
razão. Ela seria, ademais, o motivo esclarecedor para abraçarmos a liberdade
como valor, na medida em que depositamos fé em nosso livre arbítrio. Para a
ventura de uma vida que se espera plena e virtuosa.
J.A.R. – H.C.
Anthero de Quental
(1842-1891)
Hino à Razão
Razão, irmã do Amor e
da Justiça,
Mais uma vez escuta a
minha prece
É a voz dum coração
que te apetece,
Duma alma livre, só a
ti submissa.
Por ti é que a poesia
movediça
De astros e sóis e
mundos permanece;
E é por ti que a
virtude prevalece,
E a flor do heroísmo
medra e viça.
Por ti, na arena
trágica, as nações
Buscam a liberdade,
entre clarões;
E os que olham o
futuro e cismam, mudos,
Por ti, podem sofrer
e não se abatem
Mãe de filhos
robustos, que combatem
Tendo o teu nome
escrito em seus escudos!
Julieta
(Frank Bernard Dicksee: pintor inglês)
Referência:
QUENTAL, Antero de. Hino à razão. In:
__________. Poesia e prosa. 4. ed.
Rio de Janeiro: Agir, 1972. p. 38.
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