Como devem ser selecionadas as palavras que tomarão parte num determinado
poema? Será que existem “receitas de bolo” capazes de dar forma e conteúdo a um
belo poema? Ou o mais importante é a ideia, o sentimento, a ponderação que se deseja
explicitar?
Mas se tudo isso puder ser reduzido a um poema, o que diríamos? Então
vamos a ele: o poeta francês André Frénaud sugere que as palavras de um poema
sejam como grãos triturados na boca de um rato, ou como os grãos
ordenados e ajustados em uma espiga! O restante se encontra na prescrição a
seguir. Quem quiser, ou for capaz, que proponha outros preceitos!
J.A.R. – H.C.
André Frénaud
(1907-1993)
Les Paroles du Poème
Si mince
l’anfractuosité d’où sortait la voix,
si exténuant
l’édifice entrevu,
si brûlants sont les
monstres, terrible l’harmonie,
si lointain le
parcours, si aiguë la blessure
et si gardée la nuit.
Il faudrait qu’elles fussent justes et ambiguës,
jamais rencontrées,
évidentes, reconnues,
sorties du ventre,
retenues, sorties,
serrées comme des grains dans la bouche d’un rat,
serrées, ordonnées
comme les grains dans l’épi,
secrètes comme est
l’ordre
que font luire
ensemble les arbres du paradis,
les paroles du poème.
Icebergs Enamorados
(Rebecca Chaperon:
artista inglesa)
As Palavras do Poema
Se estreita a fenda
de onde saiu a voz,
Se extenuante o
edifício vislumbrado,
Se abrasadores são os
monstros, terrível a harmonia,
Se longo o percurso,
se aguda a ferida
E se velada é a
noite.
Urge que elas sejam
oportunas e ambíguas
Jamais encontradas,
evidentes, reconhecidas,
saídas do ventre,
retidas, saídas,
contraídas como grãos
na boca de um rato,
contraídas, ordenadas
como os grãos de uma espiga,
secretas como é a
ordem
que faz reluzir todas
as árvores do paraíso,
as palavras do poema.
Referência:
FRÉNAUD, André. Les paroles du poème. In: CAWS, Mary Ann (Ed.). The Yale anthology of twentieth-century
french poetry. A bilingual anthology (French-English). New Haven &
London: Yale University Press, 2004. p. 310.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário