Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 4 de outubro de 2015

Olga Arias - Êxodo

De repente, ao ler e reler este encantador poema da poetisa mexicana Olga Arias, tive a sensação de que ela estivesse a sentir o frio implacável de uma estação de outono, real ou imaginária, exatamente ali onde o poeta – ou a poetisa, a bem dizer –, como qualquer ser humano, chega ao encontro e ao reconhecimento de seus limites, existenciais que sejam, os quais passam da verbalização ao sentimento, calando fundo em seu espírito.

Fogem as palavras, há um êxodo delas, e o que a poetisa de fato está distinguindo, bem à sua frente, é o passamento, em que nem palavras nem memória resistem à passagem erosiva do tempo: “o resto é silêncio”, diria Hamlet!

J.A.R. – H.C.

Olga Arias
(1923-1994)

Éxodo

Algún día emigrarán las palabras de mis labios
y me quedaré unida al silencio.
Seré una voz que se ha ido
y quizá solloce en el eco.
Este mirar a las nubes en su trágico éxodo
caminando hasta un horizonte
que no alcanzan mis ojos,
que no tocan mis dedos.
Este sentir a los días fluyendo y filtrándose
por labios y caminos de infinito
hacia sitios que no puedo soñar siquiera:
pone en mis pensamientos campanas lentas y graves,
pasos dolorosos que caen como esas hojas de otoño
que el viento abandona en la agonía de los parques.
Quisiera apresar un momento,
un solo momento en la red de mis versos,
quisiera quedarme en el capullo de una palabra,
pero voy con mis horas en el éxodo
de la existencia, pensando y trazando
con mis pasos una vereda
que el viento arrastra al olvido del tiempo.

Nevoeiro de Outono
(Leonid Afremov: artista israelense)

Êxodo

Algum dia emigrarão as palavras de meus lábios
e me encontrarei unida ao silêncio.
Será uma voz que ter-se-á ido
e talvez soluce no eco.
Este contemplar as nuvens em seu trágico êxodo
caminhando até um horizonte
que meus olhos não alcançam,
que meus dedos não tocam.
Este sentir os dias fluindo e filtrando-se
por lábios e caminhos de infinito
até lugares que não posso sequer sonhar:
põe em meus pensamentos sinos lentos e graves,
passos dolorosos que caem como essas folhas de outono
que o vento abandona na agonia dos parques.
Quisera capturar um momento,
um só momento na rede de meus versos,
quisera manter-me no casulo de uma palavra,
porém vou com minhas horas no êxodo
da existência, pensando e traçando
com meus passos uma vereda
que o vento arrasta ao olvido do tempo.

Referência:

ARIAS, Olga. Éxodo. In: KASTEN, Alfonso Larrahona (Org.). Poetas hispanoamericanos para el tercer milenio. México, A.C.: Ediciones Del Frente de Afirmación Hispanista; Valparaíso, CH: Correo de la Poesia; 1993. p. 10.

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