De repente, ao ler e reler este encantador poema da poetisa mexicana
Olga Arias, tive a sensação de que ela estivesse a sentir o frio implacável de
uma estação de outono, real ou imaginária, exatamente ali onde o poeta – ou a
poetisa, a bem dizer –, como qualquer ser humano, chega ao encontro e ao reconhecimento
de seus limites, existenciais que sejam, os quais passam da verbalização ao
sentimento, calando fundo em seu espírito.
Fogem as palavras, há um êxodo delas, e o que a poetisa de fato está distinguindo,
bem à sua frente, é o passamento, em que nem palavras nem memória resistem à
passagem erosiva do tempo: “o resto é silêncio”, diria Hamlet!
J.A.R. – H.C.
Olga Arias
(1923-1994)
Éxodo
Algún día emigrarán
las palabras de mis labios
y me quedaré unida al
silencio.
Seré una voz que se
ha ido
y quizá solloce en el
eco.
Este mirar a las
nubes en su trágico éxodo
caminando hasta un
horizonte
que no alcanzan mis
ojos,
que no tocan mis
dedos.
Este sentir a los
días fluyendo y filtrándose
por labios y caminos
de infinito
hacia sitios que no
puedo soñar siquiera:
pone en mis
pensamientos campanas lentas y graves,
pasos dolorosos que
caen como esas hojas de otoño
que el viento
abandona en la agonía de los parques.
Quisiera apresar un
momento,
un solo momento en la
red de mis versos,
quisiera quedarme en
el capullo de una palabra,
pero voy con mis
horas en el éxodo
de la existencia,
pensando y trazando
con mis pasos una
vereda
que el viento
arrastra al olvido del tiempo.
Nevoeiro de Outono
(Leonid Afremov: artista israelense)
Êxodo
Algum dia emigrarão
as palavras de meus lábios
e me encontrarei
unida ao silêncio.
Será uma voz que
ter-se-á ido
e talvez soluce no
eco.
Este contemplar as
nuvens em seu trágico êxodo
caminhando até um
horizonte
que meus olhos não
alcançam,
que meus dedos não
tocam.
Este sentir os dias fluindo
e filtrando-se
por lábios e caminhos
de infinito
até lugares que não
posso sequer sonhar:
põe em meus
pensamentos sinos lentos e graves,
passos dolorosos que
caem como essas folhas de outono
que o vento abandona
na agonia dos parques.
Quisera capturar um
momento,
um só momento na rede
de meus versos,
quisera manter-me no
casulo de uma palavra,
porém vou com minhas
horas no êxodo
da existência,
pensando e traçando
com meus passos uma
vereda
que o vento arrasta
ao olvido do tempo.
Referência:
ARIAS, Olga. Éxodo. In: KASTEN, Alfonso Larrahona (Org.). Poetas hispanoamericanos para el tercer
milenio. México, A.C.: Ediciones Del Frente de Afirmación Hispanista;
Valparaíso, CH: Correo de la Poesia; 1993. p. 10.
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