Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Carlos Latorre - Arte Poética

Um primor de poesia, atravessada pela mais genuína imaginação, põe-se a falar das circunstâncias e das consequências do labor poético – como tantas que neste bloguinho já postamos.

Mas este poema de Carlos Latorre, poeta argentino, vai mais longe em seu intento de elaboração, haja vista que se estende aos domínios da crítica, do “labirinto ontológico”, das “paisagens semânticas”. E tudo muito bem balanceado por arrebatadoras metáforas.

J.A.R. – H.C.

Carlos Latorre
(1916-1980)

Arte Poética

La palabra busca cielo como pájaro que cruza el
atardecer sin dejar canto ni estela,
frágil golondrina fugaz en busca del eerno verano,
que en ocasiones muere sepultada en nieve de invierno
de otro hemisferio.
La palabra se proyecta como alameda que Lanza
remota flecha de horizonte,
desdidachamente desmoronada a tiro de piedra.
En ocasiones cae en surco de vida fértil,
a veces hace pie en tierra árida,
u hondonada envuelta em bandera de niebla de
pantano pestífero.
Mas lo que se pudre no es su intención reveladora
sino su envoltura de mariposa fatalmente letal a
fuerza de libar venenoso concepto,
explorar hermético laberinto ontológico
o habitar falso reino ideatario.
La palabra describe paisaje semântico,
poças veces playa marítima,
vida viva,
follaje azul,
fuente de agua pura
ni otra belleza creada en sol de amanecer,
noche
o tarde de lluvia.
Cuando la palabra habla de amor suele amar sólo
su eco estético,
su canto de Onán obseso o propio ritimo;
más
mucho más que imagen corpórea
o analogia,
más que piel de mujer ya sea adolescente
inocente
o triste ramera.
Sin embargo la palabra es verbo, acción,
para-vida,
meta-lenguaje,
propia meta que algún día terminará por alcanzar
sabia
y desnuda,
de toda estúpida convención
o servilismo.

En: “Las ideas fijas”

Nascer do Sol pelo Oceano
(Vladimir Kush: pintor russo)

Arte Poética

A palavra procura o céu qual pássaro que atravessa
o entardecer sem deixar canto nem sulco,
frágil andorinha fugaz em busca do eterno verão,
que de vez em quando morre sepultada quando neva no inverno
de outro hemisfério.
A palavra se projeta como alameda que arremessa
remota flecha de horizonte,
infelizmente desmoronada com lance de pedra.
De vez em quando cai no sulco de vida fértil,
às vezes finca o pé em terra árida
ou depressão envolta em bandeiras de névoa do
pântano pestífero.
Mas o que apodrece não é sua intenção reveladora
mas sim sua envoltura de mariposa indefectivelmente letal
à força de libar venenoso conceito,
de explorar hermético labirinto ontológico
ou habitar falso reino idealizável.
A palavra descreve paisagens semânticas,
raras vezes praia marítima,
vida viva,
folhagem azul,
fonte de água pura
ou outra beleza criada no sol do amanhecer,
noite
ou tarde de chuva.
Quando a palavra fala de amor costuma amar apenas
seu eco estético,
seu canto de Onã obsesso ou o próprio ritmo;
mais
muito mais do que a imagem corpórea
ou analogia,
mais do que pele de mulher quer seja adolescente
inocente
ou triste prostituta.
Entretanto, a palavra Verbo, ação,
paravida
metalinguagem,
a própria meta que algum dia terminará por alcançar
sábia
e despojada,
de toda convenção estúpida
ou servilismo.

Em: “As ideias fixas”

Referência:

LATORRE, Carlos. Arte poetica / Arte poética. In: JOZEF, Bella (Seleção, Prefácio e Tradução). Poesia argentina: 1940-1960. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Iluminuras, 1990. Em Espanhol: p. 52 e 54; em português: 53 e 55.

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