A energia emocional contida neste poema
de Sylvia Plath é soberba, uma espécie de liberação em seu ofício. Compõe ele a
obra “Ariel”, a sua última antes do suicídio em 1963, embora somente publicada
dois anos depois.
Trata-se de um poema povoado por poucos
vestígios associados a pessoas, desde o momento em que se inicia, endereçado a
uma presumível ente amado, até a inflexão que se observa, do meio do poema para
frente, quando então tudo são ponderações abstratas que talvez reflitam o estado
emocional de momento de Sylvia.
A poesia é exatamente isso: um recurso para
superar, ou melhor, expandir os limites da linguagem, de forma a representar
uma dada experiência humana muitas vezes abstrata, outras tantas mundana, à luz
de um núcleo emocional intangível, mas inteligível – ou pelo menos
compreensível empaticamente.
Bem, se tal conceito de poesia seja
estranho ao que seja a própria poesia, pelo menos tentei visualizá-la dentro de
um padrão que desse conta das possíveis interpretações que o poema desta
postagem é capaz de desencadear...
J.A.R. – H.C.
Sylvia Plath
(1932-1963)
The night dances
A smile fell in the grass.
Irretrievable!
And how will your night dances
Lose themselves. In mathematics?
Such pure leaps and spirals −
Surely they travel
The world forever, I shall not entirely
Sit emptied of beauties, the gift
Of your small breath, the drenched grass
Smell of your sleeps, lilies, lilies.
Their flesh bears no relation.
Cold folds of ego, the calla,
And the tiger, embellishing itself −
Spots, and a spread of hot petals.
The comets
Have such a space to cross,
Such coldness, forgetfulness.
So your gestures flake off −
Warm and human, then their pink light
Bleeding and peeling
Through the black amnesias of heaven.
Why am I given
These lamps, these planets
Falling like blessings, like flakes
Six sided, white
On my eyes, my lips, my hair
Touching and melting.
Nowhere.
(6 November
1962)
Noite Dançante
(Margie Pye: artista
norte-americana)
A noite dança
Um sorriso caiu na relva.
Irrecuperável?
E como se perderam
Tuas danças noturnas?
Em matemáticas?
Esses puros saltos e
espirais –
Seguramente percorrem
O mundo para sempre,
não ficarei em absoluto
Sentada e vazia de
belezas, a dádiva
De teu pequeno
suspiro, a grama drenada
Olor de teus sonhos,
lírios e lírios.
Tua polpa não suporta
nenhuma relação.
Frias dobras do ego,
o copo-de-leite,
E a tigrídia
engalanando-se –
Pintas e uma difusão
de pétalas quentes.
Os cometas
Têm tanto espaço para
atravessar,
Tanta frieza, olvido.
Assim que teus gestos
se esfoliam –
Cálidos e humanos,
então a tua luz rosa
Sangra e descama
Ao longo das negras
amnésias do paraíso.
Por que sou eu
agraciada
Com essas lâmpadas,
esses planetas
Que caem como bênçãos,
como copos
Hexagonais, brancos
Sobre os meus olhos,
meus lábios, meu cabelo
Que se fundem ao
toque.
Em parte alguma.
Referência:
PLATH, Sylvia. The night dances. In: __________. The collected poems.
Edited by Ted Hughes. 4th ed. New York, NY: Harper & Row, 1981. p. 249-250.
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