Um poeta ainda aos vinte anos e já a sonhar com a eternidade. E se
considerarmos que Euclides morreu, de fato, ainda jovem, aos 43 anos, o poema
mais parece um vaticínio que se ratificaria pelo advento de seu trágico
falecimento.
São esses “mundos extintos” que perduram pelo tempo incomensurável, éons
a atravessar toda a história, a nos alertar que a finitude da vida humana muito
pouco representa nesse moto contínuo, nesse fluxo interminável de tudo quanto
existe.
J.A.R. – H.C.
Euclides da Cunha
(1866-1909)
Mundos Extintos
São tão remotas as estrelas que, apesar
da
vertiginosa velocidade da luz, elas se
apagam,
e continuam a brilhar durante séculos.
Morrem os mundos...
Silenciosa e escura,
Eterna noite
cinge-os. Mudas, frias,
Nas luminosas
solidões da altura
Erguem-se, assim,
necrópoles sombrias...
Mas, para nós, di-lo
a ciência, além perdura
A vida, e expande as
rútilas magias...
Pelos séculos em fora
a luz fulgura
Traçando-lhes as
órbitas vazias.
Meus ideais! extinta
claridade –
Mortos, rompeis,
fantásticos e insanos
Da minh’alma a
revolta imensidade...
E sois ainda todos os
enganos
E toda a luz, e toda
a mocidade
Desta velhice trágica
aos vinte anos...(*)
Histórias Silenciadas
(Joshua Meyer: artista
norte-americano)
Nota:
(*) O poema é datado de 1886 e o poeta
nasceu em 1866, momento em que, portanto, tem vinte anos.
Referência:
CUNHA, Euclides. Mundos extintos. In:
__________. Ondas. São Paulo: Martin
Claret, 2005. p. 67.
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