Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 24 de outubro de 2015

Euclides da Cunha - Mundos Extintos

Um poeta ainda aos vinte anos e já a sonhar com a eternidade. E se considerarmos que Euclides morreu, de fato, ainda jovem, aos 43 anos, o poema mais parece um vaticínio que se ratificaria pelo advento de seu trágico falecimento.

São esses “mundos extintos” que perduram pelo tempo incomensurável, éons a atravessar toda a história, a nos alertar que a finitude da vida humana muito pouco representa nesse moto contínuo, nesse fluxo interminável de tudo quanto existe.

J.A.R. – H.C.

Euclides da Cunha
(1866-1909)

Mundos Extintos

São tão remotas as estrelas que, apesar da
vertiginosa velocidade da luz, elas se apagam,
e continuam a brilhar durante séculos.

Morrem os mundos... Silenciosa e escura,
Eterna noite cinge-os. Mudas, frias,
Nas luminosas solidões da altura
Erguem-se, assim, necrópoles sombrias...

Mas, para nós, di-lo a ciência, além perdura
A vida, e expande as rútilas magias...
Pelos séculos em fora a luz fulgura

Traçando-lhes as órbitas vazias.
Meus ideais! extinta claridade –
Mortos, rompeis, fantásticos e insanos
Da minh’alma a revolta imensidade...

E sois ainda todos os enganos
E toda a luz, e toda a mocidade
Desta velhice trágica aos vinte anos...(*)

Histórias Silenciadas
(Joshua Meyer: artista norte-americano)

Nota:

(*) O poema é datado de 1886 e o poeta nasceu em 1866, momento em que, portanto, tem     vinte anos.

Referência:

CUNHA, Euclides. Mundos extintos. In: __________. Ondas. São Paulo: Martin Claret, 2005. p. 67.

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