Montale, o Nobel italiano de literatura (1975), diverte-se neste poema a
tratar da inspiração para se escrever poemas, ao afirmar que ela não diz
respeito à termostática, pois nada tem a dizer sobre o modo como se
manifesta nas criações dos poetas: se a frio ou a quente.
O fato é que Montale rejeita as regras pré-definidas, pois a poesia
surge nos momentos e sob as formas mais inesperadas, daí porque refuta com
horror os comentários dos exegetas sobre a matéria.
J.A.R. – H.C.
Eugenio Montale
(1896-1981)
La Poesia
I
L’angosciante
questione
se sia a freddo o a
caldo l’ispirazione
non appartiene alla scienza termica.
Il raptus non produce, il vuoto non conduce,
non c’è poesia al
sorbetto o al girarrosto.
Si tratterà piuttosto
di parole
molto importune
che hanno fretta di
uscire
dal forno o dal
surgelante.
Il fatto non è
importante. Appena fuori
si guardano d’attorno
e hanno l’aria di dirsi:
che sto a farci?
II
Con orrore
la poesia rifiuta
le glosse degli
scoliasti.
Ma non è certo che la
troppo muta
basti a se stessa
o al trovarobe che in
lei è inciampato
senza sapere di
esserne
l’autore.
“Satura” (1962-1970)
Paris
(Alexander Gunin:
pintor russo)
A Poesia
I
A angustiante questão
se a inspiração dá-se
a frio ou a quente
não concerne à
ciência térmica.
O êxtase não produz,
o vácuo não conduz,
não há poesia ao
sorvete ou à lenha.
Trata-se bem mais de
palavras
bastante importunas
com pressa para sair
do forno ou do
congelador.
O fato é de somenos
importância. Recém saídas
olham ao redor com ar
de quem diz:
que faço eu aqui?
II
Com horror
a poesia rejeita
as glosas dos
escoliastas.
Porém não é verdade que a grande muda
baste-se a si mesma
ou ao camareiro que
nela tem tropeçado
sem saber que é
o seu autor.
Referência:
MONTALE, Eugenio. La poesia. In:
__________. Satura. Traducción de María
Ángeles Cabré. Edición bilingüe (Italiano - Español). 1. ed. Barcelona, ES:
Icaria, 2000. p. 68-69.
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