Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Eugenio Montale - A Poesia

Montale, o Nobel italiano de literatura (1975), diverte-se neste poema a tratar da inspiração para se escrever poemas, ao afirmar que ela não diz respeito à termostática, pois nada tem a dizer sobre o modo como se manifesta nas criações dos poetas: se a frio ou a quente.

O fato é que Montale rejeita as regras pré-definidas, pois a poesia surge nos momentos e sob as formas mais inesperadas, daí porque refuta com horror os comentários dos exegetas sobre a matéria.

J.A.R. – H.C.

Eugenio Montale
(1896-1981)

La Poesia

I

L’angosciante questione
se sia a freddo o a caldo l’ispirazione
non appartiene alla scienza termica.
Il raptus non produce, il vuoto non conduce,
non c’è poesia al sorbetto o al girarrosto.
Si tratterà piuttosto di parole
molto importune
che hanno fretta di uscire
dal forno o dal surgelante.
Il fatto non è importante. Appena fuori
si guardano d’attorno e hanno l’aria di dirsi:
che sto a farci?

II

Con orrore
la poesia rifiuta
le glosse degli scoliasti.
Ma non è certo che la troppo muta
basti a se stessa
o al trovarobe che in lei è inciampato
senza sapere di esserne
l’autore.

“Satura” (1962-1970)

Paris
(Alexander Gunin: pintor russo)

A Poesia

I

A angustiante questão
se a inspiração dá-se a frio ou a quente
não concerne à ciência térmica.
O êxtase não produz, o vácuo não conduz,
não há poesia ao sorvete ou à lenha.
Trata-se bem mais de palavras
bastante importunas
com pressa para sair
do forno ou do congelador.
O fato é de somenos importância. Recém saídas
olham ao redor com ar de quem diz:
que faço eu aqui?

II

Com horror
a poesia rejeita
as glosas dos escoliastas.
Porém não é verdade que a grande muda
baste-se a si mesma
ou ao camareiro que nela tem tropeçado
sem saber que é
o seu autor.

Referência:

MONTALE, Eugenio. La poesia. In: __________. Satura. Traducción de María Ángeles Cabré. Edición bilingüe (Italiano - Español). 1. ed. Barcelona, ES: Icaria, 2000. p. 68-69.

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